segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Não gosto de me deparar com desconhecidos a viver na casa

Porque será que este conceito parece ser difícil de se entender? Qual o vosso parecer?


Vivo numa casa partilhada com outras pessoas - como bem sabe quem me acompanha. Somos todos adultos solteiros com algumas décadas de distância desde a adolescência. Naturalmente espero certos comportamentos mais ligados a esta fase da vida. 

Neste preciso momento pode estar uma rapariga no quarto do rapaz cá de cima. Não seria a primeira vez. Ele está ausente a trabalhar, ela espera por ele no quarto. Não dá ares da sua graça - quando uma vez deu,  apanhei-a no corredor, cumprimentei-a, ao que ela limitou-se a escapulir, enquanto usava o recurso mais comum dos estrategas: o telemóvel. Fingir estar "indisponível" ao telemóvel ou a escutar música é um estratagema básico, para  não se dar justificações. Isso e ignorar a presença de quem mora na casa, como se ao desconhecido faltasse a capacidade de audição e visão. 

Este tipo de comportamento deixa-me bastante desconfortável. Estraga-me o dia, impede-me de me sentir bem dentro da própria casa. Isto não é um hostel. Mesmo em hosteis cumprem-se regras básicas de boa educação e convivência social: um "olá, um bom dia". A aparente ausência desta noção é algo que me incomoda. Está um desconhecido visivelmente a viver dentro da casa que pago para morar, de pijama e chinelos, e nada me é dito? Um aviso antecipado seria de bom tom e ia impedir o choque e a surpresa. Isso já é FALHA de quem cá vive o traz pessoas para cá. Mas quem chega não dar um cumprimento a quem vive... é que azeda tudo. É preocupante. Faz-me temer que sejam pessoas que se acham no direito disso e coisa pior. 

 Muito talvez devido às experiências tidas na casa anterior. Onde "visitas" não me olhavam nos olhos, não me cumprimentavam, ignoravam-me, enquanto todos os dias usufruíam bem mais da casa do que eu mesma. Cozinhando todas as refeições, lavando a roupa constantemente, usando o estendal, vendo televisão... E nem um "bom dia".  Eu era tão maltratada ali que até induziam os convidados ocasionais a perpetuar este género de comportamentos. 

Quando se passa por experiências horríveis como as que passei, de nada nos serve se delas não tirarmos uma aprendizagem. Sendo a principal não permitir que se voltem a repetir. 

A RAPARIGA DO ANDAR DE BAIXO: 

A rapariga do andar de baixo, com quem me dava bem, casou. Comunicou-me por mensagem que o tinha feito, com um rapaz que conheceu um mês antes. Tinha casado em Londres, onde ele morava e trabalhava, cinco dias antes. Disse que iam viver uns dias com ela lá e outros com ele cá, até encontrarem uma casa. Tudo bem. - pensei. Só que não foi. 

Nessa mesma noite, ao mesmo tempo que estava a enviar-me mensagens, já o homem estava com ela no quarto. Podia tê-lo mencionado de imediato. "Casei-me e ele está aqui. É só para te avisar". Mas ocultou-o. Deu a entender que eventualmente ele ia aparecer no final da semana. Como recém casada devia estar a enviar mensagens era ao marido, não a mim - foi o que às tantas estranhei. Trocar-mensagens por tanto tempo não fazia bem o género dela. Mas a suspeita maior foi quando, surpresa pelo comunicado, lhe respondi que aquele assunto era demasiado sério para ser falado por mensagem e ia descer lá abaixo para conversarmos, uma vez que tinha escutado a M. a sair. 


