sábado, 15 de outubro de 2016

A falta de impressão digital pessoal


Em todos os anos em que me conheço como trabalhadora por conta de outrem, jamais faltei a um dia de trabalho. Excepção feita para um qualquer problema alheio à minha força de vontade ou saúde.

Posso dizer que sou pontual, esforçada, discreta, trabalhadora, capaz de agir em equipa, ajudar os outros, fazer horas extraordinárias, trabalhar nas folgas e dedicar-me o dia inteiro.

Isto tudo para dizer o quê?
Apesar de saber que é assim que sou inclinada a funcionar, não tenho um único comprovativo desta postura profissional

Se por cá uma carta de recomendação é coisa rara, para onde pretendo emigrar elas fazem parte da vida de um indivíduo praticamente desde o berço. É sistemático e esperado, de parte a parte, que se emita uma no final de cada ciclo produtivo com uma empresa.

Em Portugal não é comum. Quando as solicitamos tanta vez escutamos "o que é isso?" ou "para quê?". Perguntas tão estúpidas... Para não falar quando demonstram atrapalhação e aborrecimento por desconhecerem como a fazer, se a podem fazer e o que é habitual conter. E depois tem toda a burocracia, dificuldades técnicas e falta de intimidade para solicitar tal direito... Uma vez acabei por receber isto:

"Fulana x trabalhou para a empresa Y, sediada na rua H, contribuinte 0000, nos períodos de A a B, confirmo a autenticidade". E uma pessoa lê aquilo e pensa: "isto não diz nada do que sou, o que fiz, apenas confirma datas". Então perguntei se a carta podia fazer referência a situações como pontualidade, eficácia nas funções, etc. Olharam para mim e responderam: "Esse é o único tipo de carta que fazemos nesta empresa, só temos esse modelo no computador. TODOS que cessam contrato connosco recebem a mesma."

Como se, por todos receberem o mesmo, isso invalidasse qualquer outro tipo de necessidade.

O último post que li da estudante, embora de outro teor, acho que encaixa bem aqui. Há algo de errado nesta postura conformista, que não desafia a norma. Lá porque é mais comum nas empresas só se emitirem cartas de comprovativo de emprego (para fins de subsídio) e não de recomendação (para fins de emprego), é como se, de alguma maneira, esse erro legitimasse a falha. Mas se essa maneira de se fazer as coisas não está completa, não é por todos a praticarem regularmente e ser raro alguém pedir diferente, que a mesma deixa de estar incompleta.

Será que me fiz entender?



4 comentários:

  1. Que ridículo... não têm outro modelo, acabou-se! Não há espaço para mudar as coisas e inovar... mentes tacanhas. Aposto que têm um texto pré-definido para despedirem o trabalhador. Mas para elogiar não. É triste. Não apostamos nada no reforço positivo e, se calhar, é isso que nos está a faltar!

    PS: fico lisonjeada com a referência ao meu estaminé :D

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    1. Acertaste em cheio. Em portugal falta-nos o reforço positivo SIM. Cartas de recomendação aprendi o que eram na escola. Na vida útil e profissional não são aplicadas. Muitos até desconhecem a tipologia. Até nisto se comprova que somos um povo inclinado para ver as coisas para o lado mau, ao invés do bom. Tens razão: existem cartas-padrão para tudo, menos para elogios. Como havemos nós de evoluir para melhor - como acho que referi lá no teu estaminé - se não somos incentivados ou reconhecidos como trabalhadores, actividade que ocupa a maioria da nossa existência? Ficamos frustrados, apagados... Praticar o incentivo só ia ajudar.

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  2. Não há cartas de recomendação (que absurdo e mais não digo...), mas há “conhecimentos”. Os bons empregos em Portugal só se encontram com “conhecimentos” e não com cartas de recomendação.... pelo que me parece!!

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    1. Agora é que acertaste em cheio!
      Para quê são elas necessárias, não é mesmo? Se o sistema de empregabilidade é corrupto e se orienta por critérios menos idóneos?
      É fácil de concluir que, a continuar assim, estas cartas continuarão a ser uma raridade, ao invés de ser a norma, para todos, independentemente da profissão exercida.

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