domingo, 13 de maio de 2012

Descriminação ao que vem de Lisboa




Como o nome neste blogue diz, sou de Lisboa. Sou uma “Alfacinha de Portugal”. Mas quando tive de complementar os estudos no ensino superior, fui parar a outra localidade. Foi preciso chegar ao último dia de muitos anos de curso para descobrir o seguinte:

Colega:Ah, tu até és uma pessoa simples e simpática. Eu pensei que eras um tanto arrogante.”
Eu:Ah? Porquê?”
Colega:Ah, por nada. Foi uma impressão que tive. Não fiques chateada”.
Eu:Não me chateio. Mas de onde tiraste essa ideia?”
Colega: Porque na primeira vez que nos conhecemos disseste que eras de LISBOA de uma maneira… olha que não fui só eu a pensar assim. Muitos acharam o mesmo.“Mas afinal não és nada disso” -  diz ela, acrescentando ainda que outras pessoas a quem tinha em alta conta afinal desiludiram e provaram não serem boas pessoas.  

Depois de matutar neste diálogo, percebi que ao longo de todos aqueles anos houve pessoas com quem me relacionei que mantinham uma “muralha” erguida, uma postura impenetrável. Aqueles que não se riam, que não mostravam interesse em me conhecer melhor ou que se mostravam extremamente desagradados por me dar com outras de quem já gostavam… Estas pessoas decidiram logo ali: «não gosto desta miúda» e ficou assim. Não por mim, mas por eu ser de Lisboa. A capital, a grande cidade, o lugar das oportunidades… e estava ali. "A fazer o quê?"  -  perguntaram alguns em verdadeiro espanto. Ser de Lisboa passou a ser um fardo, ainda que não o entendesse totalmente, alturas existiram em que senti alguma hostilidade, que não pensei dirigida a mim em particular, mas pelos vistos era. Depois deste diálogo as coisas ficaram mais claras. Como peças de um puzzle que finalmente se encaixam. Todas as vezes que ouvi “Em Lisboa há de tudo, aqui não há nada”, lá vinha um olhar penetrante como uma navalha.  “Tu tens sorte porque és de Lisboa”, "Fui poucas vezes a Lisboa, é um tanto confuso e tem muita gente mas gostava de morar lá".

Eu nunca me vi diferente de nenhum deles. Podia ser dali ou do estrangeiro, para mim era tudo igual. A naturalidade ou as posses materiais não são, para mim, motivo de descriminação. Que maluquice! Esse preconceito vinha deles, de alguns deles, que, no fundo, dão razão àquela expressão: “quem desdenha quer comprar”. Soube depois que muitos desses que tanto mal falaram e tanto cobiçaram, mudaram-se para Lisboa assim que puderam. E sem olhar para trás! Querem lá saber das raízes… Contudo, duvido que não continuem portadores do vírus da «mentalidade tacanha», que tanto lhes pautou o comportamento e a razão. Eu julgava que a ideia que um provinciano faz de alguém da capital era um mito, deitado abaixo, ainda mais entre estudantes universitários à beira da viragem do século. Mas senti na pele que não. Havia mesmo quem acreditasse, sem sequer ouvir uma palavra da minha boca ou me conhecer, que era arrogante e que tinha a mania, porque era natural de Lisboa. Mais tarde vim a descobrir que a reputação dos oriundos daquela região também não é das melhores… Mas na altura isto não era sequer uma coisa que me passasse pelo pensamento. Tenho sérias dúvidas que pessoas assim mudem. O preconceito carregam-no dentro de si, o sentimento de inferioridade e exclusão também. Façam o que fizerem, será sempre meio-autêntico, meio-falso, porque o que lhes interessa é o status e a aparência. Custe o  que custar.

10 comentários:

  1. “Em Lisboa há de tudo, aqui não há nada”

    Estou habituada também a ouvir disso!

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    1. Pois é S. O que fazer? Por um lado compreendo do quê estão a falar, por outro é um preconceito da cabeça de quem o diz que os pode "cegar" para o que têm. Os outros lugares não são vazios de interesse. Até acho que a qualidade de vida pode perder-se em cidades grandes, já em locais mais pequenos, quando uma pessoa quer distrair-se procura cultura, eventos desportivos, convívio. Acaba por existir uma melhor qualidade de vida. Em cidades grandes a tendência é o pessoal acanhar-se, acomodar-se, fechar-se em casa stressado com trânsito. Toda a moeda tem dois lados, né?

      Obg pelo comentário :)

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    2. Depois também há a outra versão, Alfacinha!
      Há os que dizem que em Lisboa as pessoas não têm qualidade de vida e no campo é que é bom.

      Tudo é relativo. Depende da pessoa e dos seus gostos. Mas devíamos todos respeitar as escolhas, mesmo diferentes das nossas. Tento fazer de conta que não ouço!

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    3. Hoje tenho umas perguntas no meu blog, gostava que respondesses. É coisa rápida.
      Obrigada pelos comentários! :)
      Bjs.

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  2. Muito obrigada por todos os teus comentários :)
    Só tenho apenas uma achega a fazer: nós não somos mão de obra barata, pois eles têm tabelas de vencimento e nós recebemos como licenciados (tal como o licenciado inglês), indo sempre o ordenado “evoluir” exponencialmente ao nosso tempo de serviço. Por isso, não somos de todo baratos. No entanto, a parte de nos integrarmos bem, é completamente verdade, acho o português um camaleão, adaptamo-nos a qualquer sítio e a qualquer situação.
    E na verdade tenho bastantes esplanadas na minha cidade, que quando está solinho (não se pode pedir tudo, né lol) sabe muito bem ir beber um fruit shake, eheheh.
    Quanto ao texto dos Vampiros, eu coloquei logo no início a autora do mesmo, por isso podes sempre ir visitar o cantinho dela!

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    1. Olá Corina.
      Por vezes sou assim... gosto de ler e varro tudo com comentários lool ;)
      Ainda bem que corriges isso da tabela de vencimento ser igual independentemente da origem do trabalhador. A minha experiência foi escandalosamente diferente embora não me tivesse afetado. E sobre as esplanadas... lool ;)
      Ai que me escapou a autora! Vou espreitar novamente. Está fenomenal. É um texto lírico que mais parece poesia. Vou dando espreitadelas para acompanhar a tua nova aventura. Cumprs.

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  3. Eu estou à vontade para responder a isto, pois apenas trabalho em Lisboa. Independentemente de onde sou, sempre me habituei a avaliar as pessoas pelo que demonstram, não pelo acaso de terem nascido aqui ou ali. E se há coisa que a vida já me ensinou é que há pessoas fantásticas e pessoas parvas em todo o lado. Beijoca!

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  4. P.s. Não devias deitar fora o que os outros consideram "lixo" se não o considerares também tu. Podes sempre tentar dar um melhor fim :)

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    1. VerdezOlhos, faço parte de uma família muito desapegada de afectos por objectos. Do género: avariou, deita fora. Funciona e é bom mas já é velho, substitui por novo. Sem equacionarem qualquer ligação emocional com as coisas. Faz-me confusão mas, a bem ou mal, não sou assim.

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