terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Porquê morrem as pessoas?


Sou crente de que nenhuma morte é em vão.
Acho que todas servem um propósito.


Quando soube do incêndio em Pedrógão Grande, que vitimou 64 pessoas imediatamente senti que a morte de tanta gente ia servir um propósito. Esta ia ser a tragédia que ia mudar para sempre o trajecto que todos os incêndios com vítimas mortais há anos percorriam em Portugal: falava-se 5 minutos no noticiário, depois tudo era esquecido.

É a vida de um casal idoso numa aldeia qualquer menos valiosa do que a de um jovem, quando ambos partilham como causa de morte fogo gerado por um incêndio? Não. É tudo a mesma coisa.

Mas os nossos olhos não queriam enxergar. Não estavam a saber ler os sinais.
Então Deus enviou mais sinais. Rajadas de vento fortíssimas. O céu a ir de sol brilhante para escuro de tempestade. Foram horas de aviso antes do tal relâmpago cair e causar aquele fenómeno natural que apanhou toda aquela gente numa estrada rodoviária.

Pela primeira vez, não foi um fogo com mão criminosa que resultou na morte de seres humanos, animais e danos materiais. Foi uma causa natural. A «mão» de Deus... 

De alguma forma, isso trouxe-me muito consolo. Detestaria saber que o responsável é uma pessoa como eram todas as que teria matado, com um rosto e um nome. Ia ficar a sentir raiva. Talvez ódio. Sentimentos que não ajudam a nada no processo de cura/aceitação. 


Não existiu mão criminosa. No entanto, foi neste caso que o Estado Português viu-se forçado a apresentar condolências e a indemnizar familiares das vítimas. 

Porquê? Pelo número de pessoas que faleceram, para começar. Duas, três, meia dúzia numa localidade qualquer no interior, era coisa que não estava a ser eficaz. Eficaz para os responsáveis questionarem a eficácia dos meios que têm à disposição e do sistema que elaboraram para combater incêndios. Mas, até mais importante do que combatê-los - porque, por vezes, nenhum esforço humano consegue dominar esse inferno, somos impotentes diante de ventos e chamas - o MAIS IMPORTANTE é saber como salvar pessoas e bens. Tudo pode arder. Custa. Mas se todas as vidas humanas e não só se salvarem, então teria sido uma operação de socorro bem sucedida. E é isso que tem acontecido ao longo destes anos? Não me parece. 

Era preciso chamar a atenção para esse facto. E nada estava a dar resultado.
Um fenómeno natural causado por únicas condições atmosféricas veio a alterar isso. Sessenta e quatro pessoas faleceram. E quem eram estas pessoas? Deixaram de ser locais. Pessoas "Presas" pelas chamas. Mas familiares, amigos e conhecidos de Portugal Inteiro.

Toda a gente a telefonar a toda a gente, filhos nas grandes cidades a tentar ter notícias de familiares na zona, naturais da região aflitos e com coração apertado. O incêndio não apanhou só gente local. Apanhou pessoas oriundas de muitas partes do país. Julgo que até um turista - não tenho a certa se foi de facto, se foi invenção. 

Apanhou o colega de trabalho, o amigo de infância, o filho do irmão, a mãe da melhor amiga, gente oriunda não só da zona, mas da cidade também. Afectou tanta gente que os olhos não podiam mais ficar fechados.

Se me perguntarem porquê Deus "permite" que se morra assim, não vou dizer que temos um Deus cruel. A vida é cruel mas Deus é misericordioso. 


 E não foram mortes misericordiosas. Poderia Deus ao menos ter concedidos-lhe isso? Podia. A alguns, talvez, tenha «suavizado» a travessia até junto D'Ele. Mas aqui também acredito que, antes de encarnarmos, já nos comprometemos a certos sacrifícios, onde se inclui uma morte trágica e dolorosa, que será recompensada com a eterna felicidade. "É uma eventualidadeTopas?" - pergunta Ele antes de nos enviar a caminho. 

A maioria lá na paz do céu deve responder sim.
(é algo em que acredito).

Uma vez vi um programa sobre milagres e fenómenos inexplicáveis onde uma pessoa relatou que, enquanto estava a ser queimada viva num carro em chamas, "Uma voz" avisou-a momentos antes que isso ia acontecer e que ia ser muito sofrido, mas que ia salvar-se. Ela disse que conformou-se com o sucedido e que sentiu a presença de Deus o tempo todo com ela. Sabia que mesmo que viesse a falecer, seria acolhida na eterna graça do Senhor. 

Outros programas fizeram-me acreditar que existe um sentido para todo o tipo de morte e circunstância com que esta possa acontecer. Perguntam-se para quê serviram as da 2ª GG Mundial? Não sei... parecem-me ser em demasiado número para tão pouca lição tomada desde então. 

Mas pergunto eu: será que foi mesmo lição pouca? Não teria sido muito pior, não poderíamos nós, seres humanos, ser já uma raça extinta se não fosse por uma tragédia tão grande? Se não fosse pela explosão de uma Bomba Atómica que veio a mostrar ao mundo o seu poder devastador? 

