quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Influências musicais

Hoje perguntaram-me que tipo de música gostava. Que tipo de música? Não tenho tipos... gosto de música. Tive que responder que sou ecléctica.

Sei que para algumas pessoas isso não quer dizer nada ou é o mesmo que dizer que não se tem um gosto musical. Eu acho até que é precisamente o contrário mas deixo para cada um julgar. Considero-me uma pessoa que gosta de música ainda que não precise dela todos os dias. Existem mesmo alturas em que a música, algo tão belo, consegue ser uma agressão. Ou até um fait-divers. Alturas há em que soa por todo o lado e somos totalmente alheia à presença da mesma.

Por isso acho que o meu desejo de escutar música depende do momento e do contexto. É um apelo que se sente interiormente, é espiritual. Não preciso de ouvir música todos os dias, não tenho bandas predilectas, não sei nomes, estou alheia aos festivais musicais que se realizam por este País e se os músicos dependessem de pessoas como eu para ganhar dinheiro viviam mais pelintras do que alguns já são. No entanto, julgo que a sei apreciar. Em todos os seus estilos. Ou tenho a minha forma de gostar. E nessa forma não excluo nada, não rotulo nem a separo em duas categorias: boa ou má. Dependendo do momento já tive alturas em que me senti preenchida até com uma sessão de Heavy Metal a passar na rádio. A música se não existisse tinha de ser inventada, porque os bebés mal nascem e escutam um ritmo já se põem a abanar.

Gostava de ir a uma ópera. É algo que ainda está para fazer. Gosto de música de orquestra, gosto de música clássica e instrumental. Não que não saiba apreciar músicas rock, românticas ou até pimba. Gosto de sons diferentes, de culturas diferentes, pronto, acho que sou ecléctica mesmo :)


E porquê sou assim - fiquei a pensar. Acho perda de tempo procurar razões para o que não se consegue explicar nem precisa de explicação. Cada qual é como é. Mas isto fez-me tentar perceber a que tipo de influências musicais fui exposta enquanto crescia


Quando era criança escutava a música que meus pais colocassem pela casa. Mas a altura em que mais se
Neste caso, uma banda Sueca
de música pop
escutava música era nas deslocações de carro. Os maiores sucessos musicais dos anos 60/70/80 compilados de disco de vinil para cassete... Grandes grupos ou artistas, geralmente ingleses, americanos mas também italianos, franceses e brasileiros. De portugueses escutavam-se também os "clássicos", principalmente as músicas dos festivais da canção e outras que ainda hoje têm um lugar distinto no panorama nacional.

Fado... ocasionalmente devo ter escutado. Mas pouco se ouvia pela casa. O que achei curioso foi anos depois, já em adulta, ter sabido que supostamente minha avó gostava muito de ouvir cantar o fado. Quer dizer, quem é que não teve avós que não gostavam de fado? Os meus gostavam mas foi algo que não lhes descobri mais cedo, porque não eram de colocar o toca-fitas ou o gira-discos a tocar. Gostavam de o ouvir por estas tascas da vida :) 

Música clássica... ao que fui exposta? Não recordo. Mas sei que gostava pois lembro de apreciar Mozart, Bethoven, Bach. e de me ter emocionado bastante com uma melodia que não me saia da cabeça e me deixava encantada, angustiada e deprimida ao mesmo tempo. Quando mais crescidinha por vezes gostava de sintonizar uma rádio que só passava música de orquestra e a reacção de minha mãe aos primeiros acordes sempre foi gritar "desliga essa porcaria!". 

Rock, pop, rap, funck, metal e demais estilos cujos nomes até desconheço - pois tenho a sensação que a toda a hora estão a inventar um novo estilo melódico, uma nova categoria e eu que mal consigo catalogar o que existe nem o pretendo, basta-me saber apreciar o que me chega aos ouvidos. Fui exposta a estes géneros musicais e a todos os que a minha geração aquando adolescente escutou. Às bandas sensação do momento, ao "fanatismo" idolatra que me passou ao lado e não me atingiu, mas que nem por isso me deixou de parte dos hábitos da altura, como andar de walkman na rua ou carregar um rádio portátil. Só era chato era quando alguém se aproximava a pedir para escutar o que eu estava a ouvir, porque queriam sempre saber e a resposta "aceitável" na altura só podia ser o que todos concordassem que era bom de se ouvir. Madonna, Gun's N Roses, Bon Jovi ou outro grupo que estivesse na moda. Se fosse dizer que estava a escutar a banda sonora da novela do momento faziam uma careta de reprovação e ainda mandavam uma boca qualquer. Ainda que a seguir a virarem as costas ficassem com vontade de também ter acesso à mesma e alguns até fossem tentar arranjar. Pelo que preferia que não me chateassem com o interrogatório e dizia que escutava "várias músicas" gravadas da rádio. O que era verdade. Era tudo gravado da rádio ehehe. Existia o preconceito e uma certa pressão juvenil para se escutar o que todos escutavam. Nunca fui muito nessas influencias mas julgo que é natural em qualquer jovem. Assim como hoje em dia se uma pré-adolescente não gostar dos One Direction, não é "boa gente" e se admitir apreciar o Bieber (espero ter escrito bem), é um tanto gozada/o por isso. São estigmas parvos sem lógica alguma mas que fazem parte dessa altura da vida que é a adolescência.

