segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Cartão de cidadão: ficar bem para a fotografia

Fui tratar de renovar o cartão de cidadão.
Mal cheguei e tirei senha, chamaram-me para posar para a foto. Aproximei-me, posicionei-me e a máquina disparou.
Só depois entendi que tinha o cabelo mal apanhado, um risco lateral mal feito, com fios soltos pelo ar e um farrapo patético deles a se deixarem escapar pelo pescoço. Exclamei: "estou despenteada" ao que a pessoa disse que podia tirar outra foto "é agora ou nunca" - diz.

E eu dispensei.

Só depois reflecti neste simples gesto de pessoa que não é vaidosa. Lavava as mãos no WC e pelo espelho observei o meu rosto emoldurado pelos cachos de cabelo. Lembrei que é suposto para os cartões de identificação uma pessoa ficar mais "compostinha". Porque será que na altura não me deu para isso? Afinal preparei-me de véspera... tratei do cabelo. Agora durante CINCO anos vou ter uma foto minha que não vai mostrar o meu melhor. 

Mas não é isso que me incomoda. Por estranho que pareça, dou por mim a pensar que daqui a CINCO anos provavelmente já não vou ter este aspecto que ainda passa por jovial. Estarei na casa dos 40 (pois é). Provavelmente já poderei ter alguns cabelos brancos e algumas rugas pronunciadas no rosto. E levando em consideração os últimos anos como medida, provavelmente por essa altura estarei totalmente careca. E é isso. Desperdicei uma «última oportunidade» (de "ficar bem na fotografia") e é essa sensação de "perda" que subitamente me afligiu.

Recuei também no tempo, por volta dos 14 ou 16 anos quando entrei numa cabine fotográfica automática, para tirar fotografias tipo-passe para o cartão escolar e também não quis saber de compor o cabelo. Passei por uns rapazes que, como todos os rapazes, gostavam de ficar ali de "plantão" junto à máquina só para gozar com quem aparecia para a usar. "Com essa cara ainda estragas a máquina" "Ui! Feia assim ainda estragas a máquina!" e coisas desse género que não me afectaram minimamente. Ao contrário. Até me deixavam bem mais tranquila do que se escutasse ou sentisse que suscitava outro tipo de comportamento e pensamento.

Minha mãe desgostosa por não ter tirado uma fotografia mais bonita, no dia a seguir aproveitou que ia ao cabeleireiro e decidiu que íamos todas e depois tiravam-se novas fotografias. E assim foi. Novamente entrei dentro do centro comercial onde voltei a "esbarrar" com o mesmo grupo de rapazes. No dia a seguir a terem-se metido comigo, não me reconheceram como sendo a mesma pessoa. Agora era gira, era bonita, era interessante. E ouvi elogios e piropos. Só mudou o cabelo!

O cabelo faz diferença. Eu tenho constatado isso nestes últimos anos porque infelizmente tenho sofrido bastante de queda. E embora ainda tenha o suficiente para não se perceber nenhuma "carecada", nestes 10 anos a queda foi acentuada e irreversível. Ninguém acredita que tenho falta de cabelo (nem o especialista se acreditou) até ver uma fotografia do "antes". Dizem que perdi 3/4. E eu acredito que seja verdade. Porque a memória sensorial é muito mais persistente e duradoura e dou por mim a sentir as diferenças ao apanhá-lo na totalidade, ao reparar na linha da testa, ao sentir a sua extrema leveza a pesar do seu imenso comprimento. O facto do elástico para agarrar o cabelo dar várias voltas e de nenhum travessão ter algum tipo de utilidade e escorregar cabelo abaixo, quando antes não conseguia usar qualquer um de jeito nenhum, eram todos pequenos.


Nem sei porquê me apeteceu "revelar" tanto sobre a minha pessoa neste post de reflexões a partir de um acto corriqueiro. Mas enfim... daqui a 5 anos, quando renovar novamente o bilhete de identidade conto aqui se já tenho peruca ou pinto o cabelo ahaha!


3 comentários:

  1. O cabelo!... O cabelo faz tanto por nós. Eu tenho fotos minhas de há anos em que pareço bem mais velha por causa do corte de cabelo que tinha na altura. Quanto ao halloween fui "levada" pelo americanismo e pela Joana que juntamente com as amigas há 3 anos começaram a sair para o doce ou travessura. Eu prefiro o Pão por Deus bem Portugues mas infelizmente deixado perdido no tempo. Quanto aos finados, lamento terem tirado esse feriado, e este ano os cemitérios estavam mais despidos de flores, de familiares, de gente que costumava visitar os seu ante queridos e agora se vê privada deste dia.

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    1. Obrigada pelo seu comentário pinta roxa. Gostei muito :) E a pesar do desabafo que lhe deixei no seu blogue sei que é pelas crianças que os adultos seguem "novas" tradições. (não é à toa que o grande marketing está dirigida a elas). Beijiiinho

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  2. Olha, eu fico sempre amarela e com cara de estúpida! Não queiras ser eu...é triste!

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