segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A mesa de voto

Pela primeira vez cheguei a conjecturar não ir à urna de voto. Talvez tenha sentido falta da chuva. Acho que nunca fui votar sem ser debaixo de chuva! Mas consegui ultrapassar essa ideia. A noção de dever cívico falou mais alto. Ao final da tarde, já de noite cerrada, dirigi-me à escola para votar. 

Ao entrar na sala, parei à entrada a aguardar que me chamassem. Uma senhora na mesa de voto, temendo que avançasse, mandou-me aguardar. Enquanto tentavam descobrir o "novo" número de eleitor de uma senhora à minha frente, não me mandaram avançar. Tive tempo para observar a sala, Naquela, nunca tinha estado. 

Era muito infantil, com lições escritas e desenhos pendurados. Material escolar espalhado pelos cantos e uma secretária na entrada. Saiu uma pessoa detrás da "cabine" de voto, foi à urna, recebeu a sua identificação e saiu. Mandaram-me então avançar. Dirigi-me à pessoa que me chamou, mostrei-lhe o número de eleitor e ela não me respondeu. Estava a falar com a outra pessoa do lado. Saiu a eleitora que "não sabia o número" e avancei para a urna. Ainda estava a tirar o cartão de cidadão de dentro da carteira que trazia na mão e  já estava ao meu lado outra pessoa que tinha entrado na sala depois de mim. Achei... indelicado. Esperei eu «que tempos» para entrar e aquela não aguardou um segundo. Não foi "barrada" ainda que tivesse travado a tempo, como eu fui. Não gostei. Coisa pequena, bem sei. Só podem estar dois eleitores na sala ao mesmo tempo, bem sei. Mas caiu-me mal. 

Estas coisas passam-me tão depressa que já haviam passado quando peguei na folha A4 com os rostos quase todos pouco conhecidos, para num colocar uma cruzinha. 

Vou colocar uma cruzinha ou não? Ainda estava em dúvida enquanto me dirigia ao divisor de voto colocado à frente de uma parede com pequenas janelas. Quando chego ali é para pegar na caneta e votar. Acabo por escolher uma quadrícula e desenhar uma cruz, com base numa curta conversa política que tive com uma pessoa que me apresentou o seu ponto de vista de voto. 

Cheguei a pensar não deixar cruz alguma. Deixar o voto em branco. Mas a minha confiança no sistema já não é mais a mesma e ocorreu-me que quem os fosse desdobrar pudesse aproveitar o voto em branco e "escolher por mim" o candidato. Cheguei a pensar, inclusive, se o devia tornar nulo. Coisa que não me passaria pela cabeça fazer antes. Mas como já disse, a minha confiança não é mais a mesma. Podia ocorrer de um voto nulo conter uma mensagem bem mais forte e acabar por ter mais força que um qualquer voto? (Há pessoas que investigam os votos mais insólitos). Ocorreu-me tudo isto em fracções de segundos, mas acabei fazendo "a coisa certa" - que é votar e não desperdiçar o voto.

Papel dobrado, dirigi-me à urna para depositar o meu voto. A pessoa que entrou atrás de mim antecipou-se e estava agora à minha frente. (coisa de segundos, eu tive de arrumar a carteira ao chegar ao separador, lembrem-se que a tinha na mão). A pessoa à minha frente entregou o seu voto, virou-se e saiu. Nisso dou com toda a mesa a rir. Trocavam chalaças uns com os outros. Estavam a rir do eleitor que já estava a sair pela porta. Riam-se, pasmem-se, por ter dobrado o boletim com "bicos".(presumo que canto com canto, obtendo uma forma triangular). 

Depositei o meu na urna - não o entrego para ser outra pessoa a depositar. Nunca tenho a certeza qual o número de dobras corretas a dar ao boletim, mas tendo em vista o anterior, o meu só podia parecer perfeito e irrepreensível. Acreditem, a seguir àquele boletim dobrado em triângulos, aos olhos daquela mesa o meu só podia parecer irrepreensível.

Saí com um sorriso e um agradecimento mas, ao mesmo tempo a achar cá com os meus botões, que não foi muito delicado por parte daquelas pessoas se rirem nas costas do eleitor e na frente de outro. 

Esta é a segunda vez que detecto vibrações «menos boas» das pessoas que estão na mesa de voto. 
E pronto. Foi isto. Coisinhas de caracacá que aqui decidi partilhar só porque me apeteceu :)

A esta hora já se sabe quem vai ser, por quatro anos (a menos que bata as botas) o novo presidente da Republica: Rebelo de Sousa. Só espero que seja um BOM presidente para este País.




4 comentários:

  1. Também comungo dessa esperança.
    Que desempenha bem as suas funções e que não ande às turras com o Executivo.
    Já tivemos disso em demasia.
    Boa semana!

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  2. Demasiado mediático para o meu gosto. Preocupa-se mais com a imagem dele do que com a dos outros !
    Ninguém consegue agradar a Gregos e a Troianos !

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  3. Pela primeira vez desde que posso votar, não fui. Envergonho-me por isso, mas quando estamos desempregados há mais de um ano há necessariamente dias melhores que outros. Ontem estava num estado meio letárgico, que é raro. Não teria votado Marcelo RB, mas agora já não importa.

    Perdida em Combate

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  4. Tinha uma colega que estava a sempre a ser chamada para a mesa de voto apenas porque vinha de um meio pequeno e tinha ido para a faculdade - parece-me uma prisão e acho que não ia gostar nada de ter o fazer.
    Quando fui votar o que me impressionou foi ver pessoas muito frágeis a fazê-lo.

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