quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Uma geração de diferenças

É comum existir uma diferença entre gerações. Quem eu sou hoje é fruto de uma conjectura social, educacional e familiar.

Sempre achei que não seria difícil dar a entender a minha história. Quando me imaginava a falar da minha vida com alguém, lá para a frente, quando quase toda ela está no passado, não o imaginei ineficaz, por existirem obstáculos na comunicação.

Vivo com a sensação que, um dia, terei esta necessidade de narrar o meu caminho. Explicar porquê estou onde estou, apontar onde errei, quais erros podiam ser evitados por mim e quais não podiam por força das circunstâncias. É preciso tempo para se ver com clareza estas certezas. E, ao tê-las, é preciso divulgá-las aos que estão com dúvidas.

É isto o aprendizado. É isto a vida.

Mas nunca imaginei que o receptor pudesse ter dificuldades de entendimento que vão para lá da sua consciência. Não tinha compreendido que as conjecturas alteram a nossa percepção, como se o frio de Inverno no dia de hoje em nada consiga ser igual ao frio de tempos atrás.

Mas não falo apenas das grandes mudanças sociais. Não aquelas que até aqui têm pautado a continuidade das gerações. Não é da pobreza e inexistência de automóveis na infância de meus avós, quando comparada às mudanças que a televisão trouxe para a infância de meus pais ou a internet acarretou para a minha. Não falo destas coisas óbvias e singulares. Refiro-me a transições menos perceptíveis, que decorrem em muito menos tempo e que são menos perceptíveis de consciencializar.

Se explicar agora como foram os meus estudos, o receptor mais jovem já não vai ter como compreender o que tenho para contar, porque esta é uma realidade em constante mudança. Comigo deram-se sucessivas mudanças, imagino que agora não é muito diferente!

Como pode o entendimento ser eficaz, se uma mentalidade não conhecer, ainda que empiricamente, os factos que foram a realidade de outra?

De que adiantam os desabafos escritos? Os legados?
O que é que os olhos que lhes botarem a vista em cima vão achar dos momentos de dor, conflito, dualidade, quando já os avaliam com uma percepção diferente?

Eis a ironia desta questão. Embora as coisas sejam linearmente as mesmas e nada realmente mude, existe toda uma conjectura que faz com que nada seja assimilado com a capacidade de compreensão que só quem nasceu num determinado período de tempo e com determinadas conjecturas é capaz de compreender. Há muita coisa que nós achamos que entendemos do passado, mas não passam de uma interpretação da realidade. Quem somos nós para entender a mentalidade social, educativa e familiar de indivíduos que povoaram a Terra no século XVIII, XIX, se já não sentimos o frio de Inverno da mesma maneira?



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