Não nos teríamos já morto uns aos outros e erradicado com o planeta?

Há 73 anos, 6 de Agosto de 1945
Isto aconteceu no planeta Terra

Acredito que cada morte e cada circunstância tem uma lição para ser tomada. Até mesmo a de crianças inocentes. Muitos são rápidos a dizer: "Deixei de acreditar em Deus porque nenhum Deus ia permitir a morte de uma criança inocente!".

Mas essa criança inocente antes de encarnar, deve ter concordado com o seu «sacrifício». (Mais uma vez, programas que vi). Algumas parecem ser de uma bondade pura. Tão pura como se fossem anjos na Terra. E anjos sacrificam-se pela humanidade.

Vi também alguns programas sobre homicídios. Nos quais crianças inocentes sofrem terríveis problemas de saúde ou de risco de vida, terminando por ser salvas. Os pais deliram de agradecimento perpétuo. É melhor do que ganhar a lotaria mil vezes. Tinham um filho em risco de vida, que se salvou. 

Anos mais tarde, o pai que retirou dos escombros o filho quase moribundo foi assassinado à facada por esse mesmo filho. Que a seguir matou também a mãe e a irmã. Um outro, bebé ainda, com uma doença em que não era suposto ter sobrevivido nem sequer 24 horas, cresceu para se tornar um homem. Mas desde que era criança que tinha comportamentos sociopatas. Matava animais, era violento, fazia ameaças de morte muito graves, enchia de terror e pavor a própria mãe. Até que cortou a garganta da esposa, que "ousou" querer abandoná-lo para fugir às suas manias de controlo absoluto.  

Se calhar, por vezes, um inocente não é suposto vingar. 

Mas não creio que nenhuma morte seja em vão.
Todas servem um propósito maior, de constante aprendizagem. Se não for merecida para a pessoa que a perdeu (pois essa decerto não aprende nada se não permanecer viva) é certamente uma lição para aqueles que os rodeiam. Para a humanidade.

Existe muita crueldade no mundo. Por vezes esquecemos-nos disso. Tem de ser, ou seria difícil viver o dia a dia.  Mas também temos de ser confrontados com ela para a saber combater. 

5 comentários:

  1. Aqui na Madeira houve a queda de uma árvore que matou 11 pessoas. O desastre aconteceu no exterior de uma igreja e estavam lá várias pessoas para seguir na procissão. Uma dessas pessoas era um homem que levava um filho de 1 ano para agradecer ele ter sobrevivido, por ter nascido prematuro. Ou seja, foi agradecer a vida do filho e acabou por perdê-la nesse mesmo local (pai e filho). Qual é o propósito disso? A criança nasceu com dificuldades, viveu um ano e morreu num acidente estúpido.
    Não sei se todas as pessoas têm um propósito na vida. Já vi tantas pessoas que viveram e morreram e não contribuíram em nada para a sociedade, não eram pessoas queridas por ninguém e quando morreram não fizeram falta nenhuma. Será que toda a gente tem mesmo um propósito? Não sei...
    Se escolhemos os problemas que iremos passar nesta vida (também já ouvi essa teoria), não seria mais fácil escolher nascer rica, bonita e saudável? É que li na net isto: mais vale chorar numa mansão do que rir numa favela lol.
    Quanto à teoria da reencarnação, é muito bonita e espero sinceramente que seja verdade porque nascer, sofrer e morrer parece-me demasiado injusto para a grande maioria da população.

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    1. Pois Ana.
      Quem sabe ao certo? Eu partilhei o que acredito.

      A minha própria vida é um mar de espinhos que dõem e muitas vezes fico a pensar "o que fiz para merecer isto" ou "porque não tenho mais sorte" etc etc.

      Mas se me descentrar de mim mesma, vejo um propósito que vai além do singular. Depois sei de alguém com uma doença grave, ou recebo a notícia da morte estúpida de alguém e percebo que podia ser tudo pior.

      Acho que o nosso equívoco como seres humanos é achar que o propósito da vida de uma pessoa tem de ser dirigido a si. Acho que não tem. Essas pessoas que mencionas que não contribuiram em nada para a sociedade se calhar estavam lá para ensinar OUTROS. O propósito a sua existência não era melhorá-la, não era abençoada pela auto aprendizagem.

      Por muito tempo tive o hábito de assistir a documentários sobre crimes de homicídio. Nunca na vida pensei que fosse por ver este tipo de programa que ia chegar a esta conclusão. Assisti às coisas mais hediondas que possas imaginar, com vítimas desde grávidas, crianças a avós. Muita injustiça.

      Mas talvez algumas injustiças existam como prevenção a maiores. "Viemos a este mundo para sofrer" - é algo que acredito ser verdade. Para não sofrer ficariamos onde estávamos antes de fazer a "viagem" da encarnação...

      É que do outro lado parece que suportamos tudo. Deste é que...

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    2. Ana,
      as suposições valem do que valem...
      Mas vamos supor que daqui a uns anos ias ler nas notícias mais uma história trágica sobre um pai que matou o próprio filho para o "poupar" da miséria em que se encontravam. E esse pai e esse filho eram esses dois atingidos mortalmente pela árvore. Será que Deus agiu de forma a poupar sofrimento mais para a frente? E as restantes pessoas? Pessoas de óbvia fé. Pessoas que se sacrificariam por acreditar N'Ele.

