segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Presentes de Natal - vou desbobinar tudo


Tenho uma família pequena, estendida à dos cônjuges são umas 20 e poucas pessoas, e todos os Natais costumo presentear todos. Este ainda não foi a excepção. Ofereci 16 presentes, um para cada pessoa que estava debaixo do teto de convívio natalício, fossem casais ou crianças. Recebi seis presentes. Um por cada "parelha". Por exemplo: uma família de três recebeu três presentes de mim, mas ofereceu apenas um. Também tenho quem todos os anos leve, mas nunca deixe. O que me faz pensar muito sobre as convenções. Como são rapazes e solteiros -ou melhor, vivem como se casados mas não foram à igreja nem ao civil dizer o «sim» (ao contrário dos outros), ainda se julgam abrangidos pela "lei" natalícia das crianças que, não sendo independentes nem tendo fonte de rendimentos, recebem mas não se espera que ofereçam presentes, a não ser por intermédio dos dois pais. Não sei que «convenção» dita que jovens adultos a viver na casa dos pais não têm de oferecer presentes de Natal mas devem receber, nem sei que convenção dita que jovens adultos a viver fora da casa dos pais porém não formalmente casados, de estado civil «solteiros» não têm de oferecer presentes a ninguém, mas se espera que recebam. Não sei quem «inventou» estas convenções mas sempre fui uma excepção à regra e agora começa a incomodar-me que mais ninguém o seja. Após todos estes anos, já são cerca de 20, começo a interpretar tudo isto como oportunismo. A meu ver não passa de sovinice.

Não tenho muito dinheiro, nunca tive um salário muito elevado e infelizmente já estive desempregada  muito tempo, sem receber tostão algum da Segurança Social porque trabalhei a recibos verdes. Desde a adolescência que adquiri o hábito de pegar numa qualquer quantia que tenha economizado e compro presentes a pensar em todos. Ou então faço alguns, também levando em consideração ada pessoa. Costumo gastar entre 120€ a 180€ na altura do Natal. Não me perguntem no quê - tento ser poupada porque é de minha natureza, mas quando vou a somar o que já foi gasto, surpreendo-me quase sempre. Este ano tentei economizar, como penso que toda a gente fez, e na sua maioria, ofereci doces caseiros. Um gasto mínimo em materiais e a oferta de algo que serve de alimento - que vai passar a ser a categoria que vou querer privilegiar. Ainda assim os gastos se mantiveram na referida escala monetária.

Agora vou falar do que recebi. Dos meus pais, como sempre, recebi com generosidade. Dos seus muitos defeitos, serem sovinas na altura do Natal não é certamente um deles. Aliás, se tiver de apontar alguma crítica é que deviam pensar melhor antes de se porem a comprar indiscriminadamente. O quanto gastam por Natal pode variar entre os 500€ e os 1500€! Este ano talvez tenham arrebentado o «escalão» e isso preocupa-me, pois só eu sei que têm dívidas ao banco - de valores mínimos divididos por muitos e muitos anos, mas a vida não está a facilitar nada a ninguém e eles não estão a alterar os hábitos de consumo de acordo com a nova realidade.

Depois recebi artigos comprados na loja dos chineses, que vinham com o cheiro típico e tudo. Artigos tão baratos e banais que nem tinham etiqueta. Mas o pior, para mim que não costumava olhar «os dentes» dos cavalos, foi um livro. Eu adoro livros. Gosto de ler. E não me incomoda nada que me ofereçam livros em segunda mão, desde que bem conservados. Já ofereci uns, sem saber porque pareciam todos novos como se de stock se tratasse, adquiridos nessas feiras-do-livro ao ar livre. Mas na altura do Natal? Um livro usado seria o de menos, se não estivesse a ser passado como novo! Todo cheio de marcas de uso e manuseamento, com os cantos moles e um vinco numa das partes. Mas o pior mesmo, aquilo que não apreciei, é que nem sequer se deram ao trabalho de me oferecer uma história. Um romance, um policial, algo do género. Ofereceram-me "reflexões". Um conjunto de «ses» que não me interessam por aí além. E nem sequer consegui identificar a editora, acho que é uma edição personalizada editada por uma entidade. Fiquei desapontada com a comprovada sovinice. Está certo que se «recicle» presentes, mas que o façam com coisas de jeito. Com o que comprariam para vocês mesmos. Uma vela, um sabonete, um bibelou... novos ou com aspeto disso. Se vos dessem como presente de Natal uma vela usada com o pavio cortado rente mas semi-ardido, não iam gostar, pois não? Então um livro sem história e com marcas de uso é a mesma coisa.

Já o ano passado esta mesma pessoa me surpreendeu ao me oferecer algo simples e sem serventia que obviamente não comprou ou se comprou não lhe custou muito. Sempre fui mais próxima desta pessoa que de outras e sei que é naturalmente sovina. Mas costumava também ser dada às «aparências», o que a fazia gostar de dar presentes de valor ou qualidade. Principalmente depois de casada, em que pode contar com parte do dinheiro do marido para determinados gastos. E por vezes fazia disso uma «competição» silenciosa entre ela e os irmãos. Porém, acho que deixou de sentir necessidade de aparentar ser generosa e abraçou de vez a sua sovinice. Creio até que seria ainda mais sovina, não fosse ainda estar casada, embora segundo ela a coisa ande quase para romper faz anos.

Eu sou poupada e gosto de reaproveitar e ser criativa muito antes disso virar moda ambiental mas ela é sovina mesmo, só pensa em não gastar dinheiro e é daquelas que passa anos a dar «toques» no telemóvel alheio mas não completa a chamada. E ainda por cima tem saldo, depositado pelo marido, mas não o quer usar. Eventualmente só o faz em caso de extrema necessidade.

Por tudo isto: os que não trazem presentes, os que trazem artigos baratos e os sovinas, este ano senti uma vontade tremenda de não dar nada a ninguém, a não ser a minha presença. E mesmo essa tive uma genuina vontade de poder partilhar com outras pessoas, que necessitassem. Andei à procura de voluntariado para o dia de Natal, ia gostar de me juntar a outros e ajudar a distribuir uma refeição, por exemplo, aos que estão mais sozinhos e precisam. Simplesmente achava que ia ser mais natal para mim se assim o passasse. Acabou que não foi mau. Numa casa onde se tem uma criança, o Natal anima sempre um pouco. Mas esta parte dos presentes... é melhor não olhar os «dentes do cavalo», porque nem todos te oferecem um que não os tenha podres.













5 comentários:

  1. Lol. Existem actos tão vazios que mais vale não praticar.
    Oferecer bricabraques do chinês, objectos/livros usados é tão absurdo como enviar a mesma sms à lista toda sem personalizar uma vírgula. São palavras cheias de vácuo.
    Esta época é quando as hipocrisias chegam ao cume.

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  2. Um bom retrato da sociedade portuguesa contemporânea;)

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  3. Ufaaaa... descobri-te :)
    (já me habituei a dar e não receber, pelas mesmas razões, não casados e acham-se no direito de não dar nada)
    Mas este ano já comecei a selecionar... e a conta baixou consideravelmente.

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    1. Então Lírio? Sou difícil de encontrar? :)
      Para o ano quero ver se vou conseguir mudar alguma coisa. Eu quero, mas chega a altura e lá vou oferecer a todos. Mas já começa a afetar-me, pelo que conto mudar.

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