segunda-feira, 14 de julho de 2025

Ruído, calor e confissões

 
Acabei de me lembrar que o primeiro objecto que comprei quando vim para inglaterra foi um aquecedor. Identico a este:  

Estavam por todo o lado, em todas as lojas e supermercados. Quando vi o preço: TRES LIBRAS, achei que era engano. Que tinham se enganado e quando passasse na caixa registadora iam perceber e cobrar um valor mais alto. 
Mas não. O preço mais alto que encontrei por um destes foi cinco libras. Era, portanto, realmente o valor cobrado por um equipamento eléctrico que dá para usar tanto na vertical quanto na horizontal, tem dois níveis de calor e um de ventoínha. 


ADORO-O!!

É o que tenho ligado agora, 8 anos depois, para receber algum tipo de ar fresco. É de noite - de madrugada para ser mais exata. Duas da manhã. Mas o termómetro indica que, no meu quarto, a temperatura é de 25 graus. 

O meu quarto... é a divisão mais quente de toda a casa. Mas assim, ridiculamente quente. Três vezes mais quente que qualquer outro lugar. Aqui se transpira de calor o tempo inteiro. É um quarto virado para o sol, numa construção de tijolo massiço, feita para aprisionar o calor no interior já que a maioria dos meses do ano são de frio. Tem o telhado, que é outra fonte que retém calor, mesmo por cima da minha cabeça. E debaixo da janela, outro telhado, para reflectir ainda mais calor para uma divisão já de si quente como a primeira porta de entrada para o inferno, que fica a quilómetros de distância da "mansão" do demo. 

Tenho quatro ventoínhas ligadas - sem grande diferença. Abri a janela mas... os insectos logo começaram a aparecer. Sabiam que o mosquito é o animal mais mortífero para o ser humano? Pois então... depois de ler isso, ainda quero menos ter insectos dentro de casa. Nunca gostei de insectos em casa. São inoportunos, incomodativos, estão sempre a esvoaçar à frente da tua cara, a posar onde está mais húmido: as tuas narinas, os teus olhos ou a tua boca. NOJENTO! 

E mordem! Sugam-te o sangue. Para ser mais exata, o mosquito, monido de seis agulhas bocais, com duas serra-te a pele, com outras duas separa as extremidades para expôr o golpe, com outra insere saliva e virus na tua corrente sanguínea (se for transmissor) para então, com a sexta, sugar o teu sangue à vontade. Só as fêmeas mosquito mordem. Sugam o teu sangue para poder produzir muitos ovos que vão abandonar num lugar húmido algures na tua casa. E depois nos queixamos que temos uma praga de mosquitos que não se conseguem eliminar. Pois!! 

O primeiro passo para o impedir é não os deixar entrar. E não deixar que metam ovos, para os quais precisam de sugar o TEU sangue. Então, que haja calor... uma pessoa opta por este martírio porque a alternativa, subitamente, é bem pior. 

Depois lembrei-me porquê comprei o aquecimento. Foi, claro, para aquecer um pouco o quarto frio e húmido onde morava na primeira casa. Tinha um radiador, mas eu não suportava o efeito que me causava. Não gostava dele. Parecia queimar quase todo o oxigênio da divisão. Me deixava a sentir grogue e a almejar ar fresco. Depois, gosto de calor em doses muito pequenas. Ligava o aquecimento e desligava pouco depois. Contudo, teve uma dupla utilização que acolhi com muito prazer. É que quando tinha o cabelo molhado e era melhor secar, caso contrário podia ficar doente, este aparelho é bem mais silencioso que um secador. 

Nunca gostei de secar o cabelo com secador. NUNCA. 

Cada vez que mo faziam era um sofrimento. Para começar, o calor em si... a queimar-me o coro cabeludo... tortura. Mas o pior mesmo é que nem um minuto de barulho consigo aguentar. Os secadores são máquinas altamente ruidosas. E nunca aguentei muito. Foi sempre um sacrifício sem fim, quando ia ao cabeleireiro, ouvir aquele zumbido ruidoso. Diria que tortura para os sentidos. 

