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O desejo de comer fígado surpreendeu-me. Passava pela área das carnes no supermercado e aquela textura escura, brilhante e viscosa despertou-me o desejo.
Isto é deveras surpreendente, pois vejamos os factos:
1) Detestei sempre fígado.
2) Estava enjoada de carne.
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Cresci e não mais fui obrigada a comer isto. Nem remotamente estava no cardápio. Para mim não existia, não era opção. E então, uma ida ao supermercado e um vislumbre ocasional, mudou tudo.
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Muitas vezes fiquei a pensar neste acontecimento. Como é possível, detestava tanto, até o cheiro daquilo, e algo no meu organismo desejou décadas volvidas, consumir aquele pedaço de carne. O cheiro virou perfume, o sabor delicioso, a textura adorável. Senti-me revigorada após devorar o fígado. O meu único receio era pensar nas doenças como a BSE e como é desanconcelhável consumir os órgãos internos de um animal. Hã... mas porquê não haviam essas preocupações quando era miúda?
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Andavam as aves com gripe, as galinhas com febre, os peixes com mercúrio, as vacas loucas e nada parecia ser seguro. E eu a consumir fígado, com gosto, quando sempre o detestei. Porquê?
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Mais tarde descobri sofrer de anemia. E descobri também que o fígado é rico em ferro, um nutriente que, no caso, tenho em carência. Para mim ficou explicado! E passei a admirar ainda mais esta máquina surpreendente que é o corpo humano. Como soube ele o que comer? Como, volvidos anos e anos, nunca mais tendo degustado aquilo, soube ele que era o que precisava comer?
Mais tarde descobri sofrer de anemia. E descobri também que o fígado é rico em ferro, um nutriente que, no caso, tenho em carência. Para mim ficou explicado! E passei a admirar ainda mais esta máquina surpreendente que é o corpo humano. Como soube ele o que comer? Como, volvidos anos e anos, nunca mais tendo degustado aquilo, soube ele que era o que precisava comer?
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O Corpo Humano é espantoso.
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Por isso, deixem as grávidas ter os seus desejos e comam o que vos apetece. O organismo lá sabe o que diz... escutem. Pena que ás vezes fala chinês e não entendemos.
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Por isso, deixem as grávidas ter os seus desejos e comam o que vos apetece. O organismo lá sabe o que diz... escutem. Pena que ás vezes fala chinês e não entendemos.
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Quando passei a gostar de fígado, passei também a sentir saudades de outros cheiros de cozinha que me perturbavam na infância. O cheiro da comida dada ao cão, por exemplo. Os chamados «miúdos» de frango. Ainda não sei bem em que consistem, mas o animal consumia daquilo aos quilos. Era só para ele. Era alimento de cão, não de pessoas.
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Agora invejo-o tanto! Cheguei, inclusive, a desejar o prato que estava no chão para o cão...
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