segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ainda sobre as touradas...vamos ao circo?


Assusta-me a sociedade que clama ser esclarecida e justa, quando apenas segue o «politicamente correcto» .

O mal que daí advém pode ter consequências tão perniciosas que para mim só encontram equivalência "naquela" doença: Tal como um cancro, aparece como coisa boa, mal se nota, cresce vertiginosamente em questão de dias e quando se vai a ver, pimba! Já fez todo o mal que podia causar, de forma devastadora e impiedosa.

Reflicto nisto. No porquê e fundamento das acções humanas. Porquê são as touradas agora alvo de calorosas críticas, chocantes contra-manifestações envolvendo sangue e alvo de um discurso na sua maioria, repelente, vil, odioso?

É desta forma que o Ser Humano gosta de colocar o seu ponto de vista?
Quando me oponho a algo, é assim que hajo? Destilando ódio e incompreenssão, escudando-me no facto de achar que tenho razão e faço parte de uma maioria? A coragem em ir contra uma ideia, uma instituição, uma prática, é maior se não fores minoria?

Choca-me a linguagem de um certo tipo de "oposição". Como posso identificar-me com alguém que, naquilo que clama ser a defesa de um animal, deseja a morte aos seus semelhantes?

Uma coisa é respeitar a vida no seu todo e pedir para que um espetáculo como a tourada, que envolve um animal a ser espetado, remova a parte do seu sofrimento. Outra é exibir comportamentos de ódio, clamar palavras de morte. 

Isto de alguém achar-se "dono da verdade absoluta" escudado que se sente por estar naquele lado da sociedade "politicamente correcta", sentido que faz parte de uma maioria e sentindo-se protegido e apoiado, pode ser socialmente extremamente pernicioso. 


Choca-me ver publicações no facebook a mostrarem um touro a pular as bancadas, a subir os degraus e misturar-se com a multidão e ler "BEM FEITO! SÓ TÊM O QUE MERECEM!", "FEZ-SE JUSTIÇA DIVINA".

Mas isto é coisa que se diga?? Pessoas em pânico a quererem fugir com medo de serem magoadas por um animal com quilos de peso e uma enorme força e estes "seres humanos" inundados de uma bondade tão grande que se preocupam e lutam para salvar qualquer animal de um qualquer sofrimento não hesitam - é que não hesitam - em abrir a boca para desejar a morte, sofrimento ou mutilação de uma multidão de pessoas. Onde se podem encontrar crianças, adolescentes, velhinhos, adultos, jovens... até o pai deles. Não querem saber. O politicamente correcto que não reflecte, que não procura entender as razões e os motivos para algo, que não escuta o outro lado e não abre um diálogo para se fazer entender e ser entendido, porém impõe, ASSUSTA-ME.

E são cada vez mais, os ignóbeis.

Não as considero nobres defensores de coisa alguma, se para defender uma causa, desejam, celebram ou se satisfazem com a desgraça ou morte de pessoas.


Na tourada não há "maus" nem "bonzinhos". Existe uma prática muito semelhante a qualquer outra desportiva, mas envolvendo um animal. Não é caça à raposa - onde cães são usados para matarem as ditas, não é tiro aos patos... é tourada. Tourada é talvez uma das poucas actividades envolvendo Homem e Animal em que o Homem realmente se coloca em risco. Tiro aos patos só coloca os patos em maus lençóis. O homem só tem de ser paciente e ficar deitadinho... não é para todos. Caça à raposa? A mestria está na capacidade do homem em saber aguentar-se bem em cima de um cavalo por horas e horas sem se acidentar e na forma como treinou o seu cão. Tudo isto para no final do dia ver se consegue atingir o seu objectivo. Quem é que vai vencer? O caçador ou a sua astuta presa? Estas actividades têm a sua razão de ser, não acho que deviam ser proibidas. Apenas controladas, para que sejam executadas de forma a não prejudicar a população animal nem permitir abusos da parte do Homem/caçador. 

Na tourada, é tudo o que descrevi acima com a diferença do animal poder retaliar. É talvez a única prática de que me recorde em que existe essa possibilidade. Aos patos e às raposas nem sequer é dada essa chance. Eles só tentam fugir. Na tourada, o objectivo é o confronto com o animal. O homem, confiante na sua vitória, na sua perícia adquirida pelo treino. Mas sempre sem ter a certeza diante da besta...

A tourada é só uma outra forma das muitas que o ser humano inventou  durante a sua existência milenar para se desafiar, para se testar, para proporcionar espetáculo, para exibir as suas adquiridas capacidades de mestria em determinadas áreas. 

Os "maus" que encontro em tudo o que é exemplo que possa me lembrar, são as pessoas que se acham as donas da verdade absoluta e se tornam fechadas e intolerantes. Continuamos a ser os piores animais à face da Terra. Agora "civilizados" e muito longe das necessidades primárias de caçar para comer, de matar para se manter vivo, agarramos-nos ao "desporto" do SOCIALMENTE CORRECTO. Desporto esse, muitas vezes executado sem sair da cama ou do sofá.

Se um dia tudo regredir às necessidades ancestrais, e desaparecer a eletricidade, que é o que nos permite ter tudo do que dependemos, estas pessoas vão ser as primeiras a se tornarem umas selvagens. A matar para comer, querendo lá saber do sofrimento e do sangue... 

Não me identifico com aqueles que acham que não fazem nada de errado ao desejarem a morte de uma pessoa só por essa pessoa ter escolhido como actividade a profissão de toureiro. Não me identifico com palavras de intolerância extrema, de CONTENTAMENTO pela morte do semelhante. Posso não sentir simpatia por tais práticas mas se existem, porquê existem? Desde quando? Para que servem? Faz mal existirem? Devem ser eliminadas? Podem ou devem ser alteradas?

Existem uma série de questões que trazem ao de cima a vontade de um diálogo e de um debate. Torno-me mais tolerante se conseguir resistir à tentação de me juntar à "manada" do socialmente correcto, que vê o mundo apenas com duas cores: o preto e o branco. 


*Nota:
Procurando ilustrações da caça à raposa, desporto popularizado como britânico, descobri que a prática foi PROIBIDA em terras de sua Majestade em 2005. Muito antes disso, já era proibida na Escócia. Em Portugal é permitida. A viver no Reino Unido, sinto muito mais na pele os efeitos perniciosos do "socialmente correto" e sei que fica-se mais vulnerável como cidadão a práticas de injustiça e abuso. Vai-se lá entender! Mas é verdade. Aqui na terra que votou no Brexit por motivos pouco políticos, não há instituição pública ou privada onde não sejas invadido com cartazes a "avisar" que não se toleram comportamentos "abusivos" com o staff, e que é esperado de ti um comportamento exemplar. WTF?? Estão a tratar a população como crianças acéfalas?? É insultuoso, mas eles não se dão conta o quanto. Já passaram da barreira da compreensão. Estes "recados" em tom de ameaça (dizem que chamam a polícia caso não te comportes) estão mais para o comunismo do que para a democracia. A verdadeira LIBERDADE está na possibilidade de DECISÃO. De opção e de BOM SENSO de parte a parte. Proibir, deve-se proibir medidas extremas e definitivas que podem, a longo termo, provarem-se erradas - como a pena de morte, a posse de arma de fogo sem medidas de controle eficazes (EUA) ou o uso da bomba atómica. Para o resto sou cada vez mais defensora da LIBERDADE DE ESCOLHA. É esta e o bom senso que constituem a verdadeira democracia. 

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