quinta-feira, 13 de abril de 2017

Uma geração comprometida


Conheci esta jovem no emprego, 23 anos.
Pareceu simpática, de início. contou-me que a tatuagem de uma borboleta que tem no pulso representa a independência que atingiu aos 18 anos. (vão perceber que existe grande ironia nisto). Agora noto-lhe traços de algo que não me agrada muito.

Mas o mais importante e o que me leva a escrever sobre ela, foi uma conversa que tentamos ter hoje, durante a pausar de 15m a que temos direito. Perguntou-me ela (aliás, metralhou-me) há quanto tempo estava no país. Depois perguntou se vou cá ficar. E depois perguntou se não volto para o meu país. O interrogatório continuou com questões como «lá não há reforma?» e «não têm benefícios?». «Por exemplo, podes alegar que tens uma limitação de saúde e pagam-te um benefício?». 

Depois fez-me muitas perguntas sobre o estar a viver cá. "Gostas de dividir casa com outras pessoas?". "E em Portugal não dá?". "Como consegues pagar as contas?". Respondi-lhe, espantada: 
- "Trabalho. Ganho dinheiro." 
- "Eu também trabalho mas o dinheiro não me chega. Passei quatro dias em Londres e gastei-o todo".
- "Tens de controlar os teus gastos".

Ela responde-me que sempre gastou o dinheiro assim e eu volto a dizer-lhe que precisa de o gerir melhor. Ela responde-me que não. Ela vive com os pais, com casa em Londres, disse-me que paga apenas 50 libras por semana à mãe, mas não paga contas da luz, água, gás, internet ou a comida que come. E mesmo assim o dinheiro que ganha - o mesmo que eu, não lhe chega.

E é aqui que entra a «melhor» parte. Eu digo-lhe que não pode gastar mais do que tem e ela responde: 
- "Ai isso é que posso. O meu pai deu-me um cartão de débito e posso gastar mais do que tenho". 
-  "Mas não podes estar a contar com os teus pais para o teu sustento, eles não duram para sempre".
- " Não tenho de me preocupar. Os meus pais vão durar pelo menos mais 40 anos. Até lá..."

Os meus olhos abrem mais do que o seu tamanho normal. Ela tinha mesmo acabado de dizer com normalidade que contava explorar economicamente os pais por mais 40 anos??

-" É sério. Os meus pais ainda são novos. A minha mãe tem 45 anos. Vai viver pelo menos mais uns 40."
- "Sim, tomara mas... nunca se sabe. Não podes estar a contar com a ajuda deles".
- "Mas eles vão durar pelo menos 40 anos ou mais. A minha avó morreu com 101 anos, por isso..."

POBRES PAIS...
Sim, porque se por acaso forem ricos, vão ficar pobres num instante. Se é que já não estão. Têm uma filha que conta com a ajuda financeira deles por mais de 40 anos... A naturalidade com que ela disse esperar que os pais a sustentem, a forma como falou do cartão de débito dado pelo pai. Como se fosse algo comum como um pacote de pastilhas, como se pudesse realmente gastar o que lhe apetecesse. 

É ESTE TIPO DE mentalidade britânica que me faz temer o futuro deste país. Eu até lhe disse que, daqui a uns anos, se não controlar os seus gastos, depois vai ser uma daquelas pessoas velhotas que refila: "Malditos emigrantes, vêm para aqui roubar empregos!". 
-" Ah, não. Eu não sou assim" - diz ela.

Mas vai ser. Muitos deles estão a caminhar para isso. O Brexit é só a ponta do iceberg. E o resto vai aparecer daqui a muitos anos.



É que os jovens que conheci não demostram nenhuma simpatia por continuar os estudos. Dizem sempre que é muito caro - e pode até ser. Mas também oiço que o Estado ajuda. Depois ficas a pagar um «x» consoante o ordenado que ganhares. Os emigrantes aproveitam isto. Os nativos não.

Isto vai resultar numa inversão de poderes. Que já existe, aliás. Ou seja: vêm emigrantes tanto para trabalhar, quanto para estudar e conseguir melhores empregos. Já os ingleses, estão a deixar as escolas, não querem prosseguir os estudos alegando «o preço» e contam em gastar dinheiro que não têm.

Estão muito acomodados. Nasceram com tudo de mão beijada e sem que lhes seja exigido muitas responsabilidades - pelo menos é essa a vibração que sinto das pessoas jovens com que me cruzei. Não todas, felizmente, mas de uma forma generalizada.

Esta rapariga tirou um curso superior - disso-mo, quando lhe tentei explicar que tinha percebido que poucos jovens gostam de prosseguir os estudos. E se tirou, decerto que não foi para trabalhar onde está agora. Portanto já posso presumir que os pais - cansados dos seus gastos e frustados por os estudos pelos quais pagaram não resultarem em emprego remunerado - impuseram que ganhasse algum dinheiro. Mas se já a mimaram de outras formas e ainda lhe permitem que gaste tudo o que tem e mantêm um cartão de débito - então... qualquer tentativa poderá já vir tarde.


Sabem o que mais me chocou ver aqui no UK?
Um toddler. Sabem o que é um toddler? É a expressão que eles têm para designar uma criança que mal começou a andar. Estava esta criança a ser empurrada num carrinho de bebé, no jardim. E pergunta ela à mãe: "Where's my money?" "Mommy, I want my money", "Mummy, money!" "My money".
O rapaz procurava alguma moeda que lhe terão dado para as mãos. Dinheiro. Que deixou escorregar algures para o carrinho. Mas a forma como se fixou no dinheiro e o pronome possessivo... Fiquei chocada. A mãe, de início, ainda lhe respondeu: "O dinheiro está aí contigo". Mas à medida que a criança insistiu que o queria, a mãe ignorou-o. Como se tivesse adivinhado a minha surpresa. Eu preferia ter escutado a criança a pedir à mãe um brinquedo ou um boneco de peluche que tivesse deixado escorregar. Agora... dinheiro??

Se começar assim tão cedo, este facilitismo em receber dinheiro e o valorizar, então o UK terá, decerto, um grande iceberg debaixo das águas serenas... E a salvação está, mais uma vez, nos emigrantes.


É que as barreiras, criamos-nas nós.
O mundo é um só.
E estas gerações jovens do UK, não passaram por uma guerra, algumas sempre viveram em facilitismos, sem lhes exigirem que trabalhassem ou ganhassem responsabilidades em troca de terem tudo o que querem. Vão continuar a querer ser tratados de forma beneficiada e não vão ser. Vão alegar algum problema de saúde para viverem de benefícios do estado. E quem vai trabalhar? Os emigrantes :P

E a jovem que tatuou uma borboleta para representar a sua independência... precisou que os pais lha pagassem. Como ainda pagam muita coisa. Grande noção independência.

3 comentários:

  1. O oposto dos chineses.
    Que depois de terem uma fonte de sustento AUXILIAM a família.
    As culturas são tão diferentes!!
    Votos de uma Santa Páscoa

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  2. Lamento informar-te mas não é só no UK. Trabalho com muitas crianças e jovens assim. A culpa é também e acima de tudo dos pais.

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  3. Boa tarde, a jovem da borboleta desconhece totalmente o significado da palavra "independência" e o quando é necessário ser independente, certamente que tem uns pais que acham que a culpa é sempre dos outros e nunca é da filha, o mesmo se passa em todo o lado com estas novas gerações.
    Votos de Páscoa repleta de alegria! Feliz Páscoa!
    AG

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