Concluí que sou uma pessoa talvez com maior sensibilidade a certos decibeis de ruído. Porque não me agrada ruidos corriqueiros. Lembro-me que depois do covid, quando se levantaram as restrições e as companhias aerias puderam retomar os voos, das primeiras vezes que escutei o ruído de um avião a preparar-se para a decolagem foi... incómodo. 

Agora já me habituei. Até procuro saber de onde vem. Sempre vivi perto de aeroportos e é um ruído que me era conhecido. Contudo, deixou de existir por um periodo de tempo e quando regressou descobri que, afinal, gosto muito mais quando não há ruído de todo a soar como um trovão pelos ares.

Sou sensível aos ruídos do dia a dia. Desagrada-me em particular o ruído de motores. Agora que os transportes estão a virar eletricos acho que isso não vai mudar, porque o zumbido do eletrico é uma coisa irritante... mudam o fuel, não eliminam a poluição sonora. 

Percebi também que faço uma viagem muito mais tranquila e permaneço mais facilmente de bom humor e bem de vida, se usar uns tampões para eliminar parte desse ruído. E sabem que mais? Escuto MUITO MELHOR os sons que é suposto escutar se tiver tampões nos ouvidos. Parece até que a fala das pessoas fica mais nítida. Música, se a colocar a tocar, escuto-a melhor. É como se o tampão - que neste caso não passam de uns velhos auscultadores de fio desconectados, filtrassem o ruído incómodo, reduzisse a sua amplitude e tornasse os sons que são para escutar mais nítidos. 

E vocês? Como sentem os ruídos do dia-a-dia?

sexta-feira, 11 de julho de 2025

 Five buses are stopped in front of my bus stop. The noise they make is understandably loud. If one is enough to cause discomfort imagine 5 noisy motors. One of the bus before starting to move makes that ear piercing bell sound indicating the doors are about to close. Then sounds the horn.

Seconds before reaching the bus stop I was reflecting how annoying the sound of a child doing a fake cry feels like. One boy was sounding like an ambulance "ioin! Ioin! Ioin!".

I pass him and his mom released I was going to distance myself and avoid being exposed to the noise much longer. Another kid had pass me riding a scooter and I was glad he didn't put himself in my way like sometimes kids do. It's funny... I've never realized kids do not have a good sense of space and distance. 

Has I passed the "ambulance like" boy, I start going down the pavement. It's when I start to ear a loud noise of plastic wheels approaching me. Sure enough it was a kid on its scooter - most likely the same I thought I was safe from encountering again because it had just pass up me. Descending in high speed I was hoping he wouldn't turn left like I was turning. But sure thing he did. I had to slow down my pace and stop, fearing this kid would cross my path and cause an injury to himself. He stop just next to me. Screaming to someone way behind him.

I had just walk pass a cigarette smoking guy and three people walking slowly but taking the all sidewalk for themselves. Breathing cigarette smoke in this heat of 30 degrees in a slow pace under the strong sun ☀️...

Not for me, thank you.

This sort of daily things don't stress me a lot but they do affect my nerves a bit. It's like I cannot walk on my own pace everyone is everywhere not paying attention or doing proper walking. Some just walk out of some shop and come to a full stop right in front of you, that it is walking on a strait line on the street. Many here, after entering a shop very slowly, decide to stop in the entrance, blocking the passage to everyone else wile deciding or coming to a group agreement we're to go first.

It is exasperating. Sometimes I suspect people here lack basic Notions of conduct behavior. Or is it me?

One of this days I was walking down a busy shop lane and a kid on a scooter comes behind me and turns into a stop in front of me. He did this 3 times and by the third I rolled my eyes and gesticulated in frustration. My concerns were about hurting the kid. But I didn't wanted to have to stop my normal pace of walking just because he kept appearing and breaking in front of me.

