sexta-feira, 29 de março de 2024

Bottega de limão é uma bodega

 O tipo de bebida alcóolica que toca os meus lábios ocasionalmente, são os licores e vinhos. Como o vinho do porto, a ginja, anis, creme de wisky e pouco mais que isso.

Nas últimas viagens que fiz a sair de Portugal, deu-me para adquirir, no duty-free(?) do aeroporto, bebidas espirituosas. Quem é emigrante sabe que, a coisa que mais se deseja trazer na bagagem é o gostinho do nosso país: chouriços, queijos, compotas, etc. Vinhos, sendo líquidos, só podem ser transportados no porão e nem sempre me dou ao luxo de viajar com outra mala sem ser a de cabine. Além de que vinhos, em garrafas de vidro, são altamente prováveis de se partir. 

Mas a aviação, quando se trata de fazer dinheiro, abre excepções que, de outra forma, poderiam ser encaradas como riscos de segurança. De modo que transportar um enorme pedaço de vidro contendo um líquido inflamável para dentro de uma cabine não é proibido na forma de bebida alcóolica comprada nas lojas pós-segurança.

Tudo começou com esta garrafa aqui:

Aguardente ou cachaça - era uma bebida que me despertava imensa curiosidade. Nunca tendo provado, cansei de ouvir "piadas" de que estava a beber "pinga" quando ingeria água de garrafa. Depois encontrei receitas de vários tipos que incluiam um pouco de aguardente. E fiquei com curiosidade. Mas a principal razão que me levou a adquirir esta menina aqui foi emotiva. 

"Aldeia Velha" não sei se é uma marca conhecida ou não, se é ou não um bom produto. Lembro-me de ouvir falar do nome, talvez num anúncio de TV lá nas antiguidades. Custou. no aeroporto, 22 euros. Achei um pouco caro mas, pensei que era a marca e o estar num aeroporto. 

A razão pela qual a comprei foi por me lembrar do aroma delicioso da "garrafeira" do meu avô. Não passava de um pequeno armário de arrumos onde ele depositava as suas coisas: ferramentas, utilidades e algumas garrafas. Chamavam aquilo de "garrafeira" e, como era onde guardavam os bancos extras da casa, era lá que ia sempre os buscar, quando no Natal nos juntávamos todos e era preciso lugar à mesa. Existindo seis cadeiras, o resto tinha de se sentar nos bancos de madeira. Aliás: uns tantos eram todos de madeira, outros dois eram pés metálicos pretos com um tampo de madeira coberto com um acrílico. 

O PERFUME adocicado que se fazia sentir quando se abria a porta da "garrafeira" foi algo que meus sentidos recentemente recordaram saudosamente. Sabia que meu avô gostava de aguardente e bagaço. E tinha disso em casa - embora nunca tivesse visto. Mesmo existindo uma garrafeira daquelas embutidas nos armários da sala - nunca que a curiosidade me levou a ir provar fosse o que fosse. Gostava sim, era de olhar. De imaginar quantos anos teriam certas garrafas, gostava das que tinham um formato diferente, em forma de toureiro ou outra forma criativa de trabalhar o vidro. 

Comprei a aguardente para a cheirar. Para ver se ia reproduzir o aroma da minha memória. Para trazer um pouco mais para perto de mim aquele tempo, aquele convívio familiar, meus avós. 

Cheirei e, embora tenha sim uma semelhança, não é a mesma coisa. Falta talvez a combinação que só meu avô tinha lá naquele armário onde guardava tudo e mais alguma coisa. 

Da última vez que regressei de Portugal, queria trazer algo novamente. Mas não sabia o quê. Não entendo de vinhos ou licores. Só os sei apreciar :) Sei que adoro sabores citrinos e, vendo esta garrafa de um produto italiano feito de limão, acabei por o escolher. Um pouco reticente, por ser italiano. Mas era de limão! Onde é que o limão não cai bem?  


Pois. Aqui não cai bem. Nem sei bem o que isto é. Não me soube particularmente a nada. Pareceu-me, inclusive, ser muito artificial. 

Lamentei não ter trazido um vinho do porto - mesmo um transparente que lá havia. Ou uma ginga, ou, finalmente, arriscar e provar o tão impingido licor de pastel-de-nata. 

Compro as garrafas, provo e depois acabam por ficar por aí. Até que um dia encontre uma receita para lhes dar melhor uso. 

O Bottega de limoncino é uma bodega. 
O formato da garrafa foi útil. Sendo "achatado" coube na mala de ombro mesmo esta estando cheia. Acabou por servir para acomodar meus pés sem danificar os pastéis de nata e outros snaks sensíveis. Custou 16 euros no aeroporto. Nos sites vejo mais. É no mínimo, estranho. 

adenda: Entretanto fui pesquisar e este é tido como um licor feito de forma natural e tradicional. Mas... é líquido como água. E o gosto.. nem é dos mais fortes. Embora deva, para ser justa, provar novamente para perceber melhor. Acho que deve ser bom para fazer tipo "Balleys": uma bebida de natas com umas gotas deste licor e a consistência cremosa deve conceder-lhe um paladar especial. 


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