sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Aconteceu-me uma coisa inusitada


Hoje ia a caminhar pela rua quando uma mulher pergunta-me:

-"Tem tempo? Quer participar num inquérito?" 

Tenho empatia com quem faz inquéritos e, ao contrário de todos os momentos desde que cheguei a novas terras, pela primeira vez tinha sim, tempo para dispor. Então disponibilizei-me a ajudar. Contudo, quando percebi que a mulher não tinha nenhum questionário e queria que eu subisse um vão de escadas até o desconhecido para proceder a um teste de opinião, fiquei reticente, a a analisar o ambiente sem sair do lugar. Só tem de cheirar uns produtos de limpeza e responder qual gosta mais - dizia-me ela, muito apressada, misturando coisas e quase que sem se fazer entender. 

Bom, estou noutro país, os costumes podem ser outros. Mas bem à moda portuguesa perguntei:
-"Não vou ser assassinada mal chegue lá acima, pois não? 
Ela, agarra-me na mão e puxa-me em direcção às escadas: "Não, não vai". Já a subir os tantos degraus atrás dela, continuo: "Nem assaltada? É que o assaltante não levaria muito".

Chego lá acima, deparo-me com uma sala com umas 8 mesas, cada qual com uns frascos de lado e umas folhas. A senhora apressa-me a sentar-me numa dessas mesas, coloca-me um questionário à frente e desata a atirar-me com perguntas para as quais nem quer realmente saber a resposta. Quando hesito um segundo em lhas dar, por refletir, ela escolhe por ela mesma. Sempre a falar como uma metralhadora, e a passar cada folha agrafada para trás da outra com uma rapidez desconcertante.


Nesse instante os meus instintos de pessoa séria que tem intenção de participar com autenticidade num estudo de mercado, começam a sentir-se incomodados. 

Ela mostra-me o procedimento e depois, sem se fazer entender claramente, diz-me para continuar até ao fim do questionário e vai-se embora. Tem uma amiga, que a auxilia e trouxe para a mesa o copo de cheiro, amostras que eram mantidas numa mesa à parte. Ambas saem a correr, mal e porcamente instruindo-me para continuar a ir buscar amostras e, no final, avaliar os produtos não diluídos em água.

OK, vocês precisam de ir angariar mais clientes, entendo. - respondo-lhes. Devem ganhar à cabeça, só podia. Daí a pressa incomodativa. A segunda mulher sorri e ambas desaparecem tão depressa que nem vi como.

Levo algum tempo até entender o esquema de selecção. Temi misturar a ordem das amostras e assim avaliar erroneamente alguma. Quando terminei, dirigi-me, como instruída, à mesa de recolha de inquéritos. 

Foi aí que quis perceber se tinha realmente entendido bem o que me pareceu que a mulher, quando me puxava pela mão, tinha dito: "Responde a umas perguntas e no final damos-lhe 5 euros".

Pois entendi bem. Recolheram o inquérito, fizeram-me assinar uma folha e entregaram-me umas moedas. Não vou mentir: fiquei contente. Embora tenha dito à senhora que teria participado à mesma no estudo, voluntariamente. Afinal, disponibilizei-me a isso antes da mulher ter introduzido na conversa o "chamariz" monetário.

Depois vi outras pessoas chegarem - um grupo de 3 teenagers, meio sorridentes. Percebi de imediato que sorriam porque iam ganhar 5 euros cada uma.




Mas não gostei da forma como o estudo de mercado estava a ser conduzido. Nem pareciam estar focado num determinado público. COMO PODE uma pessoa LEVAR A SÉRIO qualquer resultado de um «estudo» se estes são feitos nestas condições? A mulher que recolhia participantes nem queria saber da opinião dos mesmos. Era só a despachar. O inquérito em si deixava pouca margem de manobra para que um produto pudesse distinguir-se do outro por algum lado. Enfim... Eu, como alguém que aprendeu na escola o que são inquéritos representativos e estudos de mercado válidos, como alguém que tem ética, tudo aquilo foi um pouco contra o meu entendimento mas certinho com a consciência que entretanto adquiri do que é a realidade.

E andam empresas a pagar a outras estes «estudos de mercado» para obterem resultados absolutamente fantasiosos. Bem vindos ao capitalismo!

Não tive a presença de espírito para tirar umas fotografias, embora umas tantas me fossem tiradas pela senhora que estava no comando do estudo. Gostava que vissem. Pelos vistos, por estas terras, é comum pagar aos participantes para dar a sua opinião. Mas isso não está certo. Embora tenha sabido bem :)




9 comentários:

  1. Epá, que falta de profissionalismo :P

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    1. Não querem saber. Outros valore$ falam mai$ alto hoje em dia.

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  2. Ao menos não foi mau de todo. Receber 5€ por uns minutos de "trabalho" é coisa rara hoje em dia :)

    P.s- E os links continuam sem aparecer?

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    1. Os links tiraram-nos para sempre. eu não os apaguei. O google deve ter desactivado a função e isso interferiu com alguns blogues.

      Bem vinda de volta!
      E à escrita, ja voltaste?

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    2. Voltei mas é como se não tivesse voltado porque ainda estou "enferrujada". Vou tentar entrar em forma mas não prometo grande coisa lol.
      Esse google é um malvado! já me aconteceu isso e lá fiquei sem os links.

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  3. Já respondi a alguns por telefone mas nunca ganhei nada :(

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    1. Por telefone, na rua...
      Não se ganha nada. Normalmente ainda se tem de comprar alguma coisa :)

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  4. De regresso a casa, visito os amigos e a primeira coisa de que me dou conta é que a portuguesinha anda por outras terras que não o seu país.
    Quanto ao inquérito, ser "pago" não me escandaliza. O que escandaliza é a falta de profissionalismo nele. O facto de quase não darem importância ao que a pessoa realmente sente e pensa sobre os produtos em questão.
    Um abraço e bom Domingo

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    1. Bem vinda, Elvira!
      À sua casa, aqui a esta casa e espero que a sua saída de terras algarvias tenha deixado bons frutos atrás.

      Sim, ando fora do país, «sem lenço nem documento...», mas serei sempre a portuguesinha :) Foi por falta de tempo (e internet) que não pude relatar tudo detalhadamente. Mais para a frente conto tudo.

      Também me incomodou a falta de rigor. É importante para tornar qualquer estudo viável. E nenhum devia ser pago e sim realizado com voluntários. O dinheiro faz com que as pessoas digam sim a qualquer coisa e não dêm a importância merecida. Mas se conseguirem reunir as pessoas certas, aí sim, talvez recompensá-las com merchadising ou monetariamente, seja justo.

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