Ela logo me enviou mensagens atrás de mensagens a dizer, "Não, por favor!". "Não venhas!" E depois foi um desenrolar de desculpas para me induzir a não lhe bater à porta. A primeira foi escolhida a dedo pelo seu grau de eficácia: afirmou que a M. encontrava-se lá em baixo. Ela sabe que, a ser verdade, eu optaria por continuar a falar por texto. Mas, ingénua, ainda lhe respondi que não, que a tinha escutado a sair de casa. A resposta dela foi rápida: Não, por favor! Mas ela volta. Eu não a quero ver! ". Percebi que existiam dois "por favor" nas suas mensagens e soube de imediato que ia respeitar esse seu pedido. Se me pedia para não ir, não iria. Mas que o impedimento não fosse a presença da M. - pois ela estava ausente. E foi isso que quis explicar-lhe. Porém, percebi que ela não queria por algum motivo e estava a arranjar desculpas. Nunca foi de temer a M. e nesse sentido a mensagem dela soou a falso. Não se encaixava no que dizia e fazia. Porém, achei que devia ser por não desejar ter a felicidade que sentia naquele instante "manchada" pelas posturas desagradáveis da M. Se fosse eu a sentir-me feliz, também não ia querer a M. por perto. Ela SUGA o positivismo e felicidade de qualquer um, deixando fel no seu lugar. 

Porém, antes que pudesse sossegar-lhe, ela arranjou outra desculpa: "Tenho de limpar o meu quarto". Estranhei, porque não me imaginei a falar com ela dentro do seu quarto. Sempre respeitamos o espaço uma da outra e só falávamos na cozinha. Acabei por lhe responder por mensagem de voz, tal era a quantidade de factos que ele trouxe à baila que eu pretendia lhe esclarecer.

Mostrei-me contente por ela, pela sua decisão. Não a condenei, como fazem muitos ocidentais que têm uma cultura onde é mais comum uma união entre pessoas apaixonadas. Ela mal conhecia o homem. Mas está com 38 anos, quer ser mãe e ele pareceu-lhe carinhoso com ela. Como mulçumana, o conceito de união matrimonial por conveniência, com um desconhecido, só porque "parece um bom candidato" não é de todo incomum. E, na minha modesta opinião, também não o foi para muitos dos nossos parentes mais chegados: pais e avós. Até a poucas gerações, pelo menos, ainda era muito comum serem os pais a "arranjar" os respectivos companheiros para os filhos ou então, também estes escolhiam com base em critérios de afinidade, mas não paixão.   

Como criatura educada na "caldeirada" romancista da Disney e Hollywood - a do amor e paixão - para mim, em particular, só faz sentido assim. Com toda a emoção. Mas, se for prática e coerente, sem as hormonas a dar palpites, vejo perfeitamente que outras opções também têm possibilidade de sucesso. Cada qual é fruto do seu elemento e eu já nasci na geração que precisa de sentir o estimulo intelectual a mexer com as hormonas e a acender tudo... Embora seja um sentimento de euforia e êxtase fantástico, pode não ser o mais conveniente.

Adiante. Acontece que o "marido" acabou por ficar a morar aqui nesta casa. Sem nada nos ser comunicado. Ora, como podia ela estar constantemente a perguntar a minha disponibilidade para ir jantar com ela e o marido, numa de nos apresentar e celebrar o casamento - dando a entender que me incluía a mim e ao rapaz cá de casa nesse seu momento feliz, e depois mete o marido cá dentro sem nada comunicar e têm os comportamentos que mencionei acima?

Da primeira vez - logo na tarde seguinte, ainda os desculpei. Afinal, uma omissãozinha... da parte dela. E um comportamento antipático da parte dele - pois avistei-o à entrada da cozinha e perguntei-lhe o nome. Não me respondeu quem era. Passados uns segundos, está ele a abrir a porta da rua com toda a calma do mundo, como se fosse NATURAL um desconhecido estar a trancar uma porta dentro da casa onde moro e sair por outra - volto a perguntar-lhe o nome. Desta vez responde: "Hussain". E fecha a porta. Fico uns instantes ali parada, a tentar imaginar se seria um parente que veio para assistir ao casamento e teve de "abancar" por ali por uma noite ou se era o marido - que ela "esqueceu" de mencionar que estava cá em casa.  

