ROSALINA:
A reportagem começa com o caso de Rosalina. E apeteceu-me comentar o seguinte:
Não julgues. Não julgues o teu pai. Nem a tua mãe nem ninguém. É preciso perceber como era a vida naquele tempo, a mentalidade, costumes e crenças daquela época e o que é a pobreza.
Talvez o teu pai rejeitasse a adopção por achar que, a pesar de tudo, vocês eram filhos dele. E isso ninguém ia tirar dele. Ele não se via capaz de cuidar de vocês e quase que aposto que a mentalidade era de que esse era um dever para uma mulher. Noutros tempos era muito COMUM serem as mulheres a cuidar dos filhos. Um homem, quando enviúvava e tinha filhos, principalmente recém-nascidos, logo encontrava uma outra mulher com a qual casar. Era por oportunismo sim, mas também a mentalidade era outra e o empenho em fazer a união resultar tomada a sério. Até porque seria uma chatice se tivessem de procurar outra mulher para cuidar deles, da casa e das crianças. Mas não se imaginava, sequer, que crianças fossem educadas só por um progenitor masculino. Qualquer mulher ia pensar o mesmo: que as crianças precisavam de uma mulher para delas cuidar. E se não existisse no horizonte uma tia que pudesse arcar com os seus próprios filhos mais os sobrinhos, e não existisse qualquer possibilidade de arranjar nova esposa, então existiam as Freiras. Era sempre uma melhor opção - dito até mesmo preferencial - porque aí as crianças não passavam FOME. Num orfanato teriam um teto para as abrigar da chuva, roupa, comida acima de tudo para lhes forrar o estômago e muitas mulheres para cuidarem delas e as educar de formas que nem os pais sonhariam. Era visto como muito bom.
Um homem, basicamente, naquele tempo e em algumas circunstâncias, era um ser quase inútil. No sentido de saber cuidar de alguém sem ser de si mesmos. E mal, diga-se. Alguns só sabiam sobreviver. Há base de vinho e pão seco. Não eram ensinados a cuidar deles mesmos. Só sabiam que, quando adultos, há que arcar com a família indo trabalhar. E à mulher cabia tudo o resto. Não sabiam muitos deles, cuidar deles mesmos. Lavar suas roupas encardidas, fazer o próprio almoço. O melhor que poderiam ter à disposição se calhar era uma maça roubada de um pomar qualquer. Eram como baratas tontas: dependiam de uma mulher para as coisas mais simples deste mundo. E as mulheres sempre ali: dispostas a ajudar, porque, afinal, era um "homem" e «homens» não sabiam se desenrascar nas lides do dia-a-dia.
Outra forma que o teu pai biológico pode ter racicionado para consentir que a adopção acontecesse quando lhe ofereceram dinheiro, foi de facto ter sido convencido por ele. Mas não que tivesse à espera dele. Não é que vocês estivessem "à venda" ou tivessem sido vendidos! É que a necessidade faz a ocasião... e se calhar ele NUNCA ia ver tanto dinheiro em toda a sua vida. No pensar dele vocês não eram uma "coisa qualquer" para vos dar a quem vos queria de graça! Pode até ser ofensivo para um pai. O dinheiro, para uma pessoa que não é pobre, mas miserável, que é abaixo da pobreza, não se pode mesmo julgar. Visto que quem vos queria era, de certa forma, o "invasor" poderoso que tudo conseguia, talvez ele pensasse que não iam conseguir tão fácil assim levar os filhos dele como levaram os de muitos outros. A quantia oferecida se calhar até foi uma MIGALHA mas para uma pessoa miserável é ajuda pura. Ou melhor: é uma esperança no horizonte. Devido a se tratar de americanos endinheirados quando comparativamente à realidade Portuguesa, principalmente na ilha e logo após um sismo em que as pessoas perdem TUDO!!!
Imagino-me com filhos para cuidar, mesmo sendo mulher, nessa altura, sem família só eu e minhas crianças, sem nada para lhes oferecer nem sequer um pedaço de pão seco ou um sítio para morar... Fico indigente e vou submeter as minhas crianças a essa miséria. Por quanto tempo ia aguentar? Até achar que tinha de fazer o que seria melhor para elas? Por mais que me partisse o coração? E depois uma pessoa convence-se de que é provisório. Pelo menos a ideia é essa. Só que a vida não muda, nem sempre melhora... e outros passam-nos à frente com outras ideias, levando com eles o objecto do nosso maior afeto e razão de viver: nossos filhos.
INGLES:
Don't judge your father. Maybe he accepted your adoption when money was placed on the table not because he was waiting to "sale" his kids. But because that's when he realized that you would be taken care off by people that could or maybe he felt valued and appreciated. Validated. Sometimes money as that affect on people - specially very poor people. Maybe he just tough that no one was going to take HIS children like they were taking everyone's else kids for free like if it was a "supermarket" "Kids for free just take one and go". Maybe he tough that it matter more.
The mentality back then was much different. A man without a woman was NOTHING. They were not teach to take care of themselves to be auto-suficient. They depended on women for EVERYTHING. When they became widowers they wouldn't be able to cope so usually they would remarry really quick. Because the mentality was pretty much that is a woman's job to take care of children, house and husband (!!). It was a different reality. So much so that this "adoptions" were made the way they were, just out of "good will" and without the procedures that adoptions should have had. I bet a lot of money was given "under the rug" to many families just because they were not poor people, but miserably poor - after an earthquake even more miserable! Left with NOTHING! I am sure also some american's tought this to be a good opportunity to find a child they could parent without having to have too much trouble. Back then people would just "pick up" kids from the poor like if they were entitled just by their condition. And this to happen on an american base... in total isolation of an island... The Americans were the "all powerful". So much so that until recently this adoptions were kept in "secrecy" as if some Tabu not to be spoken off.
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