terça-feira, 19 de novembro de 2019

Analogias da vida e o frio


Menos dois graus, carros cobertos de gelo lá fora e saio à rua com umas finas calças de polyester. Uns jeans não facultam o mesmo nível de protecção térmica. Uso-as sempre, seja inverno ou verão, na praia ou na cidade. Sem meias de algodão, collans de lycra ou qualquer outra coisa que forneça uma extra camada protectora entre mim e o frio.

Não há como não pensar que em Portugal isto nunca foi possível. Gelei e congelei por anos e anos, a caminho da escola, vindo da escola, indo a qualquer parte. As temperaturas em Portugal não descem tanto, no entanto o frio é de rachar e sair à rua uma experiência desgastante. Tudo porque o frio tem no vento o seu melhor aliado. Aqui quase não o há, e por isso aguenta-se muito bem temperaturas baixas. 


Continuo a pensar (bastante) nele. Mas sinto que começo a ficar resignada. Contudo, dói-me. Lembranças são agora mais do que aquelas que pensei possível. Por vezes rio, porque lembro de algo que ele disse em que tinha razão. Por vezes sofro, porque sinto falta da sua companhia. Quero falar-lhe e saber coisas sobre si. Foi muito pouco tempo, por incrível que pareça. Não cheguei a saber quase nada do todo que agora necessito. Sinto falta do seu olhar. Que não encontro no dos outros. Um olhar intenso, facilmente confundido como inexpressível e difícil de ler. Em simultâneo seguro e extremamente inseguro de si. Saudades desse olhar a adocicar para mim. E o riso, que nunca queria dar a ninguém, mas não continha comigo.

Fui estúpida. Devo ter sido, algures. Ele também. Fomos ambos e não há como voltar atrás. O pior é que ainda sou, para estar a pensar e a sentir assim. Não consigo não pensar. É pior que doença que se cura com medicamentos ou cirurgia. O desejo machuca. E tudo isto é, ao mesmo tempo, bonito e patético. Fosse ele permanecer um pouco mais de tempo comigo e este idealismo saudosista encontraria resistência nos seus defeitos que agora pouco se fazem lembrar. Detectei alguns, mas não tive tempo de lhos fazer ver pela perspectiva de terceiros e acabei por ser vítima deles. 

Não dei o devido valor às qualidades. Que também tive pouco tempo para perceber. Mas que foram responsáveis por agora estar neste estado. Qualidades essas que não tenho como saber ao certo se estavam ali geradas por mim e, no dia a dia, eram pouco usadas por ele. Não deu tempo. Só sei que, um momento a mais que tivesse comigo, e ele ia apaziguar o que quer que seja que o tumultuou. 

Não sei até hoje, se a ideia sempre foi fazer-me uma coisa casual ou se gerou-se ali qualquer coisa autêntica. Foi totalmente inesperado. Pelo menos para mim, que até só o entendi tarde demais. Esquecê-lo... nã. Substituí-lo? Quem é mulher sabe que não acontece assim. Agora mais do que nunca, não existem outros na face da terra. Dele lembro todos os dias, a toda a hora. Isto é errado! Eu sei. Posso estar a perder a chance de  conhecer muita gente bonita por estar fixada numa só. Mas tiro conforto no facto de sentir que estou a começar a ficar um tanto resignada. Já não era sem tempo! Enquanto isso, ainda fantasio. Um dia encontro-o na rua, ele vai fugir vamos falar, esclarecer tudo e fica tudo bem... 

Que desperdício!!!
Que sina desgraçada a minha, tudo dá sempre tão errado tão inesperadamente.

Ainda querem que não acredite que existe aqui bruxedo dos fortes?

Nem adianta tentar avançar com o comboio... algo está seriamente a sabotar os trilhos pelo caminho.
Viver com a vida sabotada requer uma coragem do caraças!



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