segunda-feira, 22 de maio de 2017

Saber-se que se tem seis meses de vida


Curiosa para saber sobre o quê Salvador Sobral padece, googlei o seu nome e, por aquilo que divulgam alguns sites, o rapaz tem uma insuficiência cardíaca grave, usa uma espécie de pacemaker daqueles com uma mochila à frente do peito e precisa de um transplante de coração com urgência.

Li, inclusive, que os médicos estimaram que, sem um coração novo, ele viveria somente mais seis meses de vida.

Abstraindo-me agora de quem é - conseguem imaginar?? O impacto que uma coisa destas tem para a família e para o próprio? A angústia? O choro? Os receios? Os medos? A contradição de se desejar que alguém morra logo para que outro possa viver?

Saber-se que se tem um prazo para deixar de viver... E um tão curto. O que isso faz a uma pessoa? No que isso torna todos os nossos dias? Olhar para o céu, para qualquer coisa, tendo quase a certeza que daqui a um sopro de meses, pode-se já não estar cá para olhar?

Cantar uma música?
O que isso faz??

Se a pessoa não fosse quem é, e fosse ainda um estranho para Portugal, o seu estado de saúde seria o tipo de post que se partilharia no facebook, para «ajudar» a aumentar a palavra e se encontrar um coração. Ou para se fazerem rezas pela sua saúde. 

Começo mesmo a achar que no dia 13 de Maio existiu de verdade muitos milagres. 

Posso dizer que já ouvi tantas covers da música composta pela Luísa Sobral e interpretada pelo irmão Salvador. Escutei em Russo, francês, «brasileiro», inglês... português. Mas em todas achei que faltou algo. Principalmente na interpretação. Faltou uma certa emoção e fez muita falta.

E subitamente entendi uma verdade absoluta:
NINGUÉM poderá cantar esta música como o Salvador pode.
Só ele tem aquela sua sensibilidade para sentir a música, só ele tem aquela franqueza (e porque não tê-la, se se sabe que o tempo urge?) e só ele poderia, com aquilo que lhe vai no coração, cantar a música com o seu coração. O seu coração que lhe falha, que bate mais forte, na alma, mas falha no corpo. Como é que algum outro pode cantar com aquela emotividade se nenhum está prestes a morrer?



"Ouve as minhas preces"

E quantas não estão a ser feitas, por outro motivo? Para que Salvador consiga o coração de alguém? Que coisa é esta de alguém ter de morrer com morte cerebral, para que outra pessoa possa viver? Que raio de segunda-vida é essa e que impacto psicológico e emotivo pode acarretar? 

Que dádiva é esta, de se doar vida?
Que angústia é essa de se sentir o fim?

E como poderia ele não cantar como cantou, tendo tudo isto na alma? 

Sim, já vi muitos tributos e muitas covers desta canção.
Mas na interpretação, todas deixam a desejar.
Ou são algo planas e previsíveis, ou a voz é esganiçada e a interpretação fracote. Uns gemem a música, não a cantam. Outros fazem «olhinhos» de românticos. Salvador fechava os olhos. Segurava as mãos, vibrava com cada pedacinho...

Não foi nada à toa que ele chegou e tocou os corações.
Que ironia!
Mas foi o que a música e a interpretação fez.
Conquistou pelo sentimento.

O MUNDO gostou desta canção e do seu intérprete. A barreira linguística nem sequer existiu. Não houveram muros. Diques e barragens foram demolidas para deixar as águas fluir... 

E corações por todo o planeta se sensibilizaram.
Esta melodia é universal, ficou globalizada. Ainda dará o que falar.

Só espero é que não tenha sido uma glória de despedida... 
Mas se vier a ser, só aumenta a beleza da dádiva. 


5 comentários:

  1. Nem sei que diga. Sabia que estava doente, que era acompanhado por um médico, mas seis meses de vida?
    È demasiado trágico, para a sua juventude. Oxalá seja possível fazer alguma coisa. A medicina dá um salto todos os dias. Ainda que seja por transplante e seja horrível desejar a morte de uma pessoa para salvar outra.
    Nem sei que diga.
    Um abraço e uma boa semana

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    1. Nada confirmado por ele ou a família - que ao que parece não querem falar do assunto - que é pessoal e nada tem a ver com a figura que se tornou pública. Como os entendo!

      Mas segundo algumas frases de "fontes amigas", Salvador anda sempre com um telemóvel especial e em caso de terem um coração, o telemóvel toca (a ansiedade...). Quando em actuações dá o TM a quem confia caso toque... tem de correr para o hospital (??? - foi o que li). Bom, mas uma coisa é certa: nestas coisas nunca se sabe.

      Admiro contudo a postura de quem separa as coisas e continua a viver a vida. Fazendo o que gosta, da forma que gosta, sento autêntico.

      27 aninhos...
      Um puto! :)

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  2. Até me assustei com o titulo! ahahah

    Bem, acho que o impacto inicial da noticia deve ser devastador mas o nosso instinto de sobrevivência faz-nos querer continuar. Depois há outra coisa: quantas vezes os médicos enganam-se e dizem que a pessoa só vai durar X tempo mas acaba por viver anos?
    A verdade é que ninguém sabe quanto tempo tem para viver. Uma pessoa saudavel pensa que vai viver muitos anos mas de repente acontece um acidente e morre. Quem haveria de dizer? E quanto à morte subida que pode acontecer a qualquer um, quando o coração simplesmente pára e não há nada a fazer?

    Claro que faz pena quando sabemos de alguém que supostamente tem poucos meses de vida mas a verdade é que ninguém neste mundo, pode ter a certeza que amanhã estará vivo. Então, não adianta entrar em panico porque isso só piora as coisas (e eu sei bem do que falo). Vamos viver um dia de cada vez, sem pensar no amanhã.

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    1. Concordo com tudo o que escreves, Ana. Os médicos não são adivinhos. Só Deus sabe por quanto tempo nos quer cá e por que amarguras nos vai fazer passar ( e porquê - há sempre um propósito).

      A postura que escolhemos ter... é que vai dizer se aprendemos ou não a lição que o cosmos nos quer transmtir. Viver um dia de cada vez é um dos melhores princípios que se pode ter. Por vezes é muito complicado para quem pensa demais ou se deixa afundar em amarguras - algo também natural.

      Mas imagina... um diagnóstico destes... assim, de sopetão. Sei de casos de pessoas com doenças sérias que viveram muitos mais anos que a família "saudável"... Por isso, há de tudo. Ainda assim, acho preferível não saber e se julgar com tudo bem a ter uma espada na cabeça que pode ou não cair...

      Bjs

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  3. Não fazia ideia.
    Espero que não se confirme.
    E que, se se confirmar, possa ser debelado rapidamente.
    Até arrepia!

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