segunda-feira, 13 de maio de 2013

A Mortalidade aponta para o viver a VIDA

Não sou pessoa de ter experimentado muitas perdas para a morte. Só mesmo há seis anos é que se foi a primeira pessoa a quem era próxima com uma regularidade diária e foi esse o momento em que senti pela primeira vez, o «peso» do luto.

Já havia perdido meus avós paternos muitos anos antes mas o sofrimento foi diferente. Custou, mas foi aceite como uma consequência da vida e da idade. A distância e, creio que a juventude, não permite que nos prendemos em grandes reflexões. A vida "continua"... Senti muito mais estas perdas pela tristeza de meu pai, por lhe observar a sofrimento, do que tanto pela minha, pois acredito que custa mais a um filho. A história de vida que estes dois indivíduos partilhavam em comum é diferente e assim o demanda a "lei" dos afectos.

Como explicava, considero o "primeiro" contacto com a perda de um ente querido aquele que vivi há seis anos. E desde então voltei a viver outro, o ano passado. Não foi preciso nem um instante nem mais experiências para concluir que, cada caso é um caso. É, por comparação, como uma gravidez. VIDA e MORTE são únicas para cada indivíduo. Nunca são iguais. Não se sentem iguais e não se vivem de igual modo.

Mas uma coisa também aprendi logo: quando um avó nos falece e nós somos adultos, é quando, pela primeira vez, começa-se a reflectir na própria mortalidade. Até então, diria que a natureza faz o ser humano ser um pouco alienado dessa realidade. Ah, ele a conhece, pois claro que conhece! Sabe que existe e que é inevitável. Mas também a sua chegada é hipotética e longínqua  A probabilidade dela ocorrer lá no fim da vida, daí a muitas décadas, é quase como que imaginar o hipotético. A juventude vem carregada com tanta força vital, que enquanto jovens nos concentramos mais na conquista da vida. Estamos demasiado ocupados em tentar nos entender no meio dela, para reflectir demasiado no assunto da sua perda. A noção existe, o assunto é abordado, mas tudo é ainda no campo "hipotético"...

Mas quando alguém falece e nos é próximo, isso muda. Ainda mais quando já temos uma boa idade para entender. E é quando se sente que uma página FOI VIRADA. Agora, TU estás mais perto desse outrora LONGINQUO destino. Ocupado que estavas com a escola, com a puberdade, com a entrada para o mundo adulto... Percebe-se, muito de repente, que o tempo passou e que estás um degrau acima na sucessão. Só uma geração te separa do tão falado momento. Tão "hipotético" que este tinha sido até então na vida da pessoa.

Nesse instante, pensar na própria mortalidade ainda não assusta tanto quanto irá certamente assustar. Ainda não ocupa tanto o pensamento quanto um dia irá ocupar. A mortalidade "que se segue", quando a natureza segue o seu rumo sem "baralhar" as cartas, é a dos pais. E a PERDA destes passa de forma fugaz pelo teu pensamento. Mas passa a ser mais "material". A consciência que um dia um deles ou os dois te vão faltar, no sentido de não estarem mais cá, passa quase que a ter "carne". É como se pertencesse ao estado gasoso e começasse a passar ao líquido. Um dia passará a sólido e depois a constatação. Nessa altura, quando passar a constatação, outra constatação certamente se materializará: envelheci. O tempo passou. A juventude se foi e a maioria da minha vida também. O que me aguarda? A morte. E nela irei pensar muito mais vezes...

Sentindo que a morte está mais próxima, certamente que isso me fará dar mais valor ao milagre da vida. E a desejar ter tido um pouco mais dela, mais nova, para poder viver com esta renovada sabedoria os anos que passaram e não voltam mais. Conclusão a que provavelmente chegarei:
Porquê desperdicei tanto tempo desta maravilhosa vida?? 

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