sábado, 20 de maio de 2017

Dei uma de Maria de Fátima



Alguém sabe ao que me refiro com o título que escolhi para este post?
Provavelmente muitos poucos entenderão.


"Maria de Fátima" é uma personagem. De uma telenovela. Dos anos 80...
Ficou famosa por ser «má». Ela quer tanto subir na vida e ter muito dinheiro, que engana todos com o seu jeito angelical e bondoso de ser. A novela tem o nome "VALE TUDO" e vale mesmo tudo para a ver. Mesmo nos dias de hoje. Recomendo-a já. Continua bastante actual, ainda que na novela os telemóveis sejam raros e tenham o tamanho de um tijolo. Em tudo o resto, a novela não podia mostrar melhor a realidade como ela ainda hoje é. Pessoas normais, que acordam com o cabelo despenteado, que o vento na rua despenteia, o povo que aparenta mesmo ser povo, as praias que têm povo e não figurantes bonitinhos... Além de tudo o resto, claro.


Mas história à parte, "Maria de Fátima" não é só o nome de uma personagem. Ganhou também direito a ser uma expressão. Com um significado. Uma pessoa capaz de enganar, manipular, ser dissimulada para conseguir os seus objectivos, resumia-se tudo isso com as palavras "Maria de Fátima".


E digo eu que dei uma de "Maria de Fátima?" - Bom exagerei. Muito. Porque queria «fazer bonito» Kkkk. Por muito que tentasse, jamais chegaria aos pés de uma Maria de Fátima. Mas posso ser uma Maria de Fátima Mirim... ou uma aprendiz com pouco sucesso.

O que pretendo dizer é que tenho muita dificuldade em mentir. Quase nunca o faço. Maria de Fátima fazia-o com quem respira. E eu disse uma mentira e por isso, por ter conseguido, senti-me uma Maria de Fátima! 

Só a ideia de ter de recorrer à mentira me exaspera. Contudo, sou uma adulta. SEI que tem ocasiões em que mentir pode servir um propósito, e este até pode ser um bom propósito. Não gosto e é raro mas, se meter na cabeça que vou o fazer, e me convencer disso (é a parte mais complicada), sou capaz de o fazer.

Divido a casa com um rapaz que gosta pouco de trabalhar. Ele vai para o emprego mas sempre contrariado. Não vê propósito no conceito de trabalho em si. Quer viver de... o que lhe dá prazer. Mas como isso não dá dinheiro a todos (só a uma minoria), tem de se sujeitar às normas sociais que ditam que é preciso dar trabalho em troca de dinheiro para se obter bens e serviços.

Acontece que o rapaz está sempre a dizer-me para telefonar para o emprego a dizer que estou doente. Não importa se me queixo ou não. Ás vezes basta eu dizer que tive um dia cansativo e quero relaxar, já ele vem com a conversa: "Telefona a dizer que estás doente e não podes ir". "Eu faço isso regularmente". 

Eu bem lhe digo que isso não resulta comigo. Sei que não ia conseguir e que a minha mentira seria transparente. No emprego eles nunca acreditam na falta por motivos de saúde. (Desconfiam sempre da pessoa de forma sarcástica). Depois tem outra questão: A ideia de brincar com a saúde, por vezes acho inapropriado. A saúde é preciosa. Usá-la como pretexto para «escapulir» a responsabilidades - sejam elas não ir a uma festa de aniversário ou desmarcar um convívio - acho que não é correto. O que custa às pessoas dizer: "Olha, não me apetece ir? Mudei de ideias?" Porque têm de inventar logo uma doença?

Acho que essas desculpas acabam por chamar as efermidades e o melhor é nem brincar com isso. Mas não é essa a principal razão de sentir desconforto com as mentiras. Simplesmente é assim. Mas como adulta, tenho de aprender. Aprender a mentir. 

