segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Sacrifício maternal - conceito e exemplo


«TRABALHAR».
Até há poucos anos, era raro uma mulher trabalhar fora de casa. Geralmente ficavam a tomar conta dos filhos e isso era o seu "emprego". Não remunerado, algo solitário e de horizontes meio limitados.


Hoje quase todas as mulheres têm de trabalhar. Até porque os homens assumiram mais descontraidamente o seu lado de madriões e a alguns não lhes custa nada ficar encostados o dia todo no sofá de casa anos a fio, a comer e a beber, enquanto a mulher se encarrega de ganhar o sustento e levar os filhos à creche. 


Mas o que não concordo é que a sociedade eleve o estatuto destas mulheres ao de "sacrificadas-heróicas". Sacrificadas porque têm de trabalhar e ao mesmo tempo são mães? Heróicas porque conciliam as duas coisas? 

Está certo que uma mulher é multitasking e a maioria continua a ter um papel muito ativo nos dois patamares. Mas não é verdade que seja uma «sacrificada», por ter de ir trabalhar ao invés de ficar em casa a cuidar dos filhos. SACRIFICADAS foram todas aquelas que, sentindo apetência para outros vôos, viveram numa época em que à mulher as asas para esses vôos lhes eram cortadas. SACRIFICADAS foram as que ficaram em casa a cuidar dos filhos.

Sejamos sinceras: cuidar de crianças custa. Muito! É gritos o dia inteiro. É um frenezim de energia e uma imensidão de trabalhos para fazer. Mal acaba um, começa outro. É dar banho, é dar de comer, é vestir, é acatar os brinquedos, é educar, é cuidar, é tudo! E dura 24 horas, sem intervalo.

Naturalmente, uma mulher que tem um emprego no qual se refugiar, vê nisso uma BENÇÃO. Ah, uma folga de 8h dos filhos, que delícia! O contacto com outras pessoas, com outros assuntos e actividades de pessoas crescidas. Um autêntico bálsamo! 


Depois estas mulheres, que trabalham e cujos filhos ficam aos encargos dos avós para economizar as finanças ou parcialmente no infantário, para poupar mais uns tostões, dizem que é "duro". Pois claro que é. Sem dúvida. Mas imaginem lá o tão duro que seria se fossem mães a tempo inteiro?


Não é por isso de admirar que ainda a baixa de parto não terminou e muitas já estejam ansiosas para regressar ao trabalho FORA de casa. Custa deixar um bebezinho? Custa. Mas custa mais estar 24h a cuidar dele.

Quem se «sacrifiou»?


Dêm é valor à família ou infraestruturas que têm ao vosso dispor. Porque de parabéns estão os avós que ficam o dia todo com esse frenezim de energia, que acompanham e que cuidam para que, uns anos mais tarde, os «louros» sejam todos para os pais. E os avós acabem numa casa de repouso, com poucas visitas da família. Se não fossem esses avôs, já cansados mas que vão buscar paciência sabe-se lá de onde (às tantas não têm tanta quanto deviam) e os infantários e creches, as mães teriam de estar sempre, 24h sobre 24h, com os filhos. E digam lá: é ou não é bom chegar a casa (principalmente após um dia mau) e receber aquele sorrisinho e aquele abraço e amor incondicional? Uma horinha com o rebento até ele ir para a caminha e no dia seguinte, no final do dia, ficar com a parte melhor e não ter de lidar com a outra? Claro que é. Bem sei que uma mulher, a menos que tenha babá e empregados domésticos diversos, acaba sempre por ter de viver «as outras situações» também. Mas é menos, numa escala muito menor. E não fica privada do contacto com outros adultos e das conversas sobre outros assuntos que não bebés, fraldas e chupetas.

Sacrificadas? NOT!

