quarta-feira, 25 de abril de 2018

Nova casa, novo quarto, mas não menos chatices


Estou na nova casa. No quarto que me era destinado desde o início, mas que só agora pude ocupar.

Estou a adorar. Neste instante, toda a casa está mergulhada em silêncio.

Estava a precisar muito de sossego. Após três semanas a viver numa casa partilhada com indivíduos barulhentos e desrespeitadores, que falavam alto a qualquer hora do dia e noite, sem parar, como se fossem miúdas adolescentes e parvinhas que a cada três segundos de qualquer conversa têm de dar sonoras risadas. 


Esta foi a minha realidade por três semanas, acrescido da gravidade de não ter liberdade de movimentos ou de usufruto das áreas comuns e dos utensílios da casa. Até o último momento, tiveram de se certificar que me dificultavam a vida. Três minutos antes da máquina de lavar roupa terminar o ciclo de uma hora, ouvi um deles a ir à cozinha. Soube de imediato que isso ia interferir com a única coisa minha que estava a acontecer lá: a lavagem dos meus ténis. 

Continuei a mudar as minhas coisas de sítio e passados uns poucos minutos estranhei que a máquina não tivesse parado. Ela continuava a funcionar. Fui espreitar. Nem me deram tempo - três minutos que faltavam - e já o rapaz estava a lavar a roupa dele na máquina. Os meus ténis? Tirou-os para fora. Sem nada perguntar, sem nada dizer, sem ter qualquer intimidade comigo para se sentir com autoridade para tal. Era urgente lavar a roupa dele? Quando tinha feito o mesmo na véspera? Não me parece. Não podia esperar três minutos? Cinco? Não é de boa educação. Mexer nas coisas dos outros, algo que ainda estava a lavar e tirar logo fora. A pressa dele era tanta que só hoje de manhã foi estender a roupa. Tive a infelicidade de ver a sua alta figura passar pela janela do jardim. E foi assim que soube que a roupa que colocou a lavar depois de remover os meus ténis ficou a "marinar" dentro da máquina a noite toda.

E se alguém tivesse removido a roupa dele assim que o ciclo terminou? Deixando-a espalhada a um canto? Húmida e toda enrolada? Como ia ser a sua reação?

Precisava ele de fazer aquilo naquele minuto? Não me parece. Eu estava de mudança. Dali a poucos minutos não estaria mais a viver naquela casa. O rapaz esteve em casa o dia todo. Só lhe deu vontade de lavar a roupa ao final da tarde, já sem sol, quando EU saí do emprego e fui usar a máquina, claro.

E não foi só esta a sua vontade "exclusiva" durante a minha curta presença. Também não encontrei a esfregona ou o aspirador em qualquer parte da casa. No armário onde deviam estar, não estavam. O aspirador nem me surpreendeu, devido ao facto de ter despertado nessa madrugada às 1.30 com eles a aspirar! Mas quem é que aspira a casa durante a madrugada?? Nem vivendo sozinho num prédio, por consideração aos vizinhos. Quanto mais numa casa partilhada. O pior foi os risos altos e parvos, em catapulta, que se seguiram nos 20 minutos depois. Uma total falta de respeito, que o meu gravador do telemóvel, por muito mau que seja, conseguiu capturar por uns minutos. 

A ausência da esfregona é que me surpreendeu. O balde estava ali, mas a esfregona não. Estava privada de usar qualquer utensílio da casa para proceder à limpeza do quarto. Não foi coincidência. Não existiu um segundo naquela casa em que me apetecesse usar algo e que não tivesse sido sujeita a vigilância ou a posterior cobrança. 

Quiseram dificultar-me a vida mas, millenials que são, desconhecem que antes da invenção de tais utensílios as pessoas conseguiam à mesma limpar e lavar os seus espaços. Uma vassoura, um pano, uns detergentes - e tudo foi feito. Ficou um espaço resplandecente e com cheiro a limpo.

Não acredito que nesta casa não vá encontrar problemas. A rapariga que cedo identifiquei como podendo ser uma cauda deles, não demorou nem um segundo a comprovar que estava certa. Então não é que, enquanto estou a mudar-me, ou seja, a transportar sacos pesados e volumosos, malas, etc, pelas ingremes e pequenas escadas do corredor escuro, acendo a luz do mesmo. Mal viro as costas, a luz está apagada. Continuo a não ver bem os degraus e a precisar subir com volumes de pertences. Então acendi a luz do corredor. Nem tive tempo para chegar ao topo e abrir a porta do futuro quarto: a rapariga sai do dela - que é oposto ao meu - com o dedo directo ao interruptor de luz e apaga-a. Viro-me para trás e pergunto-lhe, quando já se prepara para fechar a porta atrás de si. 
- "A luz incomoda-te?" 
Ela: "Hã, o quê?" 
Eu: "A luz incomoda-te?"
Ela: "Sim, incomoda."
Eu. "É que eu estou a fazer a mudança e preciso da luz ligada porque estou a subir e a descer as escadas".
"Hã, está bem." - responde ela fechando a porta definitivamente.

