quarta-feira, 4 de julho de 2018

Maus vizinhos


Imaginem este cenário:

Finalmente consegui ficar no sofá a ver televisão. Coloquei um filme que tinha gravado faz uma semana e pensei: agora, sozinha em casa, vou poder relaxar.


Corri as cortinas, fechei portas e janelas. Queria uma atmosfera de cinema. Escolhi um filme de terror: Alien. Na cena em que o "bicho" está a sair das entranhas do hospedeiro, o som dos gritos e risadas dos vizinhos se sobrepõe aos diálogos e a toda a atmosfera do filme. 

Porra para eles que não são normais! Tentei abstrair-me de ruídos externos. E concentrar-me no filme. Mas fica difícil quando numa cena de tensão, de medo, só oiço risos e gritos. Estridentes, contínuos. Opá, se alguém precisar de efeitos sonoros de histerismo, só tem de bater na porta ao lado. 

Tenho trauma deste tipo de som. Adquiri-o quando vivi três semanas com eles. Quem não se lembra, tive de ficar esse tempo a morar noutro quarto, até o meu definitivo vagar. E foi um pesadelo. Todos sabiam que eu tinha de acordar às 3 da manhã e ficavam aos gritos até à meia noite. Faziam barulho constante. Nunca havia silêncio e tranquilidade naquela casa. No meu último dia fui desperta à meia noite e meia com o uso do aspirador e pelos sons agudos das suas estridentes e ruidosas conversas. 

E depois foram estúpidos comigo. Como crianças vis. 
Também não agi da melhor maneira. Devia ter imposto limites de imediato. Mas devido à minha curta estada, optei por não ter confrontos e aguentar as provocações infantis e o ruído constante. 

Até que saí e vim morar onde estou agora.
Uma casa mais tranquila.

Mas havia um risco que sempre esteve presente na minha mente: a possibilidade dos da outra casa se infiltrarem nesta. É que muitos jovens aqui trabalham na mesma empresa. E eu sabia que era o caso do novo inquilino. A possibilidade de o quererem usar para se infiltrarem era bem real.


VAI QUE HOJE estou em casa com esse rapaz quando oiço alguém abrir a porta da rua, entrar pela casa a dentro e chamar por ele. Uma voz estridente, que entrou sem bater na porta, sem que alguém a abrisse. Simplesmente rodou a maçaneta e entrou. (a porta devia estar trancada, mas pelos vistos, não a trancam). Uma mulher entrou pela casa a dentro, como se fosse sua, com um à vontade descarado!

Adivinhem quem era? Pela voz estridente de volume alto e pelo histerismo, era a rapariga da casa ao lado. Já se infiltrou. Infantil como é bem sei que era uma perspectiva que lhe agradava. Vir para aqui continuar a impor a sua presença, que adivinha não ser bem vinda aos meus olhos.

Entrou já a comer e pronta para engolir o que o outro estava a preparar. A usar a sua infantilidade jovem e risinhos parvos para seduzir o rapaz, que, já deve estar calejado de tanto flirt que recebe. 

Ainda tem o descaramento de começar a gritar pelo "amigo" desta casa para a outra. E pergunta - sabendo muito bem a resposta, se os escutamos aqui. O rapaz deu a resposta educada: «não, nem por isso, não incomoda nada». Uma mentira gigante. Basta recordar a minha tarde na véspera, com portas e janelas fechadas a tentar ver o filme de terror, embalado com risadas e gritos estridentes. Claro que se escuta. São gritos! Iguais aos que seriam de esperar de uma ala num hospício do século XIX.

Saiu daqui toda lambosa, a dizer ao rapaz que na próxima semana é ela que lhe faz a comida...

Só espero que não aqui. 

Resta-me esperar que o rapaz tenha dois dedos de testa para entender no que se está a meter se conceder demasiado espaço a uma pessoa que se sente à vontade para entrar num espaço pessoal dividido por outros que não conhece e invadi-lo sem mais nem menos. 

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