quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Livro a preço de vários colares em ouro

 

Tenho a certeza que nem Maria Magalhães ou Isabel Alçada ganharam este valor na venda de um único exemplar:


Estão a ver quanto pedem? Por um livro que nem é novo no seu estado, mas USADO???

O descaramento das pessoas não para de me surpreender. Mas que o façam online na venda de produtos como este exemplifica, tira-me do sério. Cheguei a ver rolos de papel higiénico vazios à venda por uma fortuna! Isto antes do Covid, supostamente para "trabalhos manuais". Como se fosse produto de recurso difícil, quando na realidade está disponível ao final do dia em todas as casas-de-banho deste mundo.

Vocês dariam o valor pedido pelo livro? Cento e setenta e um euros e quinze cêntimos? Será que as costuras, a tinta de impressão e os restantes materiais usados na sua produção são feitos de ouro? 


PS1: Aos 11 anos ganhei um prémio de literatura na escola cujo prémio foi anunciado como "muito bom" mas era também uma "surpresa". Na cerimónia de atribuição receberam-se livros da colecção "Uma aventura", de Isabel Alçada e Maria Magalhães (autoras da obra vendida acima). Pormenor: uma delas tinha sido ou ainda era professora naquela escola. Qual não sei, porque não foi na minha turma. Ou seja: os livros não foram uma despesa para os cofres da escola, foram obtidos gratuitamente. Esperava, no mínimo, um autógrafo, para que ficassem valorizados e marcassem a ocasião. Veio com um carimbo preenchido com dados pessoais mas não pareceu nem especial, nem carinhoso, nem nada. Os prémios para os três primeiros qualificados foram livros "Uma aventura". Só variou na quantia recebida. 


PS2: Disseram-me que o primeiro prémio (que não foi o meu) foi atribuído a um rapaz por nepotismo e que nem tinha sido ele a escrever o texto, teve ajuda da sua mãe, que era professora ou algo do género. Mas o que mais gostei de ouvir foi o rapaz que mo disse, ter-me reconhecido dessa ocasião - e eu nunca tinha lhe colocado a vista em cima. Reconheceu-me mas não mo admitiu logo. Tornamos-mos colegas de turma no ano seguinte e ele nada me disse sobre o impacto que o meu poema teve na sua pessoa. Guardou isso para si e só quando nos tornamos mais próximos é que me disse que ele e outros tinham gostado muito mais do meu poema e que eu devia ter ganho o primeiro prémio. Contou-me que o rapaz que o levou - que era da turma dele, não era nada criativo, não sabia escrever e era aparentado com uma professora. Aquele tinha sido um primeiro prémio que me foi roubado. Eu desconhecia tudo aquilo que ele me contava. Na altura - pode vos parecer estranho, mas tinha sim uma capacidade criativa em potencial, que saía fácil de mim, tanto por escrito quanto por outros meios. O suposto "grande prémio" com que tentavam aliciar os alunos para que se empenhassem não surtiu qualquer efeito em mim. Escrevi o poema pelo desafio, por gosto. Nem me pareceu difícil. Fi-lo ali mesmo, sentada na carteira da sala de aula. Não precisei de dias, nem de "fazer em casa".  O prémio não me motivou a aplicar-me mais - como decerto foi o estímulo dado a todos nas classes. (Como podem perceber pelo meu blogue, esse talento para a escrita não cresceu. Sei porquê não floriu e sei porque morreu. Existiu. E isso basta-me). 


ilustração da arquitectura de uma escola portuguesa 
que é muito familiar

Hoje, calhasse que os livros tivessem recebido assinatura de autor, pergunto-me se podia cobrar por cada um deles este ABSURDO de valor. 171 euros!! É que, os meus, além de assinados, seriam artigo "vintage", com mais de 30 anos. Talvez até primeira edição. 

Há uns 20 anos desfiz-me de dois deles (não carimbados, pois antes de os receber já era leitora das obras, que achava previsíveis e quase sempre adivinhava o plot inteiro e descobria o(s) culpado(s) nas primeiras páginas, mas eram um bom entretinimento), junto com outros livros de estudo "menos queridos" num Alfarrabista. 

Em troca destes dois que podia vender a preço mais elevado (sendo primeira edição e sendo muito procurados) e muitos outros manuais escolares ainda usados no ensino que podia vender a preço de capa - deu-me uns meros 100 escudos. 

Tirei consolo em saber que ia dar aos livros uma nova vida, já que, no lixo, não sou nem nunca fui capaz de os colocar. Prefiro "abandonar" um livro num banco de jardim, num aeroporto ou na já desaparecida biblioteca do emprego. Assim outros podem beneficiar deles. (No emprego pegaram em todos os livros e deitaram-nos no lixo. Disseram-me que lhes atearam fogo. Meu ADN treme de pesar até hoje).

4 comentários:

  1. Bom dia
    Não se pode ficar indiferente perante este texto pelas mais variadas razões .
    Uma delas é sem dúvida o destino de alguns livros e de alguns autores que dependem muito também dos mais variados factores .

    JR

    ResponderEliminar
  2. Sou incapaz de por livros no lixo/ecoponto, procuro livros na biblioteca ou afins para ler... não faz sentido comprar livros para guardar numa prateleira lá em casa, a menos que seja algo que quero guardar mesmo :)

    ResponderEliminar
  3. Vou contar-lhe uma coisa. Tenho comprado volumes de autor e alguns com dedicatória do mesmo na feira da bagageira que se faz aqui ao pé de casa, uma vez por mês a 1€. Entre eles já comprei, Fernando Namora, Fernando Pessoa, Lobo Antunes e Aquilino Ribeiro, bem como vários autores estrangeiros.
    E não são velhos. Pelo estado deles, diria que alguns nunca foram lidos.
    Abraço, saúde e bom domingo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que sorte a sua Elvira! Que bom. Se procurar livros online descobre que cobram, por livros mal estimados, o preço de capa. Ou o triplo, por o nome lhes ser familiar. É um absurdo. Mas assim como descreve, é um prazer, um achado, uma felicidade. E é assim que devia ser. Dar nova vida aos livros.

      Eliminar

Partilhe as suas experiências e sinta-se aliviado!