Has I roll my eyes a woman comfortably sitting on a bench said: 

- "Oh my fuck*** God!"

I assumed she was remarking my attitude, ignoring my reasons and the context. So I just returned her "F* God" followed by a "what?"  without even stopping or looking  back. 

Another person that steps hight in their moral horse 🐎 to criticize who they don't know. This phenomena is something that became so common In today's society. It is like a cancer. People have no modesty and are quick to judge, specially if it's is to criticize and put someone down. Even good actions done with good intentions are "murdered" in seconds on social media.

They don't they realize they are part of a big problem. That they are indulging it. Making it grow. It being intolerance, rush judgment, insult, disrespect, etc.

I cannot stand what the Internet calls "trolls". Which are people full of themselves that pass judgment and criticism to someone else, generally using insult and offense. But always very judgemental as if they know you and who you are.

That woman sitting on the bench was being a troll. Maybe she didn't knew it but she was.

I've read in a book and I never forgot it since about social anxiety. I think I suffer from it. I like people but I am shy with them. I like people but crowds are unpleasant to me. I do not feel very satisfied when I go to the shopping mall and one can hardly move.







segunda-feira, 7 de julho de 2025

Quem vê caras não vê corações

 


Este é Jason Pyne. Na foto nota-se que é um homem atraente e parece super simpático e carinhoso. Começou a namorar Nicole, uma jovem que já tinha um filho de outro casamento e os dois casaram, tendo-se mudado para outra localidade, onde morava a mãe deste. Tiveram dois filhos. Jason foi muito carinhoso enquanto fazia a corte a Nicole: comprava-lhe flores, seduziu a família dela que o achou muito simpático. De fala calma, prestando atenção às pessoas e sendo afável. Parecia gostar muito de Nicole e do enteado, que ficou muito contente por ter por perto uma figura paterna e o chamava de pai. 

Um dia, tinham as crianças mais novas pouco mais de seis ou sete anos, uma tragédia ocorreu: Mãe e filho estavam mortos. Mortos a tiro. O filho foi encontrado a segurar uma caçadeira, morto com um tiro na boca. A mãe, dormia na cama quando lhe estouraram os miolos. 

Quem fez a chamada a comunicar o óbito foi o marido, que tinha saído para levar os dois miúdos mais novos à escola e, quando voltou, encontrou aquele cenário de horror. 

Muito conveniente que os falecidos fossem somente os que não tinham ligação de sangue com o próprio... Foi um acto de extermínio igual ao que se praticaria quando se quer eliminar uma praga indesejável. Como uma infestação de baratas, por exemplo. 

A paramédica que chegou ao local disse que a falecida parecia estar viva e o que a surpreendeu foi o quanto o corpo estava quente ao toque. Parecia que tinha acabado de ocorrer. Quando escutou que existia um segundo corpo na garagem, o do jovem de 16 anos, ficou em choque ao olhar para os olhos do miúdo. Abertos mas sem qualquer vida. E o seu corpo estava muito frio ao toque. 


Dito isto, parece obvio que se trata de uma encenação para responsabilizar o adolescente pela sua morte e a da mãe. O padastro disse que, nessa manhã ele estava a ser difícil, a dizer que não ia à escola e que ele, o padastro, desistiu e afirmou que saiu de carro para levar os seus filhos à escola, deixando o adolescente chateado em casa. 

Quando chegou... calamidade!

A realidade é que foi ele, o padastro, que assassinou os dois. A menina, Remington, de poucos anos, agora a viver com a avó materna, uma vez contou que o pai viu o irmão mais velho a "fazer assim" - e deitou-se no chão e começou a tremer muito como se estivesse a ter convulsões. 

O disparo na boca do adolescente não foi fatal... pelos vistos o jovem, ou o corpo do jovem, teve tempo para reagir daquela maneira. Claro que as provas forenses apontaram para a impossibilidade do jovem ter como alcançar a caçadeira e disparar um tiro na boca, a 10cm de distância. Não há braço que aguente. 

