sábado, 9 de junho de 2018

É impossível ser-se assim tão talentoso e ser deste mundo


Estou actualmente a ler um livro que me está a deixar extasiada e ao mesmo tempo, perturbada.

Já não é a primeira vez que a escrita de Tess Gerritsen tem este poder.
As primeiras palavras de "Vanish" (desaparecidas) surtiram em mim a mesma sensação perturbadora, real, aflitiva, quando li a obra em 2005.

Foi nesse ano que "conheci" Tess Gerritsen.
Garanto-vos que admiro e adoro a forma como escreve.


Fazia alguns anos que não lia nada dela. A pesar do seu crescente sucesso, julgo que continua a não ser muito divulgada em portugal, embora já existam obras dela traduzidas e comercializadas. Porém, outras continuam a aguardar. E uma delas bem pode ser "Playing with Fire" (Brincando com o fogo) - o livro que estou agora a ler.

Digo-vos: estou a adorar!
Se o que li antes deste - também dela, «devorei» em menos de 48h, este aqui quero acabar logo. Mas dou por mim a precisar interromper a leitura. Não por estar cansada, embora provavelmente esteja. Mas por estar emocionalmente aflita. 


Que capacidade extraordinária tem esta mulher com as palavras!
Até fico a pensar como é possível. Tendo se doutorado como médica e praticado medicina durante anos, como é possível que seja tão boa em duas coisas tão distintas. Ainda por mais, toca violino. 


O que a inspirou a escrever esta história de "Playing with fire".
E compôs de verdade a melodia que faz parte da história. Tess surge aqui a tocar no piano a sua composição. Não é possível. Médica, escritora, musica. Tess é de outro mundo. 

E eu estou a adorar. E a temer. O que aí vem.

Ela dá a "papinha" toda. Sinceramente não entendo como Hollywood ainda não transformou todos os seus livros em filmes. Até a banda sonora ela proporciona. Bem melhor que Dan Brown. No entanto, este já conseguiu um Tom Hanks a protagonizar o seu herói. (Será por Tess ser mulher?)



A história começa actualmente (em 2015 quando a obra foi escrita) na América, após a viagem da personagem a Itália. Logo aí gostei da forma como a autora descreve, em poucas palavras, a primeira experiência da personagem com aquela terra e sua gente. Coisa pouca, mas que a mim soou a autêntico, com a qual me identifiquei. É como se lá estivesse: Em Itália, dentro daquela loja, conhecendo aquele funcionário. 

É esse o poder da escrita de Tess.

E é por isso que quando a história "saltou" uns anos para trás até Itália, não consegui largar mais. Os muito bem relatados factos contemporâneos, interrompidos num auge, não pareceram mais fazer falta. Estava completamente envolta nos acontecimentos daquele sítio na Itália, dentro dos lugares que ela mostra, conhecendo tão bem as personagens que ela descreve. Já nem precisava sair dali para saber o que acontecia nos EUA. Vinha aí uma história romântica, e eu, que prefiro trillers psicológicos e mistério, estava a ficar totalmente envolvida por um romance tão puro, tão autêntico e em risco quando a música dos apaixonados.


Tive de parar de ler a história mais que uma vez por temor. O que dali vem. Por temer... o horror. 
No instante em que parei de ler, toda a família de Lourenço, junto com outras famílias iguais à sua, estavam a caminhar para um comboio que os levaria para um "campo de férias". Depois voltariam, passado uns tempos - disseram-lhes. Até lhes deixavam escrever UMA carta a um vizinho ou amigo, desde que contassem que estavam a ser bem tratados e que se dirigiam para um lugar bom. 


Esse lugar foram os campos de concentração durante a segunda guerra mundial.

Nunca - e eu já vi e li tanto a respeito, me afectou tanto o que aconteceu a todos os judeus e seus simpatizantes nessa altura. E tudo devido à escrita de Tess.
Ela não deixa de fora a fé. Foi por terem fé e não acreditarem nos boatos de atrocidades, que muitos ficaram. Confiantes no seu líder, confiantes no significado dos muitos anos de vida estabelecida, no emprego digno e honesto, no negócio que passou de pai para filho... Não. Era tudo boatos. Não iam fugir para o desconhecido e para a pobreza, com base em diz-que-disse. Iam ficar no seu país, na sua casa, a trabalhar honradamente. 

E é por conseguir transmitir tão bem esse lado por vezes esquecido - o lado humano, da fé, da descrença, que me identifico tanto com estas personagens. A escrita de Tess Gerritsen simplesmente tem afinidade com as minhas emoções. Toca-as como a um piano, um... violino. 




Se puderem, leiam.
Qualquer obra dela, mesmo a da série Maura Isles e Jane Rissoli.

"Eu sei um segredo" foi a obra que li nas últimas 48 horas e é muito bom! Aqui no UK está à venda nas livrarias (lançamento em agosto de 2017, EUA) mas descobri o tão fantástico que é usufruir das bibliotecas. Que ainda por cima têm livros acabados de serem lançados. Leio e devolvo. Adoro! Adoro a partilha, adoro o empréstimo, adoro o ler sem ter de decidir qual posso comprar, sem ter de escolher entre um de muitos - posso lê-los a todos. E não tenho de os possuir. Partilho-os. 

4 comentários:

  1. Muito interessante. Não conheço a autora e se não houverem obras dela traduzidas nem vou ter hipótese de conhecer.
    Abraço e bom fim-de-semana

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    Respostas
    1. Olá Elvira.
      Existem obras traduzidas mas não todas. E é uma pena. Ela ficou conhecida com o livro "Cirurgião" onde escrevia sobre uma médica legista e depois uma detective de homicidios. Eu gosto da forma como escreve. Não se limita a criar suspense e mistério, ela sabe trabalhar cada personagem e cada uma tem uma vida privada, família, emoções - ela explora tudo. Torna-se real.

      Se gostar do estilo - suspeito que talvez não seja o seu favorito - leia. Convém apanhar o primeiro livro e ir lendo os restantes porque existe continuidade. Por exemplo, Body double - o primeiro livro dela que li, introduzia a sua mãe biológica. Aquele que li faz quatro dias, mostrava o fim da mãe biológica e a relação entre as duas. Pelo meio, existiu a essência da mãe biológica. Ela trabalha bem as personagens.

      A Elvira também sabe fazer isso. Admiro quem sabe escrever assim. É um dom.

      Gostava que lesse algo dela mas desconfio que o género que ela escreve se calhar não é o da sua preferência. Crime, mistério, homicídio.

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    2. Experimente AQUI
      http://lelivros.fun/book/baixar-livro-colheita-macabra-tess-gerritsen-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

      Se não lhe incomodar a leitura gratuita online por download.

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  2. Uma autora, que desconhecia por completo, mas com obras super interessantes, pelo que contas!
    Óptima sugestão! Um nome para eu prestar atenção!
    Beijinhos
    Ana

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