Depois quando a vi, ela começou a rir, disse-me que ele lhe tinha contado que eu lhe havia perguntado o nome. Isso dissipou-me uma hipótese que havia conjecturado para dar a ele o benefício da dúvida: que ela lhe tinha falado da M. Tinha-o avisado de como o melhor é IGNORÁ-LA e nem lhe responder. Ele podia ter achado que eu era ela, isso justificaria aquela postura seca, fria, de ignorar uma pessoa que está a dirigir-se a ti. Quando ela me respondeu que ele lhe tinha contado que tinha sido eu, soube que aquela possibilidade não se encaixava. Ele sabia muito bem que eu era a rapariga com quem a esposa se dava bem. Então não me confundiu com a outra moradora. Ela voltou a perguntar-me quando estava disponível para ir ao seu jantar de casamento e acabei por lhe dizer que, a pesar do marido dela me ter ignorado quando o abordei, que o achei calmo e até me passou uma boa impressão. Ela respondeu-me que ele trabalhava como chef - e aí foi quando lhe acrescentei: Bom, então não deve ser assim tão calmo, sabe parecer mas por dentro pode não estar. Ao que ela confirmou, pois disse ter reparado que, um dia depois do trabalho, parecia irritado. 

Sabia que toda aquela conversa ia ser partilhada com o agora marido e pensei que tudo ia ficar bem. No dia seguinte ou algo assim, estou a sair da cozinha e oiço alguém vir atrás de mim. Quando olho para trás, achando que ia ver o meu colega, vejo um desconhecido, de T-shirt e calções. Deduzo que era o barbudo que avistara antes, com gorro na cabeça e todo vestido de preto. E aguardo um cumprimento. Um cumprimento de uma pessoa que não é suposto estar ali, que acabou de entrar numa divisão onde me encontro. NADA. Total silêncio. Um postura de indiferença, casualidade, normalidade. Tudo muda nesse instante. Ora, se não sabe ser bem educado com uma pessoa a quem a tua esposa está a querer saber quando está disponível para ir ao jantar de casamento - quem és tu afinal? Sinto agora que aquela pessoa se acha no direito de estar ali, demonstra uma postura de usurpador. Subo as escadas, super desconfortável com aquele comportamento, com a presença dele. Ao chegar ao quarto já estou a conjecturar que, dali a um piscar de olhos ele ia estar sem emprego e a morar nesta casa de malas e bagagens, sendo sustentado pela esposa. 

Os olhos piscaram e é o que acontece. Sem nada ter sido comunicado. Sinto-me gradualmente mais desconfortável. Não consigo mais ter uma manhã sozinha em casa. Algo raro de acontecer mas que, agora que a M. sai regularmente de segunda a sexta para ir sabe-se lá onde e fazer o quê - a atmosfera ficou mais leve. Até tinha recomeçado a cozinhar. E surge ele. Sempre aqui, a andar de um lado para o outro, a conversar alto ao telemóvel... e a passar por mim e pelos outros que cá vivem sem cumprimentar. Usando os recursos da casa: a máquina de lavar roupa, o microondas, o chuveiro, a sanita e a usar o wifi que quebra no meu quarto cada vez que é muito usado. Sem sequer dizer um "obrigado". Inconveniente e ingrato. 

Ou sou eu que tenho uma educação desactualizada? 

Já não se é suposto agradecer quem nos acolhe? Já não é preciso dizer os "bons dias"?

HOJE ACONTECEU...

Hoje oiço ruídos estranhos lá em baixo. Sabem, os ruídos têm impressão digital... Soam estranhos aos ouvidos quando emitidos por alguém que não é de casa. A rapariga do andar de baixo, mais o marido, saíram de vez a semana passada. Pela calada. Fui trabalhar e quando voltei, já cá não estavam. Mas não dei por nada, foi o rapaz do andar de cima que me contou. 

Ela saiu e nem se despediu. Não que me surpreenda - porque agora casou e é natural que adopte os comportamentos do esposo. Afinal, só nós, ocidentais, é que verbalizamos muito claramente o nosso descontentamento com a atitude do cônjugue, caso isso se justifique, ainda que o amemos muito. Embora muitos também as desculpem, por terem bom coração e não verem maldade. Ela já estava meio seca comigo. Percebi que estava a ter uma postura semelhante àquela com que trata a M. e achei, nesse instante, que isso era um problema dela. Não ia deixar-me afetar, apenas lamentaria se assim fosse. 