E achei que era altura. 
Por razões a meu ver muito válidas (ler post sobre assédio laboral), decidi que não ia trabalhar num certo dia. O que ia dizer para poder faltar é que não tinha ideia. Mas aos poucos começou-se a formar algo. Diria até que estava a ter «achegas» espirituais, porque não tenho em mim esta capacidade de refletir e entender o que se deve fazer. 

Desde que cheguei ao UK muitas têm sido as pessoas a viver cá que me têm dito que, para se conseguir algo (casa, telemóvel, contrato de serviços, emprego, etc, etc), há que mentir. Até mesmo nos blogues que sigo, de pessoas a viver aqui, também elas escrevem que é preciso "exagerar a verdade"- manipular as coisas. É nesse sentido que uso a expressão "Maria de Fátima". 

O curioso é que, para mentir, tive de tornar a mentira VERDADEIRA.
E é aqui que queria chegar. Para poder dizer que aconteceu "isto ou aquilo", tive que fazer com que acontecesse. Com consequências menos graves do que dei a entender - claro. Mas também sempre ouvi dizer que é preciso exagerar nas dores para se fazer de doente, e exagerar nos feitos, para se fazer de herói. Então exagerei um pouco - sabendo que é natural, no início, pensar-se que algo é mais sério do que se pensava. Relatei o sucedido verdadeiro, mas de uma ocasião passada. Então, facilitou a mentira porque estava a contar uma verdade. E quanto ao pretexto que dei, acabei por torná-lo verdadeiro. Porque só assim consigo «mentir». Sabendo que não era mentira, que tinha realmente acontecido o que relatava.  


Na novela "Maria de Fátima" era filha de "Raquel". Uma personagem tão boa, recta, correta, honesta, crédula, bobinha - com a qual me identifico. Na altura em que a novela passou, nem tanto. Percebi-o depois, durante uma reprise no canal Brasileiro, já adulta. Mas até na novela, por vezes, dá para entender os motivos de Maria de Fátima. Tendo Raquel como exemplo de mulher adulta e um pai alcólatra como exemplo de homem, ela viu tudo aquilo que não queria para si. Raquel, por muitas ocasiões, sai prejudicada por ser como é. Acaba por se colocar em situações que a ferem e também erra por ser... boa. Mãe e filha são dois opostos e no equilíbrio é que está o saber viver. Raquel também tem de aprender! Aprender a mentir... Aprender a ser dura. A destratar quem merece. Para crescer.

E é aqui que me encontro... 


E porque não? Aqui ficam umas cenas de resumo da mencionada novela. 


















5 comentários:

  1. Não vi essa novela mas sempre ouvia coisas sobre ela. Era do tempo em que as mocinhas eram boas demais e as vilãs eram terriveis. Hoje em dia isso já não acontece tanto nas novelas porque havia cada ingenua que só apetecia bater
    e toda a gente pensava: como alguém pode ser assimmmmm? ahahah

    Quanto ao mentir para se safar, por vezes é necessário. Quantas vezes inventei que estava doente para não ir à escola...

    Mas mentira que envolve doença é sempre um perigo porque o psicológico tem uma força enorme e o risco do feitiço se virar contra o feiticeiro, é grande.

    Se o que contaste já aconteceu contigo, então era verdade. A mentira só estava na altura em que o caso aconteceu. lol
    Kiss

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    1. Pareço uma criança que contou uma «mentira», cora e imediatamente conta que é mentira Kkkk.

      Mas é preciso aprender. Ser sempre essa mocinha a quem só apetece bater é que não pode ser :P

      Na altura que aconteceu fui trabalhar sempre e ninguém «suavizou» as minhas tarefas. Depois alguns mentem ou exageram e são poupados do trabalho mais árduo. Uma pessoa te de acordar mais tarde ou mais cedo.

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  2. A mentira normalmente tem uma perna curta, cuidado! :)

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  3. O que para aí há de Marias de Fátima!!!
    Boa semana

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