sábado, 19 de janeiro de 2019

Todo o dinheiro do mundo



Alguma vez ouviram falar do nome Getty?

Jean Paul Getty (1892-1976) foi um bilionário americano que fez fortuna principalmente no petróleo. Ele não era apenas rico, foi o homem mais rico que alguma vez existiu na terra. Em 1973 um dos seus 14 netos foi raptado no sul de Itália e um resgate foi pedido ao milionário. Getty recusou pagá-lo. Apesar da sua imensa fortuna e gosto por obras de arte, ele era um homem incapaz de desperdiçar um cêntimo, mesmo para salvar a vida de um familiar. Ele lavava a própria roupa interior para não ter de pagar a alguém que o fizesse por ele e, dizem, quando a manga da camisa ficava amarelada,  cortava essa parte e continuava a usar. Era, portanto, extremamente poupado. Investia em obras de arte que tinha armazenada por todos os cantos da sua mansão com 72 quartos, porque valorizavam. Acabou por acordar em emprestar dinheiro para pagar o resgate.


Mas não foi só a sua sovinice que o impediu de ajudar Paul, o neto, ele também tinha princípios. Acreditava que nunca se deve ceder à chantagem e pagar resgates, porque isso é passar a mensagem a todo o criminoso do mundo que se trata de uma forma de conseguir dinheiro fácil. Ele também disse não querer colocar um preço na vida dos seus outros 13 netos.  Concordo inteiramente com esta parte. Mas tratando-se da vida do neto e sendo ele apenas o homem mais rico do planeta, a sua decisão não deixa de ser intrigante. A verdade é que, definitivamente, qualquer pessoa com ideias de rapto deve ter decidido que jamais ia colocar debaixo da mira a família Getty, porque não compensava. 

Paul acabou por ser solto após os raptores terem baixo consideravelmente a quantia de 17 milhões para três (requer confirmação). O bilionário apenas concordou em pagar o valor permitido por lei que pudesse ser deduzível nos impostos: cerca de milhão e meio. O restante, ele emprestou ao filho com juros a 4%. 

Este tio Patinhas tinha, a meu ver, um problema cognitivo na sua relação com dinheiro. Uma doença. Era incapaz de o gastar sem que envolvesse um negócio lucrativo. Fazer dinheiro era um prazer excitante e precisava de fazer muito, sempre com a maior margem de lucro possível. A sua mansão foi comprada em 1959 por 60.000 dólares. Quarenta anos antes o então proprietário pagou por ela o dobro! E certamente que nesse tempo fez renovações, expandiu, melhorou alguma coisa. Em quarenta anos a propriedade valorizou bastante mas Paul consegui-a quase de graça. Vejam só o quanto este homem se excitava na busca incansável pela maior barganha do mundo. 



Por causa desta história deixo-vos uma sugestão cinematográfica para o fim-de-semana. Vejam o filme  "Todo o dinheiro do Mundo" (All the money in the world) - 2017. Dirigido por Ridley Scott e protagonizado por excelentes atores. O papel do bilionário chegou a ser interpretado por Kevin Spacey mas o ator foi afastado. Christopher Plummer tomou o seu lugar e gostei bastante do resultado final. Arrisco dizer que terminou por ser melhor. À altura do rapto o bilionário era um homem de 80 anos e Kevin teve de usar próteses para "envelhecer". Christopher é puramente verosímil nesse aspecto e, tem de se dizer, faz uma interpretação maravilhosa. Um detalhe: o ator chegou a conhecer o verdadeiro bilionário.

Tal como todos, o filme altera alguns factos, mas vale a pena ver. Confesso que Getty é um nome que até agora só me fazia lembrar os créditos da maioria das imagens que se vêm publicadas na imprensa em papel. "Cortesia da agência Getty" - dizem quase todas. 

Não é coincidência, a agência é da mesma família. 


Já conheciam esta figura?

5 comentários:

  1. Já. Lembro que as revistas da época em Angola, falaram bastante do rapto do neto. E lembro de ter lido que ele não pagava o resgate por considerar que isso punha em perigo a vida de todos os outros netos.
    Abraço e bom domingo

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    1. E tinha razão. Aposto que nao tentaram raptar mais nenhum enquanto ele viveu, pelo menos. A história a espalhar-se pelo mundo dessa maneira muitos iam querer tentar a sorte, achando-se mais espertos e mais cruéis.

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  2. Já conhecia.
    A história e o filme.
    Boa semana

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  3. Olá meus leitores mais fiéis :)
    Deduzi que a história era do conhecimento de muitos, mas não me coibi de dizer que a desconhecia. Não vejo embaraço na procura ou na descoberta de conhecimento :)

    Elvira, que interessante lembrar-se do facto aquando ocorrido. Passados muitos anos nunca se pode dizer ao certo os motivos de uma pessoa. Contive-me em julgá-lo precipitadamente. A sua relação com o dinheiro pareceu-me obvia - isso avaliei. Mas sobre o rapto existem muitas hipóteses em aberto. inclusive chegou-se a pensar que foi o próprio neto a simulá-lo para extorquir dinheiro do seu avô-patinhas.

    Votos de saúde para os dois.

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  4. Não conhecia o personagem, mas aposto que viveu miserável para quando morresse os outros usufruírem da fortuna!

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