Passei por um outdoor de rua com os seguintes dizeres: "usado, velho, partido. Compramos".
E qual é o produto? OURO.
Dá-me um embrulho de repúdio ao ler aquelas expressões usadas com o intuito de diminuir o valor. Puro é sempre ouro. Não perde o valor. Não importa se está partido, usado ou muito menos se sé "velho". Pelo contrário: se for velho pode valer ainda MAIS que o valor do seu peso. Desde que tenha uma marca de alguma antiga confeitaria.
Numa ocasião na minha vida, entrei numa dessas lojas que dizem "compramos ouro". Levava comigo uma pulseira e um colar que queria muito vender porque não me diziam nada. E também uma pulseira de infância da qual não me queria desfazer mas levei a pensar se me traria mais valor.
Fiz isto por alguma revolta. Na altura fui trabalhar em navios cruzeiros por um contrato de 3 meses. É trabalho árduo, sete dias por semana, 12 horas de trabalho oficiais, 18 na realidade.
Fiz por curiosidade, vontade. Quando regressei a Portugal minha família me "presenteou" com a necessidade de se comprar um computador novo. E me disse para usar esse dinheiro.
Concordei mas me senti defradada. Nem pude sentir o dinheiro na conta. E estava novamente a zeros.
Por isso peguei naquele ouro que não me dizia nada - a pulseira é colar a combinar, mais um anel sem importância tudo compra recente de pouco mais ou menos de 10 anos com intenção de recuperar um pouco. A pulseira de infância não queria realmente vender. Peguei na câmera de fotografar e ampliei o símbolo cunhado no fecho. Depois pesquisei na internet. Tal como intui, ouro dos anos 70, 80, de qualidade, feito por artesãos e com mais valor por isso.
Cheguei a loja de ouro em Alvalade, Lisboa, entrei e achei estranho. Uma jovem mulher ao balcão. Mostrei-lhe o ouro que queria ver em forma de dinheiro: o colar e pulseira. Ouro reluzente 🌟, desse moderno, sem riscos, como que acabado de sair da vitrine.
Não mostrou grande interesse nem pelo conjunto nem pelo anel. Sei bem... A arte de criar não lhes interessa. É tudo derretido para criar lingotes.
Mas aí veio a pulseira de infância... Ela pegou naquele óculo e tentou disfarçar o interesse. Mas insistiu em comprar aquela pulseira. Estava indecisa, não queria. Mas subitamente lembrei-me do computador e de como me impuseram sem perguntar que usasse o meu suado dinheiro para o comprar e, nesse impulso, disse que sim. Aquilo tudo deu uns 60 euros. Uma MISÉRIA.
Ela passou-me o recibo 🧾 e eu saí da loja. Dei apenas uns passos não muito distantes e arrependi-me. Quis a pulseira de volta. Não queria o dinheiro. Voltei atrás só para me deparar com a porta fechada e a grade metálica corrida. Ela fechou a loja de imediato. Decerto para tratar toda empolgada do "achado" que acabara de fazer.
Quis bater, devolver o recibo e pedir a devolução, dizer que mudei de ideias. Mas ela foi mais rápida que eu e assim que me viu atravessar a soleira da porta tratou de bloquear meu regresso.
Não sei porquê sempre fui assim... Deixar os outros me enganar. Sabia da presença da marca. Sabia que tornava a peça especial. Não seria decerto derretida.
Contudo fiquei a aguardar que fosse ela a mencioná-lo. A ser honesta. Ela nunca mencionou mas só se empolgou com a compra depois de a ter visto. Nem queria saber do resto.
Nunca mais irei vender ouro. E tenho asco deste tipo de engano a que tentam levar as pessoas mais bondosas a cair.
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