quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Uma história sobre um museu

 Nunca pensei que ia acalentar o sonho de ganhar o primeiro prémio do euromilhões. Uma vez até estive perto, mas não meti o boletim, pelo que os números foram sorteados sem serem registados. Nem me importei, porque estava a trabalhar, gostava do que fazia e estava bem assim. (a inocência a tramar-me). Sempre senti, no profundo mas inconsciente ser que sou, que ia conseguir as coisas com a força do trabalho. Qualquer coisa.

A vida não é assim mas os meus instintos muitas vezes dizem que era para ter sido. Alguma coisa forte demais e vil desviou-me do caminho. 

Bom, mas isto tudo para dizer que também constatei que o que a minha mente sonhadora por vezes imaginava só poderia ser atingindo com uma brutal fortuna, das que fazem empalidecer a do Champalimaud. 

Se tivesse sido milionária lá nos 20, acho que teria criado coisas fantásticas e apresentado ao mundo um lar diferente dos demais, ideias inusitadas e gestos de valor social. Estava sempre a ver "mais à frente", tinha esse dom que hoje quem olha nem percebe que possa ter existido. Mas isso agora não interessa nada - como já alguém disse. 

Para quê queria eu tanto dinheiro? Bom, antes demais, não sou, apesar de tudo isto, muito ligada ao poder a este associado. Gostava de o ter porque dele depende a realização de coisas que realmente sinto falta na minha vida. Umas simples, outras maiores e dispensáveis para a sobrevivência mas necessária para um propósito e para dar um gosto especial à vida. 

Isabella 1840 –1924
Noutro dia surfava na net quando dei com a história do museu de Isabella Stuart Gardner - da qual nunca tinha ouvido falar. O seu belo retrato a óleo, fez-me recordar um rosto conhecido. Curiosa, fui pesquisar sobre a sua história mas pouco se sabe, visto que ela queimou a correspondência e documentação. A sua memória póstuma para o mundo foi cuidadosamente planeada na construção do seu museu. 

Casada com um homem rico (mas rico para os padrões de antigamente que é podríssimo de rico) ela pode dar-se ao luxo de viajar pelo mundo e ir recolhendo obras de arte de seu gosto. Decidiu fazer uma coleção privada - como tantos hoje ainda fazem. Por isso fiquei surpresa quando fiz a visita virtual ao museu - que recomendo que façam já. Não é todos os dias que, no conforto do lar, se pode atravessar o oceano, ir até os EUA e entrar num fantástico palácio por ela mandado construir em Boston. São três (sim três) andares de salas e salinhas repletas das mais variadas obras: tapeçarias, bustos, quadros, mobiliário... Uma colecção pessoal digamos que... não tão pequena quanto estava a imaginar. 


Em 1990 roubaram 13 obras de arte - entre as quais de pintores hoje sobejamente reverenciados - e tal como "ordens" da construtora, nada ao longo dos anos foi alterado ou mudado de lugar. As obras furtadas desapareceram, mas os espaços vazios permanecem. O museu faculta também uma visita virtual guiada da "rota" dessas obras furtadas. A não perder!

Rembrandt, The Storm on the Sea of Galilee (Obra furtada em 1990)

Surpreendeu-me este museu e mais ainda que estivesse totalmente disponível para visita virtual. Acho que está muito à frente. Não creio que uma visita virtual afaste possíveis visitantes de carne e osso. Pelo contrário. Se algum dia estiver em Boston, talvez tenha muita vontade de conhecer in loco um lugar que só conheci pelo computador.

Mas este tipo de legado, não é decerto possível de realizar para uma qualquer fortuna. Percebe-se que é algo que nem o primeiro prémio do euromilhões e nem, se calhar, os tostões do Ronaldo seriam capazes de concretizar. Há coisas grandes demais. Contudo, são bonitas de ser sonhadas.


6 comentários:

  1. Pois é amiga, sonhar é bonito e por enquanto não paga impostos...
    Um abraço

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    1. Verdade. Mas olhe que eu fico muito contente por saber que a Elvira consegue realizar alguns, mesmo que aconteçam mais tarde na vida. Olhe que boa coisa para se aguardar dela. Ou sonhar! :) Bjnhos

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  2. Não vivo em função do dinheiro.
    Mas também não sou nada franciscano.
    O dinheiro compra coisas.
    E todos gostamos de ter coisas.
    Muitas vezes aquilo a que chamo brinquedos de adulto.

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    1. Exato.
      Pagam-se as contas, os empréstimos, compram-se os alimentos e alguma roupa. Mas de vez em quando, uma X-box (não tenho ou alguma vez tive) também faz falta! :) Mas se nem para isso ele chega, vai-se à biblioteca e lê-se um livro... :P

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  3. O dinheiro tem muitas inerências. No outro dia fui contemplado com o relato de uma mãe a chorar. A filha tinha desfalecido no seu colo. Os exames e consulta de especialidade no pos urgências, custou 180 euros que a pessoa não tinha.
    Emocionante aquele relato.

    Ficas a perceber que o dinheiro é realmente importante.

    Bjinhos

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    1. Bocagiano, e se lhe disser que é precisamente por isso que mais urge este desejo?

      A saúde é cara. A boa alimentação para uma boa saúde é cara. A qualquer instante algo súbito pode acontecer e a tua salvação está entre o ter ou não ter.

      É triste chorar por 180€... gastos em saúde. Mais ainda de um filho. Se calhar, desmaiou de fome, vai-se lá saber! E a senhora nunca imaginou que lhe cobrassem tanto por uma emergência. Hoje em dia tudo é relativamente fácil de conseguir: comida, roupa... Menos dinheiro. E está ainda mais difícil quando difícil é conseguir emprego.

      Triste mas real.
      Bjs

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