Sempre falámos e bem. Que agora estivesse com "pressa" de se afastar rapidamente e fosse monossilábica, sem sequer me olhar na cara - era uma escolha DELA. A mim conhece-me há 12 meses. A ele, dois. Mas ele é o marido. É com aquela pessoa que ela quer começar uma vida nova para ela, criar família - embora ele já tenha tido uma que gerou filhos. Entendo e apoio a sua decisão. Penso até que está certa: tem de se concentrar nos planos que está a fazer, não nas pessoas desta casa que vai deixar para trás e nunca mais vão fazer parte da sua vida. Contudo, não achei a sua mudança de  comportamento correta. "As acções ficam para quem as pratica". 

Hoje, ao ouvir os barulhos, desço à cozinha. Fico ali até perceber quem os estava a produzir. Claramente alguém estava no quarto vagado pelo casal. Podia ser, novamente, a pessoa da agência que nos aluga a casa, a verificar o estado do quarto e a tirar fotografias. Ou até, podia já ser, um novo inquilino ou alguém que tivesse vindo ver o quarto. Fosse o que fosse, em nenhuma das hipóteses somos avisados. Então fiquei para ver quem seria, convencida que era o marido dela! Pareceu-me escutar uma voz masculina. Passado muito tempo, ela sai do quarto e entra na cozinha, onde estou. Está a três passos de mim. Só lhe percebo o vulto. Entra claramente como se não estivesse ninguém ali dentro. Traz um aspirador e mete-o no lugar. Depois volta ao quarto, sai e vai ao caixote, volta ao quarto... Eu largo o que estava a fazer e subo para o meu. Não precisava de mais confirmação alguma. Se fiquei com a impressão de que ela estava a agir comigo de forma diferente, depois saiu de casa sem se despedir e ao regressar, finge que não me vê, não preciso de confirmar mais nada. Subi ao meu quarto deixando-a para trás e, ao entrar , digo: "Ser-se rude deve ser algo contagioso. Ele é rude, agora ela também é"

E cá está: ao casar-se, mudou logo... Não recrimino porque percebo que quer o foco todo no casamento. No passo que deu. Não tanto por querer ter um parceiro - mas porque na sua religião fica mal uma mulher não ter marido - é uma "largada". E porque quer ser mãe. Ao mesmo tempo, quer ser uma profissional e fazer carreira. Admiro isso e desejo-lhe sorte. Acho que fez bem e foi corajosa. Mas isso não apaga o comportamento que os dois demonstraram depois de se casarem. Ninguém os tratou mal, pelo contrário. Foram acolhidos sem repreensões. Por isso só lhes teria ficado bem serem amistosos. 

O EXEMPLO DA PRIMEIRA CASA:

Na primeira casa onde morei, quando perdi meu emprego, sem ter outro à vista mas já com entrevistas marcadas, fui um mês para Portugal fazer um curso. Nessa altura um amigo de um colega de casa tinha-se mudado para o Reino Unido à procura de emprego. Precisava de encontrar um e de ter um lugar para morar, de ter uma conta bancária... 

Na casa que EU partilhava com outros três morava o I., um homem ruim, autoritário, que era o "dono" daquilo por viver ali há 13 anos, eu, o colega (que trouxe o amigo) de quem I. não gostava nada e uma outra rapariga. I concordou em deixar o rapaz morar ali por uns 15 dias, dormindo no sofá, mas depois queria que saísse. Até mostrou gostar muito dele. Parecia desejar encontrar afinidades artísticas e conquistar a sua simpatia. Ficava horas a conversar com ele se pudesse. Só que a situação não estava fácil. Sem emprego ao final de duas semanas e já com o I a dizer-lhe para sair, estava a pensar desistir, principalmente por não conseguir alugar um quarto. Ninguém o alugava sem antes ter um contrato de emprego. E para ter conta bancária, é preciso um endereço fixo e um contrato de emprego. Além disso, é necessário um número fiscal. "Pescadinha de rabo na boca", com que todos nós nos deparamos ao mudar para o Reino Unido. 

