segunda-feira, 16 de junho de 2025

Queer Pride

 

Caminhava apressadamente ontem pela rua, saída do emprego até casa. Perto de um edifício que costumava ser de escritórios mas foi transformado em apartamentos, no qual já passei algumas vezes sem ver ninguém por perto, estava uma pessoa magrinha, sentada a fumar e agarrada ao telemóvel. O cabelo louro e comprido a esvoaçar com o vento. Mas as pernas, cruzadas e nuas sob o sol, mostravam veias grossas e músculos salientes, além de pêlos compridos louros que cintilavam com o sol. A cabelo tapava o rosto da pessoa mas tive curiosidade em colocar os olhos para olhar. Porque para mim, tratava-se de um homem de cabelo comprido, embora parecesse uma mulher de relance - que foi como avistei o vulto.  Vi um bigode farfalhudo louro numa semi barba e todo aquele cabelo louro, comprido e solto. 

Comprovado que as pernas estranhas para uma mulher eram de facto de um homem, desviei o olhar e este foi parar no olhar de outra pessoa. Um outro fumador, sentado mais dentro do pátio, que estava a mirar-me com intensidade. Assim, um olhar desafiador, que eu interpretei como: 
"Sim, somos queer. E daí? Tens algum problema com isso??".

O "orgulho gay" está por toda a parte. As cores do arco-íris, apropriadas sem permissão ou timidez da inocência das crianças e da infância para se tornar um símbolo para um grupo sexualmente ativo com preferências diferentes. 

Nas lojas, nas prateleiras dos supermercados, em cartazes nas ruas, em bancadas montadas nos centros comerciais, na cafetaria do meu emprego. Ontem quase tirei uma foto porque subitamente, pareceu-me desnecessário e até redutor todos aqueles enfeites. Mas depois deixei para lá. 

Já fui a duas paradas gay aqui no Reino Unido. Por casualidade, pela alegria e animação. Na primeira, anunciada com popa e circunstância por mais de uma hora por uma banda de música a desfilar pelas ruas da cidade tocando um ritmo de tambor semelhante ao samba até chegar ao parque onde se realizava o evento. Entrada a pagar embora eu, como moradora local, tivesse recebido um convite pelo correio. Acabei por o oferecer a um pai que estava com duas crianças e aguardava a chegada da mãe para entrar no evento. Que consiste em uma espécie de feira popular com barraquinhas de comes e bebes e animações mecânicas e um espetáculo musical ao vivo, tudo vedado.

O estranho nestas coisas é o excesso de arco-íris numa só pessoa e os excessos de indumentária. Parece que quando mais chocante, melhor. Não sei se isto é defender uma causa, uma preferência, mas não faz muito sentido. O queer é tão aceite hoje, está tudo tão sensibilizado para as suas "lutas" que se esquecem que todos nós, como seres humanos que somos, estamos sempre a travar as nossas lutas. Os que não pertencem a grupos específicos, que infelizmente a sociedade apelidou de minoria não o sendo - também travam lutas de descriminação, intolerância, desrespeito. 

Não percebo é que estas lutas, importantes que são, precisem de ter festas, de serem exuberantes, chocantes até e ai de uma voz que o questione. Passa a não ser um evento pela liberdade, mas um evento de repressão. 

Nada me choca e nada me incomoda. A não ser a malícia que encontro nas pessoas. Essa sempre me choca muito. Ainda que lide com ela tanta vez. São lutas diárias que todos nós travamos. Não tanto por uma banalidade como gostar de um ou de outro... Mas lutas que duram uma vida inteira... lutas por justiça, pelo que está correto, para o prevalecer do bem. Lutar não para tirar benefícios sociais e profissionais à custa de algum guilty feeling/guilt bashing - mas lutar pelo sentido de que é justo. Sem filiações partidárias, sociais, grupais. Lutar contra um dos males que mais prejudica a vivência humana: a difamação. A maldade e malícia. O gashlighting. A saúde mental e o bem estar das pessoas - cada vez mais alvo desta sociedade mais desenvolvida, mais digital. 

Andamos a ignorar estes males - que atingem todos nós desde que o mundo é mundo. 
Andamos a ignorar que estão a crescer e que pouco fazemos - até mesmo em termos de leis - para nos proteger-mos com dignidade e justiça. 

Estamos cada vez mais à mercê de intriguistas, de mentirosos, de manipuladores. Seja em círculos pequenos quer seja em massa - na comunicação em massa. 

Fake news, notícias falsas cada vez a proliferar mais - o controle total do que cada indivíduo faz no seu universo digital - desde o uso do telemóvel a um email, o reconhecimento facial que agora não é exclusivo de aeroportos, mas de qualquer loja ou supermercado que se frequente, a Inteligência Artificial, o espalhar de boatos em redes sociais que proliferam como um incêndio, a manipulação de imagens.. TANTA coisa. Pela qual temos de lutar para que possamos ter uma convivência o mais igualitária e justa possível. 

Enquanto isso, pessoas caem vítimas destes abusos e violências contra seu carácter. Acho isso a maior calamidade que se pode infligir a alguém. Despir a pessoa do que é e fazer com que todos acreditem que é outra coisa que nunca foi ou poderá ser. 

E contra isso, quem anda a lutar?? 

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