domingo, 30 de dezembro de 2007

RECICLAGEM

AMb3E - Ponto Electrão.

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desenho infantil retirado do site www.eb1-rogil.rcts.pt


A um canto de uma revista que veio parar ás minhas mãos, vem publicada uma pequena notícia, informando-me que já existem ecopontos electrónicos. Situam-se, por enquanto, nos parques de estacionamento do Cascais Shopping, Colombo, Vasco da Gama, Gaia Shopping e Norte Shopping. Finalmente, terei onde despejar os meus aparelhos electrónicos. Será desta, ao que parece, que aquele velhinho walkman da Sony e o rebobinador de cassetes VHS com a forma de automóvel prateado vão ter o destino merecido.


Fazer Reciclagem em Portugal nunca foi fácil. Nem acredito que mantive de lado estes pequenos aparelhos electrónicos sem utilidade, por tantos anos. E porquê? Porque abrir o caixote de lixo doméstico e colocar juntamente com os restos alimentícios pilhas, sapatos, roupa, latas de alumínio, madeiras, lâmpadas e aparelhos electrónicos, nunca fez muito sentido para mim. Aliás, não fui capaz de o fazer.


Em finais dos anos 80 início dos 90, não se faziam campanhas de consciencialização ecológica. A era do plástico ganhava terreno há de vidro. Todas as pessoas se desembaraçavam do seu lixo da mesma forma. Só que eu não sentia assim.


Na infância soube que as vulgares pilhas, que usamos para dar portabilidade a alguns aparelhos, são altamente poluentes. “Deita já isso fora que isso é veneno!” – diziam-me, assim que uma bateria dava sinais de estar a verter líquido. Só o odor que ficava nas mãos, mesmo não tendo vertido, era desagradável. Ainda apanhei pilhas diferentes das que temos hoje. Talvez não fossem alcalinas. No infantário ainda me diverti a abrir umas à pancada, com uma pedra, para ver o que estava dentro. Assim que ficavam vazias, mandavam-me deitá-las no lixo mas não era capaz. Juntei-as todas numa bolsa de couro. A sorte é que não necessitávamos de muitas, de modo que não eram muitas para juntar. Quando anos depois, chegou o pilhão, elas encontraram o destino que, intuitivamente, sabia que deviam tomar. Agora só utilizo pilhas recarregáveis e compro aparelhos que as aceitem carregar.

Com o papel a odisseia não foi muito diferente. Vivia em Lisboa, a capital de Portugal, numa das suas maiores freguesias, bem perto do Tejo e dos grandes centros comerciais. Mas sem um ecoponto para papel. O concelho de Loures há muito que tinha um sistema de reciclagem no activo e não fui capaz de entender porquê demorava tanto para ver o mesmo acontecer perto de minha casa. Cheguei a dar revistas a pessoas que as queriam coleccionar e também as deixava disponíveis para leitura nas salas de espera ou na biblioteca da escola. Era em Moscavide que despejava o que ia juntando. Armazenava tudo debaixo da secretária: jornais, revistas e apontamentos. Cheguei a empilhar montes de respeito, mas recusava-me a colocar estes detritos em qualquer outro lugar que não num contentor apropriado. Meus pais, que até hoje não consegui fazer com que percebam que não se deve abrir a janela do carro para deitar lixo para fora, não viam com bons olhos esta minha teimosia. Mas teimei e aos poucos, os quilos de papel iam, em sacos de dois, no autocarro para serem despejados no ecoponto azul, noutra freguesia e concelho.


O Ecoponto amarelo, para os plásticos, foi a necessidade que se seguiu e, graças a deus, chegou com o azul. Com o plástico a roubar mercado ao vidro, já pouca utilidade tinham os vidrões verde-cilíndricos espalhados pela cidade. O que despejávamos neles? As garrafas de sumo que entretanto passaram a ser de plástico? O vidrão era utilizado quando o vidro de um porta-retrato ou um copo se partia, nada mais. Tudo passou a ser feito de plástico e como tal, canetas (sem a parte da esferográfica), vasos, caixas, recipientes de cozinha, sacos, molduras, cassetes e agora dvds e cds, tudo passou a necessitar de um contentor especial. Devia até existir diferenciação de lixo de plásticos, tal é a variedade. Tenho dúvidas quanto à facilidade de recuperação de muitos destes materiais e critico bastante a hipocrisia em torno da questão. Como pode o governo consciencializar os cidadãos, e esquecer-se das empresas? De que adianta apenas reciclar, se a quantidade de produtos feitos de plástico aumenta? Se o mercado de cds e dvds produz uma quantidade de itens de plástico impressionante, deste o próprio suporte em si, há caixa que o armazena, à película que as envolve? E este é um material tão volátil, que mal entrou no mercado já fazia parte do lixo mais comum de se encontrar nos caixotes (ver link no final do texto).


