quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Fiz uma(s) coisa da qual me arrependi


Por vezes tenho impulsos, gerados pela indignação ou outro sentimento profundo.
E isso leva-me a agir impulsivamente, parece fazer sentido na altura - mas segundos depois, lamento ter agido sem pensar e o meu lado racional toma conta e acalma a ira, a noção de intolerância para com a injustiça.

Uma coisa que me arrependi de fazer - embora não tenha realmente feito nada - é mal a mim mesma. Em várias ocasiões na vida, fustiguei-me devido ao quão profundo estava o sofrimento. Os métodos são tão banais e comuns, que ninguém percebe. Passou por ficar uma década a marcar o rosto com cicatrizes. Mas ninguém percebeu nada, porque essas cicatrizes confundiam-se com acne e eram criadas pelo impulso de espremer os poros durante horas e horas. Davam-me muitos conselhos, mencionavam o estado do meu rosto, mas não percebiam a origem - para mim tão obvia, nem eram capazes de entender que nada ia impedir-me de "tocar no rosto". Tinha-se tornado uma necessidade proporcionada por sentimentos de angústia diários, com origem nas atitudes de algumas pessoas mais próximas e sabia que não ia abandonar-me tão cedo. Mas eventualmente, iria.  

As pessoas estão preparadas para escutar "corta-se com uma lâmina" ou "usa um chicote nas costas" - coisas que os filmes mostram. Mas não são tão hábeis para detectar o mesmo em gestos corriqueiros que os filmes não trazem a lume. Até mesmo drogas e álcool - podem ser sintomas de um mesmo problema. 

Há poucos dias, sem dar conta, ou melhor, sem pensar e sem ir até ao fim, por impulso comecei a traçar marcas no braço pressionando com força um objecto afiado e movendo-o sobre a pele. Não cortei, só senti a pressão, e mantive-me a fazer isso até que pareceu aliviar a angústia. Não pensei mais no assunto, foi só uma coisa impensada e sem qualquer intenção de ser flagelo. Mas está ali na barreira e só dei conta depois. Quando senti o braço a incomodar-me e surpreendi-me por estar com marcas vermelhas. Vão demorar a desaparecer. Estas não podem ser confundidas com acne. Posso sempre dizer que me arranhei, ao mexer no mato no jardim e no emprego. Aliás, é costume sofrer cortes de lâmina e papel de tanto manusear os instrumentos de trabalho. Ninguém pensa muito nisso e o quanto é impressionante que uma folha de papel possa cortar tão profundamente que te vai sangrar. 

O problema é mesmo esse. As pessoas não pensam duas vezes quando se trata de magoar os sentimentos dos outros.

Outro impulso que tive mas logo a seguir fui desfazer, prende-se com algo mais "malvado". Numa ocasião de revolta com o cinismo e malícia cá de casa, pensei comigo mesmo: "vão comer merda!". Estava a sair do WC, incomodada até fisicamente com este ambiente e subitamente pareceu fazer sentido. Cheguei perto de realizar o meu intento, mas depois travei-me. A pensar no absurdo. Eu não sou assim! Eles não iam fazer-me rebaixar a esse ponto.  

Por vezes quando continuam este bulling mascarado, por um milésimo de segundo sinto que devia ter ido até ao fim. Que comessem merda, literalmente! Seria cá uma "vingança"!

Alguma vez se vingaram de alguém com requintes de malvadez?
Contem tudo!!!
Quero e preciso saber.

PS: Não dêm muita importância à parte da fustigação, é tão ligeira que só os profissionais classificariam-na como tal.


Contem tudo! Hoje é o Halloween e até caem bem histórias de horror, nojo e medo eheh.


7 comentários:

  1. Nunca me aconteceu cortar-me de propósito ou impingir algum tipo de sofrimento. O máximo que faço é fingir indiferença. Finjo que nada me afecta ou magoa mas depois chego à cama e choro até encharcar a almofada. Literalmente!

    Aliás, além da tal mania de ser perfeccionista que é horrível (porque nada está suficientemente bom), o problema de não publicar posts é o de não querer que saibam o que me vai na alma. Porque se não sabem, não gozam e não se aproveitam dos meus sentimentos. Pronto... é isso. lol

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    1. Ana, vinha para apagar este post por ser demasiado pessoal mas agora que li o teu comentário, ele vai ficar.

      Há coisas que não nos apetece partilhar ou melhor: apetece, mas tememos as reacções das pessoas, o julgamento. A falta de compreensão para com um tema que nos é sensível ou que nos critiquem. Então preservamos-nos.

      Acho que não devias temer. O anonimato do blogue semi presente, dando-te alguma segurança. Podes sair à rua que os vizinhos não vão comentar nem algum anónimo te vai localizar.

      Anteontem ocorreu-me uma frase, daquelas que "tomas nota" por achares que faz todo o sentido. Pensei assim:

      "A vida é um reality show de sobrevivência".

      Não devemos sentir vergonha de sobreviver.
      Beijos e sente-te à vontade aqui para chorar, desabafar, etc.

      :)"

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    2. Muito obrigada! Pode ser que desabafando assim aos poucos, consiga desabafar mais profundamente num blog. ;)
      Beijinhos

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  2. Olá. Eu nunca vivi na sua situação. Mas pessoas más e rancorosos sempre se atravessam no nosso caminho.
    Não sou de vinganças, antes de indiferença! Mas quando é preciso confrontar, digo na cara tudo o tenho a dizer! Só isso, e continuo com a minha vida...
    Beij e muita força.

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    1. Obrigada Maria.
      Demoro nas confrontações e mesmo quando as faço deixo muito de fora. Prefiro a indiferença, mas isto já tendo tentado o diálogo e a simpatia em primeiro lugar.
      Beijinhos !

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  3. Claro que sim e quem nunca o fez que atire a primeira pedra.
    O ano passado, passei dos carretos com um jovem que quando passeava o seu cão "top gama" deixava sempre um monte everest na porta da entrada do prédio. Um dia apanhei a merda com um saco. Subtilmente fui atrás dele porque sabia o prédio mas não sabia o andar. Tocou, fixei e meti o saco dentro da caixa do correio.
    Não disse nada a ninguém e no dia seguinte o tipo estava indignado a falar com o senhor do café. Tomei o meu e sai. Aprendeu, apanhava sempre mas já foi embora não sei para onde e nem me interessa.

    Falando de ti. Causa-me preocupação o teu estado sempre em alerta e stressante a pontos de fazeres mal a ti própria. Sei que não é fácil viver num quarto porque também já passei por isso, mas não sei dar lições de moral, o que escrevo é apenas na base da minha vivência já longa. Como tal digo que no dia em que não ligares/comentares/ leres mensagens etc. etc. verás que terás mais qualidade de vida. Os erros que cometemos pagamos mais tarde, quer fisicamente, quer mentalmente. Não pretendo saber a tua idade mas acho que sejas bem jovem e o que disse é do alto dos meus 68 anos que já me fizeram abrir muitas vezes os olhos e não entrar por caminhos que julgamos ser inofensivos que descreves...mas sim fazeres um reset seguires em frente de cara levantada e sem dares troco.

    Desculpa mas como mãe e pai que sempre fui e hoje como avó...pára, escuta o teu eu e olha que o sol quando brilha é para todos:)

    Beijinhos e um abraço sincero

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    1. Obrigada Fatyly. Ajudou.
      A sua vingança foi maravilhosa ehe! Obrigada tambem por partilhá-la, sem temer que a fossem condenar pela ousadia.

      Fica bem. :)*

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