Como ia ausentar-me e estava desempregada, sugeri que ele podia ficar UM MES a viver no meu quarto. Ora ao invés de pagar uma renda noutro lugar, pagava ali, que era barata, ou pagava metade dela ou mesmo nada. Podia ficar DESCANSADO, com quatro semanas para se concentrar em encontrar emprego. A reacção de I a essa eventualidade foi de recusa total. Mesmo simpatizando com o rapaz, o que lhe fez espécie foi eu não ter de pagar renda nesse mês. O que muito me ajudaria a mim e muito ajudaria o rapaz. Mas I., ao escutar isto, preferiu ter o quarto vazio, comigo a pagar por ele, do que deixar o rapaz com quem simpatizava e já morava ali de favor, ficar mais confortável e de mente sossegada. ALUDIU que "alguém" podia denunciar o caso às autoridades, porque não era permitido viver na casa outros que não aqueles cujos nomes surgiam no contrato. Frisou que era ilegal. Desculpou-se que, se alguém fizesse uma denúncia, a senhoria podia ser multada avultadamente e erámos expulsos. 


Lembro-me perfeitamente de lhe ter perguntado diretamente olhando-o nos olhos se ele faria a denúncia. Ele: "Ah... é meu dever. A senhoria... posso ter de o fazer".   

Como ele era mau e ainda por cima, trabalhava - quando queria, claro - em assuntos relacionados com seguros, o que lhe dava conhecimento da legislação e de como fazer as coisas pela calada - deu claramente a entender que se vingaria dessa forma. NINGUÉM alguma vez ia saber ou preocupar-se com o fato do amigo dormir no meu quarto. Mas quando ouviu falar em DINHEIRO - obcecado que era por dinheiro - I mudou logo o discurso. Tornou-se ameaçador. E o rapaz teve de sair para outro lugar e eu fiquei a pagar renda de um quarto desocupado por um mês.

 

DE VOLTA À CASA ATUAL:

Agora imaginem o tanto de SORTE que tiveram todas estas pessoas estranhas com que me deparei ao longo dos anos pelas casas seguintes. Algumas ficando por extensos períodos de tempo. Inclusive, um ano. Este "marido" e outros na casa anterior onde morei, se tivessem partilhado o espaço com um I., jamais poderiam sequer ter cá metido os pés. Quanto mais permanecer por longo tempo e nem sequer trocarem uma palavra com "o dono da casa". Ou dançavam a música dele, ou iam existir repercussões. 

FRESQUINHAS:

Nem de propósito: Estava eu a meio de escrever este post sobre o não ser avisada quando um estranho se muda cá para casa quando, na sequência de continuar a escutar ruídos estranhos no andar de baixo, desço para averiguar se é da máquina de roupa que coloquei a lavar. 

Nisto entra, pela porta das traseiras - sabendo eu que havia acabado de sair - o rapaz do andar de cima. Vem carregando algo nas mãos, tem os olhos semi-serrados, como quem esteve a fumar erva. Coisa que penso que ele pensa que esconde bem de mim - que sou ignorante nestas coisas - mas que aprendia a reconhecer no olhar. É então que me pergunta se vou trabalhar esta noite. Respondo que sim e acrescento: "tens a noite só para ti". "Ah, não é isso. Eu vou trabalhar. Um amigo meu vem cá passar a noite. Ele vai viajar amanhã e dorme cá". 

Gostei que me tivesse comunicado. É só o que espero. Assusto-me cada vez que escuto ruídos que sinto não serem habituais. Sinto ansiedade com a ausência de tranquilidade e silêncio. Não acho normal tantos ruídos de actividade durante horas e horas, especialmente depois da meia-noite. A noite passada foi uma dessas. Desde as 19h até às 3 da manhã, um constante abre-portas, sobe e desce escadas... notava-se que andavam a "aprontar" alguma coisa e não queriam que fosse detectada. Daí o "zanzar" sem parar. Coisas como as constantes idas ao WC fazem-me temer que o número de pessoas dentro da casa é substancialmente maior que o suposto. Mas se souber que UM ESTRANHO é suposto aparecer, sinto-me tranquila. Não devo assustar-me. E se me assustar, vou lembrar-me de que fui avisada de que poderia estar ali alguém. 