5 comentários:

  1. As mulheres são é umas SUPER mulheres :))

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  2. Portuguesinha, penso que não és mãe pelo que aqui escreveste.
    Sacrificadas são as mulheres que além de ser de continuarem a tratar dos filhos, continuam com responsabilidades com a casa, com as roupas, com as refeições da família e ainda GANHARAM a possibilidade de ter uma "carreira" e trabalhar fora de casa!
    Apesar de trabalharem fora, continuam com todas as responsabilidades dentro de casa. com as crianças, a sua educação, estudos, reuniões da escola, trabalhos de casa.
    E como nota, as crianças portam-se geralmente bem durante o dia, é ao final do dia que com o cansaço ficam rezingonas e fazem as birras: Não quero tomar banho", não quero jantar".
    Só ver os filhos à noite é trabalhar todo o dia e à noite lidar com as suas birras e caprichos, muitas vezes ficando a pensar "no que eu errei? Talvez devesse ficar com eles a tempo inteiro.".
    Esta, é a realidade das mães trabalhadoras!

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    1. Olá Paula. Tenho outros posts sobre esse tema onde falo abertamente de vários aspetos. Mas neste em particular abordo outro, mais subtil aos nossos olhos, que nos tempos que correm é recorrente e pouco assumido, um tanto camuflado. Acho que está na altura de falar da importância e do valor que outras pessoas têm na criação dos filhos que não são seus.

      Como supões e como já deixei aqui escrito, não sou mãe. Biológica. Mas conheço esse cansaço, porque eu sou aquela pessoa que fica com estas crianças enquanto os pais estão no trabalho .:D Estreei-me faz quase 18 anos nessas «lides», rsss.

      Do meu ponto de vista posso dizer-lhe que é pessoalmente pouco recompensador, a longo prazo. As crianças dos outros que ajudas a criar crescem e desaparecem. Te «esquecem», como costumava dizer a minha educadora de infância por volta dos meus 5 anos de idade. A quem visitei umas poucas vezes nos anos seguintes, a pedido da mesma, mas depois isso simplesmente deixa de acontecer.

      A perspetiva deste post é essa. As mães de hoje em dia contam muito com ajuda externa. Ainda que isso não as deixe mais "folgadas".

      Uma mãe sempre se questiona, é normal. Mas começa o seu contacto mais prolongado com os filhos a poucas horas de estes terem de ir para a cama. Tempo que tentam que seja qualitativo logo no carro, quando lhes perguntam como correu o dia e o que fizeram. É neste tempo que vão ter de lidar com caprichos, berros, a correria, toda essa mega-energia, sem dúvida mais vigorosa por os filhos estarem finalmente em casa, com os pais. Mas na generalidade, estes são momentos que duram 2h durante 5 dias da semana e quase 24h durante os outros 2. Os educadores - sejam eles profissionais ou "alugados" por laços de sangue ou afetividade, levam com esse desgaste o dia inteiro. E na manhã seguinte, a rotina repete-se. É deliciosa, mas também cansativa.

      Nesse sentido acho que vai concordar que a mãe de hoje, ao passar menos tempo em casa, também tem um desgaste menor, não no geral, mas por simplesmente transferir essas responsabilidades para outras pessoas durante 8 a 10h do dia. Em nenhuma altura disse que a preocupação é menor e questionamentos não surgem. Sei que sim. A vida das mulheres continua a ser uma de multitask.

      Mas a mulher trabalhadora tem hoje uma infraestrura de apoio. Muitas contam com a ajuda de empregadas domésticas para tarefas de casa, limpezas e roupa engomada e têm onde colocar os filhos durante as horas de trabalho. Também podem pedir a alguém para ficar com eles durante uma noite de sábado para ter um momento a dois, ir ao cinema...

