terça-feira, 21 de novembro de 2017

Fui um pulha - 2

Como contei, tinha acabado de me sentar no transporte público, grata e aliviada por ter conseguido lugar, quando entrou um senhor idoso, que de início nem vi.

A rapariga à minha frente inicia o movimento para se levantar e lhe ceder o lugar. É aí que dou conta da presença do homem, porque este diz-lhe para se deixar estar. Não precisa que lhe ceda o lugar de propósito, só aceitaria se ela fosse sair na próxima. A rapariga deixa-se, então, estar. E eu estou quase para fazer o mesmo que ela, levantar-me e insistir para que o senhor tome o meu lugar, quando dou conta do meu cansaço mas, também, do jovem rapaz que está sentado à minha frente.

Erámos todas mulheres naqueles quatro bancos. Excepto ele. 

Não é a primeira vez, nem a segunda. Provavelmente nem a vigésima mas é recorrente. O simples conceito disto desilude-me mas é uma realidade que consto facilmente nos transportes públicos: quando alguém vai para se levantar do lugar para ceder o espaço a uma pessoa com mais idade, essa pessoa NUNCA É UM HOMEM. 

Está sempre a acontecer: entram pessoas a quem é suposto ceder o lugar por terem prioridade - grávidas, pessoas com crianças, idosos ou pessoas portadoras de bengalas ou deficiência e NADA de um mancebo que está mesmo ali se levantar. 

São quase sempre as mulheres que cedem lugar, mesmo quando sentadas ao lado de jovens rapazes.

Mas o que é que se passa com o «cavalheirismo», morreu de vez?
Se temos noção de que devemos ceder o lugar, então também sabemos como deve funcionar as prioridades. Também se sabe que fica bem a um homem que viaja sentado ceder o lugar a uma senhora que está em pé. Porquê? Pelo mesmo princípio pelo qual o cedemos a idosos, crianças e pessoas de fraca mobilidade! 

Mas já não se faz isso nem com idosos, como deu para perceber. O rapaz ali sentado nem se mexeu. Estar rodeado de três mulheres, uma prestes a ceder o lugar a um homem idoso, não o sensibilizou para o seu «dever». Aceito, um pouco com maus olhos, que um jovem aparentemente saudável na flor da idade e cheio de vitalidade, acabe por não ceder o seu lugar a uma mulher que, aparentemente, não tem nenhum problema. Pode viajar em pé, simplesmente é mulher e provavelmente está mais cansada ou carrega mais sacos e malas... Mas um jovem rapaz, saudável, capaz de sair dali a correr e subir todos os degraus da escadaria aos pulos, saltando dois em dois...

Fica mal. 

Ainda na véspera, fui eu que cedi lugar a uma senhora que entrou no eletrico (daqueles antigos) com uma criança pela mão. Ainda aguardei uns segundos a ver se o homem ao meu lado ia ter esse gesto de cortesia. Ou qualquer outra pessoa ali, realmente. Mas NINGUÉM reagiu e eu não esperei mais tempo e perguntei à senhora se queria sentar a criança no meu lugar. Ela nem me ouve há primeira, distraída que está a tentar certificar-se que paga a viagem e a criança está junto dela. Pelo que tenho de repetir para que me oiça e para que seja ela a ficar com o lugar, e não outro que vem atrás. 

Nestes preciosos segundos, o homem ao meu lado não tomou a iniciativa, nem nenhum outro naquele eletrico. Não cedem o lugar a mulheres, a idosos nem a crianças. De facto a MULHER tem muita mais sensibilidade. Muitos homens parecem ser uns insensíveis. Até que um dia, sejam eles a precisar de lugar.

E quem é que lhos vai ceder?
As mulheres. 

6 comentários:

  1. O cavalheirismo morreu!
    E sim, se não forem as mulheres a ceder o lugar a quem precisa, nada feito.

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    1. Também tens essa impressão?
      É interessante começar a prestar atenção a esses detalhes.

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  2. Não diga isso.
    Eu, homem, cedo o meu lugar, SEMPRE.
    Tem tido azar porque se tem cruzado com homens mal educados.
    Também há mulheres assim.

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    1. Acredito pedro.
      Mas o Pedro é um Português de boa cepa que ainda por cima vive no oriente, onde, pelo que sei, os hábitos no que respeita a gestos de gentileza e cordialidade são diferentes. Os orientais são pacientes (?), aguardam a sua vez de ser chamados sem refiar (?), enfim, características que por cá são cada vez mais individuais e não tanto colectivas, obtidas pelas regras da educação social.

      Abraço

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  3. Eu tenho tido a sorte de vários rapazes se tem levantado no autocarro para me dar o lugar, que só se estiver muito cansada, ou com dores aceito. Tenho mais dores sentada, do que e pé
    Abraço

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    1. Por vezes também prefiro ir de pé, mesmo estando um lugar vago. Depende. Por exemplo: se entro num autocarro cheio e não há lugar vago, mas encontro um bom canto para me encostar, de pé, mesmo que na paragem seguinte desçam muitas pessoas e vaguem lugares, nem sempre me sento. Desde que esteja capaz de aguentar os safanões, continuo de pé.

      Mas não gosto de ver dois tipos de comportamentos. Um é quando um rapaz acaba de entrar num autocarro cheio e não tem lugar. Assim que vaga um ele vai a correr sentar-se, ultrapassando ou bloqueando pessoas mais velhas que estão mais próximas. Para depois sair na paragem seguinte. Vejo isto amiúde e por dentro estou a censurar esse comportamento.

      Depois há os INGRATOS.

      Ontem, por exemplo, viajava no autocarro cheio, quando saem pessoas, a primeira foi a senhora sentada à minha frente. Eu estava mesmo ali, a segurar-me ao poste onde o banco fica. Podia ter-me sentado. Vi uma senhora algo larga de ossos a dirigir-se para lá e deixei que se sentasse, até porque eu pretendia aguentar a viagem de pé, ali naquele poste. Pois assim que a senhora se sentou, começou a mexer no cabelo, incomodada. Alguns fios estavam a roçar na minha mão. Tentei colocar a mao mais acima, mas não dava a mesma segurança e controle então voltei a posicionar no lugar e desviei uns tantos fios de cabelos da senhora.

      Ela ainda compõe um pouco mais os cabelos. Nisto prepara-se outra senhora para sair, a que viaja no banco de trás. E ao passar, roça nos mesmos fios de cabelo, mas sem tocar na cabeça. A que está sentada subitamente vira o pescoço para trás, com um olhar furioso e refila algo em voz alta.

      Eu censurei essa senhora. Ainda há segundos ela, eu e muitos outros estavamos todos apertados sem nos conseguirmos mexer ou segurar direito. E agora ela estava a viajar confortavelmente sentada. Por isso devia sentir-se grata e demonstrar mais tolerância com pequenos inconvenientes como o ser despenteada. Mas o que fez assim que se sentou foi mostrar desagrado com todos, por causa de uns fios de cabelo que, por sua responsabilidade, saiam para fora do «espaço» da cadeira.

      Enfim, Elvira. Histórias nos transportes públicos não devem faltar :)
      BFS

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