domingo, 11 de fevereiro de 2018

Afinal fico


Afinal fico.
E espero não ter decidido mal.

Falo da casa para onde vim morar aquando me mudei para o UK.
Estava num dilema de atormentar a alma.

Se um lado de mim me dizia que partir era necessário e este o momento ideal, outra parte de mim estava a temer uma mudança precipitada para um lugar onde não me sentiria feliz.

E foi hoje, quando me preparava para a mudança, que senti falta de vontade em regressar para aquele que seria o meu "novo lar". Ora, se já ia começar sem vontade, pareceu-me subitamente que podia estar a tomar a decisão errada. O sim e o não andavam em duelo constante na minha cabeça. Quando regressei para apanhar mais pertences e levá-los para a nova morada, não me apeteceu mais sair.

Não sei se foi bruxedo. Se o santo do outro é forte e acabou por me impedir de ter o prazer de saber que ele ia ficar sozinho nesta casa e ter de desembolsar para as despesas, sem ter a quem recorrer, ficando à mercê de ter de pagar o próprio consumo, sem contar com a muleta de outros.

Mas tem outro motivo pelo qual mudei de ideias.
É que fui muito bem "pressionada" a ficar na casa.

Primeiro foi ele - o individuo. Que veio cobrar-me dinheiro para comprar coisas para a casa. Ao receber como resposta que não iria dar nada por estar de saída, foi embora mas depois regressou para me dizer que eu não tinha de ir embora por causa dele. Que por ele eu podia ficar na casa (como se ele mandasse e a sua opinião é que prevalecesse). Foi uma curta conversa mas que ajudou a dissipar o mal-estar que se vinha a criar fazia muito tempo. 

Não, não fiquei burra. 
Sei com quem estou a lidar. E para ser sincera, não sei se vou conseguir ter o mesmo tipo de tolerância que tive no passado. Acho que decidi sair desta casa por atingir um limite. Eu demoro muito a atingir limites mas quando atinjo, foram atingidos. A seguir posso suavizar tudo, relevar novamente, mas o meu limite não está mais no mesmo patamar. E a minha vontade para continuar a cumprir com as minhas obrigações também desce e fica mais próximo ao nível daquele que me foi apresentado. É como se um liquido fosse subindo por um tubo e uma rolha indicasse o nível da pressão. Surge uma altura em que o líquido entorna e a rolha vai ao cimo. Depois desce catastroficamente mas o nível de "reacção" já não está mais naquele ponto mais elevado, e sim num mais baixo.

Outro motivo - o mais eficaz para ser sincera, foi a persistência da senhoria, que me escreveu não uma, mas três vezes, a pedir para permanecer na casa. Dizendo que me valorizava como inquilina, que não queria tomar partidos por gostar dos dois e que talvez devesse relevar alguma coisa menos boa.

Gosto da senhoria.
Sempre gostei. De início pareceu dura, mas com o tempo trocamos umas confidências e mensagens de boas festas. Há quem nem isso faça. Lembram-se quando me mudei - próximo do natal, confidenciei que decorei a casa com motivos relacionados com a quadra e ninguém disse nada? Pois ela foi a única que deu retorno. Pequenos gestos de cortesia - que podem não parecer grande coisa, mas creio que acabam por significar muito mais do que o singelo gesto.


E fico.
Agora vamos a ver por quanto tempo.
É que nem tudo depende do ambiente da casa. O emprego é o que dita a minha permanência neste local. Se os meus objectivos não forem atingidos, então não tenho porque permanecer numa cidade com poucas oportunidades. Terei de me mudar para Londres mais central. 

Esta vida é feita de mudanças.
Eu queria uma já, para crescer e evoluir.
Mas temi que fosse mais um má decisão, tomada «intempestivamente», embora a viesse a cogitar secretamente fazia muito tempo. 

Tenho quase a certeza que, se a outra casa fosse mais moderna, talvez me sentisse bem nela. Mas apercebi-me que era quase a mesma coisa, apenas ligeiramente melhor em termos de isolamento térmico. Não encontrei espaço para mim em nenhum dos armários da cozinha e todas as oito gavetas dos congeladores estavam cheias, excepto uma: a última. Aquela que é a mais pequena por o motor do electrodoméstico encontrar-se atrás. E eu fiquei a olhar para aquilo e disse: "Claro! A mais pequena..." Não sei porquê, isso fez-me pensar que as pessoas que já moravam naquela casa iam ocupando os melhores lugares deixando livres para a pessoa que vier um único cubículo, sujo e pequeno. Em oito gavetas, podiam ao menos deixar uma grande disponível. Não tinham de ser mesquinhos.

Enfim, coisas que nos passam pela cabeça.

Não fiquei convencida com a localização do novo quarto. Aqui nesta cidade apenas algumas pessoas moram, a maioria aluga. É tal e qual essas localidades citadinas em que a procura de quarto é elevada por existirem universidades à volta. Todos tentam tirar proveito dos estudantes, transformando os seus lares em casas de aluguer. Aqui passa-se o mesmo. Esta cidade tem mais casas para alugar a trabalhadores do que famílias. Aliás, as próprias famílias alugam quartos nas suas casas para ganhar mais algum. É toda a gente a tentar extorquir, fazer dinheiro... Só que as casas são todas iguais e oferecem o mesmo... Nada de especial, por um preço que a cada mês está mais alto. Se quiseres um pouco de luxo, isso vai custar-te no mínimo até 300 euros mais e quando vais a ver o alegado "luxo" não passa de material reles com cores berrantes num espaço pouco atrativo.

Claro, vou perder parte do depósito que fui forçada a dar para garantir que me mudava para aquele lugar. Mas já tentei suavizar esse golpe financeiro ao aceitar mudar-me para um outro quarto vago nesta casa. Isso vai proporcionar-me a mudança que tanto queria e me fará economizar cerca de 100 libras. Talvez não seja mau, no final das contas. Vou sair da suite onde tenho espaço que me sobra por todos os lados e ir para o cubículo que nem espaço para armário tem. Mas sabem que mais? Gosto do cubículo! Desde a primeira vez que o vi, pareceu-me acolhedor. E como o meu objectivo é permanecer minimalista, acho que mudar-me para um quarto onde só tenho espaço para um colchão e uma pequena cómoda vai ser interessante.

Pelo mesmo valor podia mudar-me para o quarto de baixo - que fica ao lado da cozinha. Mas é um quarto grande e frio. O pequeno pode ser pequeno demais, mas parece-me acolhedor e quente. Preferi o pequeno e resguardado ao grande, mas frio e perto da cozinha. 

Aliás, o meu problema com o quarto que recusei foi mesmo o de ser na cozinha. Não ao lado, como este, mas dentro da cozinha. A verdade é que receei os cheiros dos cozinhados nas roupas, nos cabelos... E os barulhos. Onde estou é muito silencioso. Tanto que acordo e não consigo voltar a adormecer. Depois adormeço de exaustão e não consigo acordar eheh. E ia trocar um quarto sossegado por um que fica numa cozinha e, provavelmente, nem me deixaria sentir o perfume da roupa acabada de lavar?

O que vos parece desta decisão?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Partilhe as suas experiências e sinta-se aliviado!