Nem um "olá", nem uma demonstração de tolerância para com as rotinas naturais de uma casa partilhada. Cedo percebi que esta rapariga tem a mania de querer tudo ao jeito dela. Mas o facto de ter levado apenas TRÊS segundos entre eu ter acendido a luz do corredor para subir as escadas e ela ter saído do quarto dela, onde estava a gargalhar ao som de um programa de televisão qualquer que se conseguia escutar até no andar de baixo, solidificou o tipo de pessoa que é. Depois da experiência na outra casa não dá mais para tapar as evidências e arranjar desculpas: esta rapariga vai ser difícil de lidar. Com a sua intolerância para com os direitos alheios, para com a sua mania de querer tudo ao seu jeito numa casa onde não vive sozinha mas que divide com outros, pela sua forma de agir rude. 

E já mencionei que, àquela hora do final da tarde, só o corredor, por falta de janelas, estava escuro? Os quartos ainda tinham luz. E a presença de luz faz com que uma artificial que passe de fora para dentro não seja incomodativa. A menos que a pessoa queira que seja. 

Que tenha seguido o impulso para si incontrolável de ir desligar QUATRO VEZES uma luz no escuro corredor, uma por cada vez que eu descia as escadas e ia buscar mais pertences, só realça a sua obsessão em impor as suas vontades e a sua intolerância e falta de compreensão com o significado de casa partilhada.

Não pretendo ter chatices nesta casa, pelo contrário. Nem pretendo causá-las! Continuarei a ser como sou: uso, limpo tudo, deixo as coisas como as encontrei. Já não vou lavar a louça que outros deixam no lava louças antes de sairem para os empregos. Que façam isso eles mesmos. Acabou a menina "boazinha"... se eu conseguir essa proeza. Mas vou tentar não me calar sempre. Se vir que algo não está bem, acho que é meu dever falar.

A terrível experiência que tive agora, com aquela situação provisória, só veio a comprovar que a minha forma de ser não é eficaz para evitar conflictos. Eles permanecem, a única diferença é que só eu sou vítima deles e sofro com isso. Ao confrontar esta miúda com o facto dela me estar a apagar a luz - coisa que não faria habitualmente, estou a dar um pequeno passo de bebé em direcção ao direito de ter direitos e os ver respeitados.


  

9 comentários:

  1. Muita calma querida, espero que desta vez as coisas corram muito melhor. Beijinhos*

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    1. Calma tenho demais. Preciso é de ser mais agressiva como pessoa. Dosear entre o excesso de um e a falta de outro. Acho que desta vez vai correr bem sim. Pelos vistos ter falado já evitou que outros comportamentos semelhantes se repetissem.

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  2. Casa nova, problemas do costume. Pelos vistos é assim em todo o lado. Fazes bem em não ficar calada e apesar de ter sido um passo de bebé, foi um passo de gigante para ti. keep up the good work! lol

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    1. Também acho que é assim em toda a casa partilhada, Ana. Não é possível viver num paraíso onde todos se dão bem. Não acontece nem entre famílias, quanto mais entre estranhos.
      Obrigada!
      Tenho de me lembrar todos os dias que é preciso falar logo as coisas que incomodam.

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    1. Obrigada Elvira.
      Conto com Ele mas também aprendi que depende de mim.
      Abraço

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  4. Mas é impressão minha, ou a Portuguesinha é uma azarada e vive em continuo conflito? Eu não conseguiria viver sob tamanha pressão e à mercê da má vontade das pessoas.
    Não seria preferível/ possivel alugar um pequeno apartamento só para si? Certamente que encontrará algo e poderá recuperar a sua paz.
    Boa sorte.

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  5. Não é tanto Célia. A única diferença é que eu escrevo muito sobre isso. Tenho amigas a passar por coisas identicas. Que desabafam comigo ao invés de deixarem tudo em papel, eheh.

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  6. Hoje em dia, há uma imensa insensibilidade, pelo próximo!
    Aqui no prédio onde moro, também se mudaram vizinhos novos... ao meu lado...
    Nem a cara viram, para dizer bom dia ou boa tarde... quando se passa por eles...
    A boa educação... é algo que caiu em desuso... tenho de me convencer disso... na grande maioria das vezes... hoje em dia... ninguém quer saber de ninguém... é triste... mas é assim mesmo!
    Batem a porta para entrar no prédio às 3 da manhã, da mesma forma que seja às 3 da tarde...
    E também assim, por aqui vamos nós...
    Arranjaram um cão, na semana passada... fica a ganir todo o santo dia... sózinho... para quem quiser ficar a ouvir...
    Beijinhos
    Ana

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