Avisei isto ao rapaz logo na primeira vez. Entrei na cozinha e estava uma desconhecida no fogão, a cozinhar. Um carrinho de bebé no meio da sala... e mais ninguém. Ela estava super tranquila, normal, achando aquilo nada de especial. Fiquei a olhar para a cena e por instantes, pensei se teria errado de casa. Não só uma estranha estava dentro de casa, como estava a usar o fogão! A mexer um tacho e comida... e estava uma criança a correr pela casa. Ela passou a ser presença diária, mas nunca com ele cá em casa. Ele ia trabalhar e ela, aborrecida por viver num quarto de hotel, decidiu que era melhor vir para uma casa normal. Era apenas uma conhecida dele. Ele teve pena dela, ela queixou-se que não era muito confortável viver com a criança num quarto de hotel e ele deu-lhe a chave desta casa para que ela entrasse e usasse. 

Sem comunicar NADA aos restantes. Impondo - numa casa que não é só dele, a presença de outras pessoas, uma família.  Este tipo de situação não é agradável. Desculpas esfarrapadas também não caem bem. Comportamentos esquivos, é ainda pior! E sinto cada vez mais esses comportamentos. 

Acho lindo ajudar assim alguém. E seria capaz de fazer o mesmo. Porém, na minha própria casa. Não o faria quando a casa não é só minha e a decisão não pode partir só de mim. Quanto à rapariga, um dia deixou de aparecer. Perguntei-lhe por ela. Respondeu que desapareceu e nunca mais dela ouviu falar. Olhem a ingratidão... ! 

Agora sei que esta noite um estranho virá para dormir no quarto dele. Sei que a história está meio contada. Não creio que ele seja transparente. Acho que esconde sempre algo. Como esta noite, em que escutei alguém "diferente" ir ao WC. Provavelmente uma mulher, a movimentar-se para dar início a um ritual muito comum. Passou cá a noite - se ainda cá não estiver. Natural. Homem, mulher, sexo. 

O que não acho tão bem é o procurar OCULTAR a presença de terceiros da forma como tem vindo a ser feito. Mas menos ainda, abrir a porta da casa para que entrem, dela usem, e nem um "bom dia" recebes em troca. Olhem a lata desta gente!

Infelizmente, acho que o "marido" que a ex-colega de casa arranjou é um oportunista que viu num matrimónio uma forma de ser sustentado por uma mulher e reduzir as despesas. Ela contou-me que lhe comunicou que não ia abandonar o emprego dela, que tinha uma carreira e queria progredir nela. Acho que não percebeu que é EXATAMENTE por isso que ele a escolheu. Ele precisa de alguém que entre com um grande bocado de "cash". Porque ele não vai trazer muito - se algum. 

E nisto, HOJE, vou à caixa do correio e puxo uma carta em nome de... HUSSAIN. 

Ele deu ESTA MORADA como sendo a de residência dele!!!!
A lata.

Esta casa já recebe centenas de correspondência dirigida a pessoas que nunca cá viveram. É uma pandemia. Antes ainda devolvia todas e pedia para pararem de enviá-las. Muitas - se não todas, são cobranças de dívidas. A curta e desagradável passagem desta pessoa por esta casa agora também vai contribuir para isso. Mais um a usar este endereço como cover up... 

E para quê? Porque haveria ele de mudar o endereço para este? Pretendia cá ficar mais tempo e os planos correram mal? Ainda por cima uma carta das finanças. Uma entidade que EXIGE a morada precisa. Espero que a altere para onde quer que seja que se mudaram. 

Ao ver aquele nome impresso juntamente com a morada desta casa... fiquei ainda mais convencida de que se trata de um aproveitador. Escolheu a dedo a "mulher desesperada" por casar e ter filhos. E já está a tentar tirar proveito - para a sua primeira medida enquanto casal envolver as finanças. Era uma carta típica de escalão - que diz em que escalão contributivo uma pessoa se insere. Ele logo tratou de alterar o seu. Porque será? Uma conveniência financeira - só pode. Já diz tudo sobre onde está o seu foco, o seu propósito matrimonial. 

Casou mas não no civil. Só na religião deles porque ela não quis oficializar, por enquanto, a união no cartório. Logo, LEGALMENTE, não são casados. Só na religião deles - que nem sequer exige testemunhas e pode existir um casamento por um sacerdote com os noivos e familiares à distância. 

1 comentário:

  1. Situação complicada, essa! Nem todos têm educação, correção e ética para respeitarem limites... Desejo- lhe coragem para viver nessas circunstâncias.
    Maria

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