sexta-feira, 14 de junho de 2013

O facebook dos adolescentes


Sinto que fico verdadeiramente conectada às cabeças de um pré-adolescente quando percebo a forma como se expressam no mural do facebook. Ao ler os comentários, ao perceber a forma como reagem às publicações, pela quantidade incessante de fotografias que colocam de si mesmos, pelos interesses que revelam em bandas de música, em roupas, em ídolos, na forma de se expressarem entrei si e às coisas e o que esperam que seja o comportamento de cada um deles perante uma publicação.

Nesse sentido acho que o facebook está a ser desprestigiado. Ele presta um benefício aos adultos como nenhuma outra ferramenta consegue, numa fase em que entender os pré-adolescentes pode ser difícil para alguns adultos mais "desmemoriados" da sua própria existência nessa idade. Não adianta vir debater se a aplicação devia ou não ser acedida por pessoas de tão jovem idade. Não adianta porque tal facto é inevitável. O facebook assim como outras aplicações e tecnologias impuseram novos hábitos em toda a sociedade. Não se pode esperar que uma criança fique atrás dos mesmos. É assim mesmo que se convencionou, é uma alteração nos hábitos da sociedade que se generalizou e por isso é até um tanto "patético" achar que os adolescentes, tão sempre na vanguarda da tecnologia como estão, alguma vez poderiam ficar de lado.

A verdade é que cabe ao adulto saber orientar o adolescente perante esta nova forma de interagir. O que até pode ser muito positivo, conforme já expliquei, porque permite ao adulto ter uma "janela aberta" para a cabeça e alma de seu filho, de uma forma que não sendo invasiva também não precisa de ser forçada.

Não se deve impedir uma criança de evoluir no sentido em que a vida evolui, pelo que não vejo na proibição do uso qualquer sentido. Todos temos de nos adaptar às mudanças sociais sem travar o desenvolvimento das crianças, pelo que mais importante do que uma criança ter conta de facebook é perceber que é uma realidade inevitável e que vem acrescida de cuidados e concelhos educativos diferentes. E estes fazem falta. Não só para o universo do facebook mas para a vida em si, pois esta também já se deixou dominar em vários níveis pela tecnologia. Ao alertar uma criança para os riscos do uso de uma tecnologia «segura/insegura» como o facebook, estamos também a incutir nela uma semente de atenção que lhe vai durar, se possível, a vida toda. Uma criança que não esteja em contacto com esta realidade fica excluída das coisas como elas são. E poderá ficar vulnerável aos perigos que ela acarreta, quando com ela começar a se expor, por não estar familiarizada com o relacionamento inter-pessoal entre pessoas por este meio.

Creio que é um grave erro menosprezar a capacidade cognitiva de uma criança - deixando por lhe explicar a razão das decisões tomadas e das preocupações. A criança é mais inteligente que qualquer adulto. Só não está munida do conhecimento de experiência de vida e de algumas consequências de gestos que possam parecer inocentes. Mas inteligência e capacidade para absorver conhecimento é coisa na qual qualquer criança supera um adulto até com uma perna nas costas. Portanto, valorize-se isso, dando a elas todo o conhecimento não-literário que possam necessitar para se adaptarem melhor ao mundo.


E como ia relatar, observar o mural facebookiano de um pré-adolescente é um aprendizado. Acho que a primeira coisa que notei e que me fez impressão é a forma como se manifestam diante da publicação de (mais) uma fotografia. O utilizador coloca uma fotografia nova da sua pessoa e logo de seguida "chovem" comentários de colegas e amigos. E estes lêm mais ou menos assim: "super gata!" Lindaaa!" - seguidos de símbolos ou abreviações que servem somente para reforçar e dar mais ênfase ao elogio. Nunca vi nada que não fosse esta "rasgação de seda", por assim dizer, o que me leva a deduzir que é da praxe elogiar sempre a fotografia de alguém com estes adjectivos.

Outra coisa que observo é a expressão "Dedicas?" - muito utilizada entre eles. Significa que quando uma pessoa coloca uma imagem sua no facebook, depreende-se uma certa "exigência", uma "regra de etiqueta" que diz, entre pré-adolescentes, que o certo é dedicar a foto a alguém. Não é de bom tom embora não seja ofensa, colocar uma foto por colocar. E sem uma descrição também não é muito bem aceite. Os pré-adolescentes gostam de saber que as coisas lhe são dirigidas. Em resposta aos comentários, o autor costuma dizer "obg, obrigadaaaa", numa modéstia recatada que faz lembrar uma donzela do século XIX quando lhe elogiam a beleza.

O mundo gira muito, mas por mais que mude, algumas coisas nunca mudam na essência. Sofrem alterações expressivas, mas está tudo lá: a recatada modéstia ao receber um elogio, a vontade de receber elogios, as primeiras preocupações "românticas" e de amizade, as mãos dadas e os primeiros beijos com o primeiro namorado, os gostos musicais, os estilos de vida admirados nos ídolos, o que acham bonito em roupas, em estilo, o papel da escola e os stresses dos testes, os concertos a que se quer ir, os bilhetes que se querem comprar, as marcas de roupa e vestuário mais apreciadas, as modas que uns seguem, as férias como lhes correram e tudo com fotografias! :)

O facebook de um pré-adolescente reflecte bem aquilo que são e a fase que atravessam. É bom aproveitar, porque acredito que ao chegarem à adolescência já serão mais restritos, saberão controlar e vão querer realmente controlar quem vê o quê e não serão, suponho eu, tão puros nas suas manifestações e opiniões quanto na pré-adolescência. Acompanhar o crescimento do indivíduo pré-adolescente pode não ser possível pessoalmente, mas através pelo facebook fica-se com uma boa ideia, quem sabe, até mais ampla. Porque, como diz a expressão, vê-se melhor uma árvore e toda a sua beleza quando à distância. Muito perto só faz perceber as saliências do tronco...















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