Sim, a reciclagem em Portugal nunca foi fácil. E há que dizê-lo: agora é o que é porque Portugal não cumpriu a cota estipulada pela Comunidade Europeia e visa grandes penalizações caso não se redima. E deste medo e coação resultou as acções que temos visto no último ano. O anúncio durante o natal de 2006 a pedir para se evitar o uso de papel de embrulho e a informar quantas árvores são necessárias abater. Campanhas de consciencialização, a troca de lâmpadas comuns pelas económicas, os cartazes no interior dos transportes públicos a explicar como reduzir o consumo de água. E a colocação de inestéticos ecopontos à porta de cada edifício de habitação. Estes gestos extremos e hipócritas.


Cheguei a transportar livros escolares antigos para o Algarve, onde passava as férias, só para os reciclar. Facultei uns tantos para servirem a escolas no terceiro mundo, o que muito me satisfez, porque foi para isso que os manuais tinham sido criados e saber que mais alguém ia aprender por os mesmos livros que me ensinaram dava uma grande satisfação. Mas uma vez em conversa com alguém que trabalhava na empresa que geria a reciclagem algarvia, fiquei a saber que a mesma não se realizava. O boato já corria de boca em boca há muito tempo. As pessoas diziam que a reciclagem era mentira, pois viam de noite o guindaste encaixar o gancho em ambos os contentores e despejar o conteúdo no interior do camião. Não havia sinais de haver separadores no interior, embora eu preferisse acreditar nesta possibilidade. Fiquei a saber que, por tempo indeterminado, a existência dos contentores era só para “treinar as pessoas para a reciclagem” e pensei: não são as pessoas que precisam de treino. São vocês! Até porque a fantochada tinha como efeito colateral o facto das pessoas deixarem de acreditar e se sentirem gozadas por agirem conscientes da necessidade de reciclar. "Para quê separar o lixo, se eles misturam tudo de novo?" – Ouvia-se dizer.


Agora resta saber o que vai acontecer a estes aparelhos electrónicos que a empresa Amb3E se propõe a colocar no circuito da reciclagem. Pessoalmente fico a aguardar um sistema de recolha para as lâmpadas, principalmente estas económicas que utilizo há 15 anos e que, se não estou em erro, algumas são mais poluentes que outras.


Mas acima de tudo, gostaria de RECICLAR as coisas de forma diferente. Tal como os livros escolares encontraram uma utilidade digna do seu propósito, também outros aparelhos, desde tachos e panelas, a garfos e facas, a pratos e toda a espécie de louça e bugigangas, devia encontrar um espaço onde voltassem a ser de utilidade para alguém. Melhor que reciclar, é reaproveitar.


Não há por aí feiras onde qualquer pessoa possa vender e dar um novo destino às suas bugigangas? Afinal, elas custaram caro. Colocar na reciclagem coisas que não funcionam é uma coisa. Mas e as que não queremos mais mas são boas ou novas? Que destino lhes dar, ainda mais agora, que a era do descartável é facilitada pela baixa esperança média de vida com que os aparelhos são fabricados?


Precisamos de maior divulgação! A campanha de consciencialização do governo no último ano pode ter sido tardia e algo hipócrita. Mas atingiu o alvo. Agora é preciso mais. É preciso divulgar onde cada material que faz parte das nossas vidas pode ser despejado em caso de necessidade. É preciso criar feiras de troca e venda de produtos que uns não necessitam, mas que a outros faz falta. Tachos, panelas, chávenas, televisores, sofás, colchas, lençóis, aparelhagens, estatuetas, troféus, eu sei lá… mais que Reciclar, pode-se Reaproveitar! O que, se formos a ver, já é feito pelas empresas, que reaproveitam peças de aparelhos, como telemóveis, gravadores e aparelhagens, reutilizando-as na nova gama. Só falta o consumidor também sair a ganhar.

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