quarta-feira, 22 de maio de 2019

Fazer um curriculo à altura


Passei o dia inteiro a melhorar o currículo, adaptando-o ao estilo que o recrutador inglês quer ver.

Senti-me incomodada. E hoje descobri porquê. Além de ser moroso e mentalmente desgastante "recordar" detalhadamente 20 anos de variada actividade profissional, não gosto de falar sobre mim. Pelo menos não desta maneira, em que preciso "elogiar-me". 


Sou modesta. É um mal que me aflige desde sempre. Por isso os currículos que fiz ao longo da vida sempre me consumiram tempo e neurónios. E fiz tantos, mas tantos, um para cada candidatura, que com o tempo e a idade adquiri alergia à ideia. Devo ter feito mais de 1000 currículos ao longo da vida. Entre modelos europeus desactualizados, com foto ou sem foto e outras formas mais, acabei por «desaguar» num CV factual, com datas, funções... nada mais. Limpo de pretensões. Se quiserem saber mais, descobrem  na entrevista. É aí que me vão conhecer, não por um pedaço de papel.



Mas hoje em dia nem é mais por um pedaço de papel mas por um texto online. É isto que o recrutador vai ver e é o que tem de encantá-lo. Tens de falar de ti, dos teus grandes feitos, da tua admirável capacidade para trabalhar em equipa e ajudar a empresa a ser pioneira. Uma série de larotas para as quais nunca tive talento. Ah, é preciso nascer com esse dom! Se nasci, logo perdi. A rapariga mais-nova mostrou-me o seu CV e sem dúvida ela domina a arte de se auto-promover. No papel parece uma heroína, alguém jovem e fresco, promissor, que pode crescer numa empresa e ajudá-la a florescer. 


Ao mesmo tempo que é um currículo de uma pessoa maravilhosa, conta apenas com uma experiência profissional. Ainda tenho uma vaga ideia do que é estar a começar a vida... Curriculos quase em branco! Isso alguma vez existiu???

Como é que uma pessoa com apenas uma experiência profissional na vida pode entender, sequer alcançar as complexidades de alguém mais experiente, que tem tantas, mas tantas, debaixo do cinto? Cada qual uma luta por si só... Nada foi fácil. Muito sapo engolido, momentos de desespero, de desilusão e de alguma alegria também.


Pessoas a começar que não tiveram realmente nenhum grande contacto com o mundo laboral ainda não tem um olfacto desenvolvido. Falta-lhes passar pela experiência de meses ou anos com a "colega invejosa", de patrão "atiradiço" ou de "complot para te tramar no trabalho". 

Ainda tem as preocupações com o salário, as horas de trabalho, horas que não são pagas mas tens de fazer ou te demitem, emprego precário, trabalhos de enorme esforço físico... Ela nem sequer passou pela comum experiência de trabalhar num café ou restaurante para ganhar uns tostões extra. Mas também há quem tenha se dedicado a isso por curtos períodos de tempo sem grande dedicação e se julgue experiente q.b.

Sortudos daqueles que sabem se vender. Não os invejo, não os admiro, acho que estão bem para os tempos que correm, somente isso. 


3 comentários:

  1. O auto-elogio é sempre complicado.
    Porque pode soar a imodéstia, a bazófia.
    Mas, quando a pessoa procura uma contratação, como é que se "vende"?

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  2. Concordo inteiramente e quantas vezes se mandam CV e o lugar já está mais que ocupado? Conheço vários casos bem gritantes dos quais não me apetece falar. Não é nada fácil enfrentar a máquina empregadora.

    Um abraço para que nunca desistas dos teus objectivos e a simplicidade vence todos os obstáculos.

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