terça-feira, 14 de agosto de 2018

A queda da ponte em Génova


Acho que é impossível não recordar a nossa própria experiência com uma tragédia semelhante. Foi no dia 4 de Março de 2001 que caiu a ponte Entre-os-Rios, em Castelo de Paiva. 59 pessoas perderam a vida. Podiam ter sido muitas menos - não fosse uma das viaturas lançada à força das águas nocturnas um autocarro cheio de felizes infelizes que regressavam de uma excursão. 

Enquantos os mais acérrimos assistiam a uma partida de futebol do benfica (será que alguma vez poderam ver um jogo do clube novamente sem um trago amargo a lembrança triste?), o pilar da ponte ruía.

Você se lembra onde estava quando a notícia surgiu?


Eu recordo...

Ainda me vejo a olhar para os monitores pendurados quase no tecto. Todos os rostos a acompanhar o mesmo, todos os pescoços erguidos e queixos elevados, olhos pregados nas notícias da RTP.

.......


Por dividir casa com italianos, a notícia da queda da ponte em Génova, hoje, tem sido o assunto do dia. Nos canais de notícias que disponho cá em casa, mal consegui apanhar uma informação. Estão centrados no carro que bateu contra uma protecção de segurança perto das casas do Parlamento, em Londres. Mudo de canal, aguardo meia-hora, uma hora, e são só essas imagens e esse o assunto que surge no "ar". Por dois segundos apenas, apanhei uma imagem parada da derrocada da ponte mas a notícia "fugiu" de imediato para as imagens da viatura em Westminster. 

"Os Londrinos não tem de se preocupar. A polícia reagiu com prontidão. Temos a melhor... polícia. O suspeito foi imediatamente detido. Há que louvar a força policial que se aproximou do veículo sem saber o que havia lá dentro (subentenda-se explosivos) ou quem era o indivíduo (subentenda-se estar armado)".



E pronto...
O mundo das notícias continua assim...

É notícia um ou dois eventos diários, abordados até à exaustão.





Enquanto o colega cá de casa escutava pela internet um canal de noticiário italiano, eu reflectia na necessidade de ficar horas ligado a ouvir "notícias" sobre aquela tragédia. Que mais se pode adiantar? Para quê fazer um directo ineterrupto no local? A notícia está dada e pouco se poderá avançar nas próximas horas sem ser: "Esta ponte ruiu, a esta hora, neste local, existem mortos, esta pessoa disse isto, esta testemunha aquilo" "Voltaremos a entrar em directo quando surgirem mais desenvolvimentos" - esta parte acrescento eu. Acho que era assim que se fazia nos "antigamentes". Não se explorava o voyerismo como se faz hoje em dia. Essa irresistível vontade que o povo tem em espreitar tragédias e que os media estão mais que contentes em lhes enfiar pela goela a baixo, queiram ou não queiram vê-las. Porque hoje em dia a competição e a rivalidade é enorme, tudo diz respeito ao número de espectadores que se agarra a cada segundo e a quantidade de dinheiro que, por isso, se consegue extrair dos patricionadores.

Ou pelo menos costumava ser assim. Foi assim por muitos anos, simples, dinheiro certo e descomplicado. Creio que já faz bastante tempo - desde que surgiram novos canais e novas tecnologias, que este esquema de "sobrevivência" financeira está mal das pernas. Mas a solução? Andam todos a tentar descobrir faz décadas...

E enquanto não a descobrem, perdem-se escrúpulos, vendem-se "tragédias" ao desbarato...
As mortes, sangue, explosões e misérias atraem "clientes" então é isso que faz os noticiários, mais que qualquer outro feito ou conquista.



1 comentário:

  1. Há canais que são terríveis na repetição das tragédias. A CMTV é um deles!
    Lembro-me que quando o Michael Jackson morreu, levaram dias a falar nisso. Depois o assunto cansa e passam para outro.
    Não foi só na Italia que aconteceu um desabamento. Em Lisboa, na freguesia da misericórdia, um prédio desabou hoje e matou pelo menos uma pessoa.
    Em cada país as pessoas falam mais das tragedia que acontecem a nivel nacional, por isso não é de admirar que só falem nesse carro.

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