      Teorias e certezas não as há.
      Eu acredito que tem de existir um propósito, um menor que tem a ver com a aprendizagem pessoal e outro descentrado de nós mesmos, um em que somos apenas uma formiga no formigueiro da humanidade.

      Lembro de um caso - na Madeira penso, de uma mãe diagnosticada com cancro terminal que deu veneno para os ratos ao filho (acho que deficiente) e terminou o sofrimento dos dois. Viviam quase sem recursos, numa casa no topo de uma colina, com uma vista linda que, imagino eu, devia saber-lhe a nada, só a desolação e desespero.

      Esse caso acho que deve servir para alertar as pessoas a serem mais solidárias e prestarem mais atenção a quem, não sendo violento, apreciaria ser ajudado. Alguém sozinho com um filho dependente para o resto da vida... Sei lá. Há tantas lições a tirar de um exemplo destes. Não condeno a mãe, mas lamento a sua existência tão sofrida, sem esperança. ela só quis abreviar caminho. O destino era aquele, com muita dor. Ela o resumiu a umas horas de agonia. (veneno é muito doloroso).

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  2. É uma maneira de ver as coisas. Sempre ouvi falar que estamos cá para aprender e para chegarmos a um nível de perfeição até que não seja mais necessário voltar à Terra.
    Agora se não estamos aqui necessariamente para crescer a nivel espiritual mas sim para servir de exemplo aos outros, faz mais sentido a existência de cada pessoa.

    Lembro-me desse caso e não sei o que dizer em relação a isso. É cruel uma mãe fazer isso mas quando vemos na tv casos de pessoas mais frágeis a serem maltratadas (idosos, crianças ou deficientes) por quem é suposto tratar bem delas, fico sem saber o que pensar dessa solução. Será que o cancro dela era mesmo terminal? será que não haveria outra solução?
    Não é raro ouvir falar de maus-tratos nas instituições e se calhar ela fez isso porque achou que o filho ia sofrer mais se acabasse num sitio desses. Ainda assim, morte por envenenamento deve ser terrivel e não é tão rápida quanto isso. Até o veneno percorrer os órgãos e dar cabo do organismo, demora um bocado.
    Lembro-me tambem de uma mulher em Portugal continental que ao saber do cancro que tinha, atirou-se da janela com o filho autista porque dizia que o ex-marido não ligava à criança e ele ia acabar numa instituição. Enfim, o mesmo destino mas ainda assim uma morte menos dolorosa do que com veneno...

    Mais do que morrer, assusta-me o não existir. Como é não estar aqui nem em lado nenhum? Morremos e acabou? Ai o que eu adorava ver um espírito. A serio lol. Era a maneira de saber de certeza que não temos fim e que se esta vida não tem sido boa, quem sabe se depois desta temos uma nova oportunidade...

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    1. Ana, também acredito que estamos cá para crescer a nível espiritual. Aprender. Tirar lições. Mas se alguns parecem desperdiçar essa oportunidade a vida inteira, então o seu propósito de vida maior é servir de exemplo aos outros - exemplo do "caminho a não seguir" :)

      Sabes qual era o problema dessa mãe? DINHEIRO. No fundo, se ela achasse que tinha o suficiente, talvez não fosse tão rápida a tomar a decisão que tomou. Mas era pobre, dependia exclusivamente do seu salário. Acho que tinha sido demitida e ainda por cima uma doença terminal???

      Por isso é que acho que também cá temos de estar uns para os outros.

      Olha, "o não estar em lado nenhum" não me faz qq espécie porque eu acho que, ao falecermos estamos em toda a parte, voltamos a fazer parte do todo. Isto que vivemos agora é que é muito limitado: limitado geograficamente, limitado no corpo em que nascemos, na linguagem que falamos, na capacidade que temos.

      Nunca sentiste algo maior? Algo a "falar contigo"? Eu nunca tinha tido pessoas muito próximas de mim a falecer mas quando isso aconteceu, eu senti plenitude, senti-as perto e o mais importante: SENTI-AS FELIZES. Uma delas com uma satisfação tremenda por essa tal liberdade e o retorno a si mesmo, que um corpo envelhecido e doente impede. Pode parecer parvo, mas foi mesmo o que me aconteceu e algo como "não fiquem tristes (pasmado) Eu estou bem (autêntico). Continuem as vossas vidas..." simplesmente surgiu na minha mente, com a sua voz, numa altura em que me estavam a dizer para "ser forte".

      Eu senti que essa pessoa estava a presenciar uma felicidade diferente.

      O "outro lado" não é mundano. Não tem as preocupações do lado de cá.

      Só espero que essas mães encontrem essa paz, pois também acredito que quem tira a vida, seja por que motivo for, pode ficar no "limbo" por ter cometido o pecado maior que é decidir por Deus quando falecer.

      Ai, ai. E eu, nem religiosa sou! :D

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