terça-feira, 27 de novembro de 2018

E quando menos esperas...


Validam o que tu sentes.
E então descobres que não estás a ver as coisas pelo prisma errado.


Havia dito ao senhorio que lhe queria falar. Havia uma alta probabilidade de me encontrar sozinha em casa hoje e ele ficou de cá passar.

Acontece que não estava sozinha. A rapariga que vai sair estava na casa. Comecei a conversa não pelo tema que mais me preocupa: os italianos. Mas por aquilo que me afecta: a possibilidade de poder sair desta casa um dia - caso a freguesia dite que o quarto onde estou a dormir não corresponde às dimensões mínimas aceites. 

Comecei a conversa por aí e percebi que ele ficou aliviado. Intuiu que tinha algo sério para lhe dizer. E tinha mesmo. Mas ia deixar o assunto surgir naturalmente. Algures na conversa, com certeza, a oportunidade ia apresentar-se. E esperava que a rapariga que vai sair se afastasse um pouco, para abordar o tema que para mim é delicado e difícil.

Imaginei-o na minha cabeça vezes sem conta. Mas tenho e sempre terei dificuldades em expor o lado menos bom das pessoas. Sou muito reservada nesse aspecto e prefiro manter o que sei para mim. 

Não precisei entrar no assunto. A rapariga que vai sair trouxe-o à baila espontaneamente, quando o senhorio mencionou a nacionalidade da "nova" inquilina. Ela disse que eu estava triste por ela sair. E eu confirmei. E sem eu abordar o tema, ela conta que a casa tem demasiado italianos, que é verdade que eles só falam italiano, convivem entre si e não te integram nas conversas. Se lhes dirigirem a palavra e perguntarem por algo - contou ela, eles respondem. Mas não tomam a inciativa e não te permitem que te dês com eles.  

Fiquei agradecida.
Ela explicou-o tão bem e o senhorio percebeu.

Isto não vai mudar em nada a minha condição nem o facto de mais uma italiana vir morar para esta casa. Vou há mesma ter de conviver dentro destes parâmetros. Mas fico contente por ao menos a noção do que se passa cá dentro der passado para o conhecimento do senhorio.

Bons ventos não se avizinham mas, como em tudo, eu me manterei estóica a aguentar cada golpe. Sou aquele touro na arena... A surpresa é que nunca falei deste assunto com ela. Por isso não sabia que pensava e sentia o mesmo. Qualquer possibilidade de ser "problema meu" e não dos outros voou pela janela. 

Ela foi tratada pelos italianos com mais simpatia que aquela que eu recebi. Mas por vezes também achei que acabavam por a excluir ao limitar as conversas para a língua italiana. Ora, se estás a conviver ou a tentar conviver com estas pessoas e elas não falam a língua que todos têm em comum, preferindo falar na delas, automaticamente a outra pessoa sai do círculo.

Que ela partilhasse da mesma sensação que eu, desconhecia!

Acabei por não dizer nada, ela disse o essencial por mim.
Há coisas piores a precisar serem ditas mas creio que o tempo possa funcionar a meu favor. Geralmente é o que acontece. Se terem tornado esta casa num "italian only" resort for aumentar os seus comportamentos de exclusão, terei de o suportar. Mas, como disse, não pretendo sair daqui. E um dia, quando um outro quarto vagar, espero que seja o senhorio a escolher quem vai cá meter dentro. Ele agora percebeu que não lhe estavam a facilitar a vida. Mas a querer tornar a deles mais fácil.


1 comentário:

  1. Que bom que a rapariga teve essa atitude. Foi melhor que ter sido a amiga a dizê-lo.
    Abraço e tudo de bom

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