sexta-feira, 7 de março de 2014

Recruta para emprego


Telefonei para a empresa da qual aguardava uma resposta sobre um emprego. Tinham-me dito para aguardar dois ou três dias e teria uma resposta da parte deles mas já se sabe como realmente a coisa funciona. Em portugal ninguém sabe fazer esta conta básica que é contar os dias que passam. Para as empresas, até mesmo aquelas cuja reputação e viabilidade assenta na pontualidade, os dias devem ter mais de 24 horas. Só assim se justifica que dois ou três dias tenham na realidade sido oito.

Não "passou nos testes" - responderam-me. Mas que testes? Não fiz nenhum. 
Limitei-me a comparecer e a escutar o que tratava a função. Por acaso achei que a pessoa que me recebeu não foi com a minha cara e essa impressão não se desvaneceu durante todo o processo. Mas é irrelevante, penso eu - se a pessoa é profissional sabe que não se deve chumbar alguém com base na primeira impressão e sem possibilidade desta lhe dar a conhecer do que é capaz.

Disseram-me apenas para me expressar em inglês, mas por escrito, não importando a gramática (lol). 
Ora, para uma pessoa que há uns anos tirou 98% num minucioso teste de inglês de contra-relógio também de admissão para emprego no UK, acho que mesmo destreinada não ia descambar para uma prestação negativa. Para não falar que o inglês tem sido o meu ponto de acesso a praticamente todos as funções que a ele recorrem como meio de selecção. Fui admitida para um emprego de difícil acesso na banca devido à minha gramática e à minha facilidade de expressão e entendimento na língua inglesa. Por isso coloco em questão que tenha sido este detalhe o factor que fez com que a minha candidatura tenha sido rejeitada.

O que acho que realmente acontece é que as pessoas são chamadas a comparecer para se fazer uma avaliação do seu aspecto. Se tens altura suficiente, se a tua cara é mesmo como surge nas fotografias, se és «volumosa», tens os dentes direitos, tens apresentação. A apresentação que a empresa julga essencial. E aqui entra também outra equação: se és jovem. Está certo que na candidatura deixei lá todos esses dados: altura, peso, idade - tudo ficou lá. Sou daquelas pessoas que até dá um quilo a mais ou tira um centímetro mas não mente sobre a sua altura, peso ou idade só para ficar melhor vista. 

Ao telefone disseram-me que ouve muita gente que não atendeu o telemóvel quando contactados durante o dia de ontem - pensando que eu poderia ser uma dessas pessoas com uma chamada não atendida. Pois, claro que não. Não seria de certeza porque eu atenderia uma chamada dessas ou daria retorno. Não ia ignorar e esperar pelo dia seguinte. 

Serão este tipo de pessoas que seleccionam, as que nem se dão ao trabalho de dar retorno a uma chamada e tiveram um dia inteiro para o fazer?  Devem ter sido as mesmas que chegaram à sessão atrasados, trinta minutos depois da hora combinada, que entravam na sala com a desculpa de que o atraso se deveu ao «trânsito» - outra característica deste Portugal. No meu entender pode acontecer, mas não sistematicamente em todo o sítio que se vai. Uma pessoa chegar atrasada ainda vai, mas METADE do total? A meu ver esta falta de capacidade em comparecer a tempo e horas no primeiro dia seria algo que quase de imediato me causaria uma má impressão. Principalmente naqueles que chegassem 30 minutos depois! Em todo o lado a pontualidade é considerada uma característica positiva, menos cá, em Portugal. 


E é por isto que acredito que a selecção se baseia na juventude e na aparência mais do que na noção de responsabilidade e na motivação ou capacidade. Não sei se teria ou não capacidade, para o descobrir sem grandes dúvidas aguardava a fase de fazer os testes e, claro, a derradeira fase do início do trabalho - só essas é que realmente nos colocam à prova. Mas não tinha dúvidas, devido à seriedade com que encaro tudo o que faço e a responsabilidade que tenho, que estava preparada. 

O que verifico contudo agora que já vou nos 30 e muitos é que as coisas NÃO SÃO MAIS AS MESMAS. Por isso, a todos os leitores deste blogue (que são para aí dois ou três) que ainda não chegaram a esta fase, deixo o meu alerta: tratem de se estabilizar o quanto antes profissionalmente. Isso de andar de estágio em estágio e depois de emprego em emprego empregando a vossa jovem energia e as vossas excelentes ideias ao que não vos dará futuro só vos prejudica. Quase todas as ofertas de emprego e o próprio mercado de trabalho são dirigidos aos jovens ou para os que aparentam ser jovens. Não é para os que se SENTEM jovens. Ou trabalham como jovens. Tem de se ser. 

Nunca pensei que a minha aparência pudesse funcionar contra mim. Jamais fui vaidosa, é verdade, mas também não era feia. Fazia o tipo de pessoa que era capaz de entrar numa sala e as atenções virarem-se para mim - ainda que não fizesse nada para tal a não ser aparecer e um pouco bem vestida. Está certo que já lá vai o tempo. Que envelheci e engordei uns quilos. Mas porra! Ainda não sou sexagenária!! A idade traz-nos um certo "carimbo" que nos diferencia das peles mais jovens. Não é «só impressão» que os rostos deixam de se virar à tua passagem, que o empregado atrás do balcão não te cumprimenta ou deseja um bom dia e também não é impressão que um recrutador prefere uma pessoa na casa dos vinte e não um na casa dos quarenta. 

3 comentários:

  1. Olha aquilo dos estágios é o que se passa comigo, mas se não for isso, não é mais nada =S
    E em relação ao aspecto, devia-se começar a ligar menos a isso, mesmo sendo atendimento ao público. Nem todos nasceram bonitos nem com os dentes direitos por exemplo e não é por isso que são menos pessoas que os bonitos e magros e dentes perfeitos.

    Beijocas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pensei em ti Claúdia, a escrever aquela parte sobre a idade. Já estive aí e embora tenha começado os estágios mais jovem, logo a seguir os empregos eram de m* como os que existem agora. O que quer isto dizer, sem dúvida alguma, que uma década nos separa e NADA mudou. Uma geração imensa de gente entrou e saiu da adolescência experimentando somente a precariedade laboral.

      Se encontrares um emprego que pague bem e seja seguro, ainda que tenhas de trabalhar muito e ele te desagrade, o meu concelho hoje será que o agarres. Se não encontrares dentro da tua área, eu sei que é difícil para uma jovem que ainda tem muitos sonhos fugir do rumo que sonhou. Alguns não têm problemas - os mais analíticos, conheci alguns assim e foram os que se deram bem. Porque «deitaram» fora sem grande esforço a área em que se formaram para agarrar boas oportunidades fora. Se puderes faz o mesmo, antes que chegues aos 30! Se chegares, vai para o estrangeiro - para onde eu também tinha ido não fosse ter feito a vontade de familiares.

      Vais ver que se não for estágios há mais algo sim! Procura onde nunca procuraste. Para ser explorada mais vale ganhar algum do que nada, não é?

      Joquitas

      PS: Saí para espairecer e já me refiz da sensação que a idade me tira os atrativos ehehe. Encontrei pessoas simpáticas, reparei que era reparada, nem tudo está tão mal quanto parecia. Já não sou sexagenária lol ;)

      Eliminar
  2. Vês, o que falta é as pessoas realmente sairem de casa e distrairem-se =)
    Anima logo!

    Eu já pensei seriamente em emigrar, admito. Vamos ver como tudo corre agora.

    Beijocas

    ResponderEliminar

Partilhe as suas experiências e sinta-se aliviado!