      Não digo todas, mas é inegável que muitas mães têm esta infraestrura e algumas até mais. Se o rendimento for elevado, mais podem facultar aos filhos. A decisão pode até passar por colocá-los em colégios internos e os ver mais espaçadamente. Mas pensando no exemplo mais comum da mãe que todos os dias os vai buscar à escola (ou tem quem vá), se existir um percalço, ela pode apoiar-se nos avós, que é mais comum. Estes tomam conta dos netos por mais duas a três horas, cuidando das suas necessidades, desde a alimentação, ao banho, ao colocar para dormir, ao cuidar de alguma doença, acudir a um pesadelo e aguentar e desviar a atenção da criança quando faz repetidos apelos chorosos pela presença da mãe.

      Porque uma coisa deliciosa de assistir é esse amor incondicional de um filho por uma mãe! Mais um aspecto onde o cuidador fica a perder, rsss.

      As mães de hoje continuam a ter muito que fazer porque são as gestoras de todas estas infraestruturas que têm a seu dispor. Mas e como era quando não dispunham delas? Nesse sentido fiz uma analogia e concluí que as mais «sacrificadas» são as de antigamente. Essas faziam exatamente a mesma coisa, sem terem tantos apoios. Provavelmente a paciência esgotava-se-lhes mais rápido, afinal, é birras, choros, berreiro e correrias o dia todo e nem eram recompensadas com conversas que fossem para além de fraldas e filhos :D

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    2. Portuguesinha, começo por te tirar o chapéu. A ti e a todas as educadoras de infância. Cuidar dos filhos dos outros não é pêra doce. Apesar dos miúdos pequenos serem super queridos e carinhosos com as educadoras.
      Depende dos miúdos, é certo. Mas as crianças pequenas nunca estão quietas, caladas, sossegadas e todo este desassossego desgasta quem está com eles. Verdade.

      No entanto, permite que discorde de outro ponto que referes. Na minha opinião, as mulheres de hoje têm menos apoios que antigamente. Apesar das creches, dos ATL e tudo o resto que o dinheiro possa pagar.

      Se tiver dinheiro, pode ter tudo. A mãe "normal" não tem tudo isto.
      Tenho 3 filhos, tenho pais e sogra. Nunca tive esse apoio de avós irem buscar os meus filhos à escola e ficarem com eles até eu chegar. Ou porque não estavam perto, ou porque não têm saúde. é o preço que pagamos por ter filhos mais tarde.
      Tínhamos de ser nós a sair do trabalho a horas para os ir buscar à creche, sabendo que ficávamos mal visto no trabalho, sermos olhados de lados quando saiamos, já depois da hora de saída, para ir buscar os filhos.

      A minha avó nunca trabalhou fora de casa. Cuidada da casa, marido e filha. Mas tinha uma casa cheia de apoio familiar. A minha bisavó saudável a fazer tudo o que fosse preciso, várias tias avós "solteironas" disponíveis para ficar com crianças, estender roupa e o mais que fosse preciso.
      Antigamente as famílias eram bastante alargadas, com várias gerações na mesma casa, com muitas mulheres que nunca tinham casado (por o pai as ter impedido que tivessem casado com quem pretendiam). Enfim, um batalham de gente que se apoio mutuamente.

      Como dizem os ingleses "it takes a village to raise a child", é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança.

      Hoje as famílias são mais pequenas, já não existe a tal aldeia de apoio. Agora criaram-se os apoios formais que têm de ser pagos, têm hora de fecho. etc.

      Se admiro o trabalho das educadoras? Muitíssimo!

      Se considero que as mães têm nos nossos dias a vida facilitada? De forma alguma. Muito pelo contrário!

      vidademulheraos40.blogspot.com.

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    3. Também concordo com tudo o que escreve. Acho que a maioria dos pais têm a infraestrutura de que falei - felizmente, mas alguns ainda só podem contar consigo mesmos. Já vi um pouco de tudo.

      E também já tinha refletido nisso da solidariedade. Mesmo que não existissem tios, tias, bisavós ou avós por perto, antigamente também se contavam com os vizinhos. Tivessem eles filhos da mesma idade ou não.

      A vida muda muito mas educar uma criança continua a ser aquela tarefa deliciosa, ingrata, árdua e a melhor do mundo! :D

      Bj

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