Bom, eu escutava muito bandas sonoras de novelas. Se acompanhava a história e me emocionava, era natural que as músicas começassem a fazer parte dessas emoções. E hoje admiro a capacidade que os profissionais de então tinham para colocar nas novelas músicas instrumentais, clássicas, sempre tão adequadas à emoção e apelativas. No caso das novelas brasileiras em particular, colocavam clássicos adaptados à sua língua. Músicas como "All I Ask From You", do espetáculo "O Fantasma da Ópera" (1986), melodia que fez parte da angústia amorosa de "Leonor e Ascânio" na novela Tieta do Agreste (1989) mas em versão brasileira. Aliás as novelas podem ter os seus defeitos mas têm também muitas qualidades e uma delas é aproximação cultural, levando ao mais variado público conhecimentos que de outra forma não chegaria até grande parte deste. Não só nos clássicos musicais, mas também nas referências históricas, na geografia, nas adaptações de clássicos da literatura mundial, nas rapsódias, nos trocadilhos - uma boa novela escrita por pessoas com ampla cultura e capacidade de entrar na personalidade das mais variadas criaturas nesta terra, é uma obra fantástica. 

Em 1989 os brasileiros já nos presenteavam com isto:



Que no fundo é isto:


Cena do filme "O fantasma da Ópera" 2004 - Com a portuguesa Sofia Escobar no papel de Christine

E quando a novela pegava nestes clássicos ou mesmo nos não clássicos e passavam uma versão somente instrumental então delirava, podia escutar a melodia em pleno. 


Mas até mesmo antes das novelas, existiram os filmes da Disney. Vi poucos, lembro de poucos, mas o único que recordo é "A Bela Adormecida" (1959) devido à música que fiquei a cantar durante dias e dias. Embora a minha memória que pode falhar por não ter tido tempo de memorizar a letra e poder ter "inventado" remeta para uma letra em português um tanto diferente da versão portuguesa e brasileira que encontrei na internet e que disponibilizo de seguida, a melodia é um clássico que ainda hoje é capaz de entrar em muitas obras de ficção por este mundo a fora.


http://www.youtube.com/watch?v=ygBqkaSfC48 - link multilingue
http://www.youtube.com/watch?v=hnfDQxJAEGk - link multilingue só do trecho lá-lá-lá


"Once Upon A Dream" - Sleeping Beauty (1959) versão portuguesa  (2008)

  Mas de todas as músicas que "andam por aí", a minha curiosidade vai para as "nossas" tradicionais. Aquelas que corriam de boca em boca, que faziam parte das cerimónias religiosas, de costumes que já lá vão... Um belo dia apanhei já a meio de uma prestação musical televisiva um grupo de "cantandeiras" regionais e tradicionais. Achei aquilo que elas cantavam muito bonito e fiquei a ouvir. Nisto surge a minha mãe e demonstro-lhe o fascínio que aquela música me exercia. Vai ela, com toda a naturalidade e sem se surpreender, diz que conhece a música muito bem e que minha avó costumava a cantar constantemente. E vira as costas a cantarolá-la. Fico surpresa! Nunca ouvi minha avó cantar aquela música, que por sua vez deve ter aprendido com a mãe ou demais familiares, segundo revelou minha mãe. Seria então uma música que poderia estar nos meus lábios, não tivessem os tempos mudado tanto. Existe muita coisa que não conhecemos sobre os nossos e as músicas que sabem cantar é uma dessas coisas. O "reportório musical" de minha avó só começou a surgir aos meus ouvidos para o final dos seus anos de vida, quando o Alzheimer levou quase tudo da memória menos as músicas que aprendeu a cantar e conseguia ainda aprender. E cantava tantas e tantas. Geralmente músicas tradicionais, algumas foram "requalificadas" no universo da música infantil. Outras que desconhecia que ela sabia cantar. E mais parva ficou a minha alma quando ouvi meu pai cantar ao neto algumas músicas desconhecidas até então aos meus ouvidos. E saber que são cantigas "muito comuns" para eles - comuns e desconhecidas. Cantigas que um dia morrem de vez da cabeça das pessoas, porque já poucas as cantam. Cantigas que vão sobreviver em discos especiais, em livros mas se calhar não nos lábios humanos. 

2 comentários:

  1. toui de rastos, o que tu foste buscar daquela novela brasileira, fui teletransportada para outro século.....agora se alguém quiser saber de mim, que te perguntem por onde ando!!!

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  2. Tá certo. Também segui o link e acabei por andar por "lá" eheh! Até o finalzinho, vici?

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