Uma expressão mais de acordo com o íntimo da pessoa. Ainda assim, fácil de enganar o próximo, bastando um sorriso e cabelo lustroso.

Mas depois... Jason conseguiu usar a lei e obter um segundo julgamento. E foi aí que apareceu a paramédica, que contou qual a temperatura do corpo de um e de outro. Definitivamente Jason não ia sair da prisão. Então o que fez? Recrutou a mãe para intimidar a paramédica, para que esta voltasse atrás no seu depoimento. As chamadas telefónicas são gravadas e, mesmo em código, dá para perceber o intuíto das mesmas. Mãe foi sentenciada a 10 anos de prisão em liberdade e serviço comunitário.

 


Este é Henry Lee Jones. Seu rosto e olhar parecem indicar um homem pacato, humilde, simpático, prestativo, amigo, bondoso. E assim foi considerado por quem o conhecesse. Mas era tudo fachada. Mais tarde ou mais cedo, quem viesse a ter contacto com a verdadeira face de Henry jamais sobrevivia para contar a história. 


Henry Jones é um serial Killer, matando quem lhe aparecesse pelo caminho para roubar bens e dinheiro. Para ele as pessoas era um meio para um fim. Numa ocasião, recrutou um rapaz que dormia num banco de jardim para o ajudar a conduzir um carro até a casa de uma família. Chegando lá, noutra cidade, ele sai do carro, cumprimenta um homem com "então paizinho?" entra na casa... e o jovem que o acompanha, entra também, depois de ter ido empurrar um objecto para a garagem. Nisto encontra a mulher no sofá, com as mãos atadas às costas e Henry de arma de fogo na mão, a exigir que lhe dissesse onde estava o dinheiro. Depois ele vai para a cave, onde estar o idoso, escuta-se muito ruído e percebe-se que é o som de um assassinato brutal e violento. Leva a mulher para o quarto, tira o dinheiro, deita-a na cama e esfaqueia-a muitas vezes. 



Ele era descrito como uma pessoa agradável, simpática e prestativa. Conhecia o casal idoso porque havia morado na zona e, ao verem-no, ficaram felizes por reencontrar alguém que sempre se mostrou tão afável. 

Quem vê caras não vê corações. Por vezes, quem fala sempre de forma muito calma, sem levantar a voz, sem alterar muito os maneirismos, os comportamentos, não estão a controlar as emoções. Estão a FINGIR TÊ-LAS. 


Tenho no emprego uma colega assim. Soft spoken como dizem os americanos. Fala muito baixo, num tom quase de anjo. Para mim ela foi um demónio. E desde então, dedica-se mais ao que parece ser uma missão de seduzir quem a rodeia - em particular pessoas do sexo masculino - como se vivesse num universo onde estivesse a concorrer para o título de Miss simpatia. 

Ela consegui obter turnos diários porque foi para a cama com um homem que até se assemelha fisicamente com o do retrato em cima. Este não era bem visto no local: estava sempre a reclamar, a mandar vir, a dar ordens... As pessoas não gostavam dele. 

Nisto, tanto ele quanto ela, mudaram de estratégia. Passaram a falar com as pessoas com simpatia. A contar piadas, a falar de coisas triviais, a cumprimentar com um largo sorriso... 

Para se promoverem. Para enganar os que não sabem melhor. 

No meu entender, pessoas assim, são perigosas. Porque são aquelas que o Diabo mais gosta de mandar para a terra: Parecem e agem como anjos. Mas enganam!



segunda-feira, 30 de junho de 2025

Sempre a aprender novas lições de vida

 


A colega é uma idosa de 80 e tal anos. Por isso, quando se dirigiu a mim com o seu habitual jeito crítico e autoritário, não quis a repreender. Obedeci à ordem que me deu e justifiquei porquê não ia obedecer à segunda: colocar a minha garrafa de água no chão. 

A sua reação foi ainda pior que as ordens que decidiu dar, com uma prepotência e autoridade à qual fiz por ignorar, devido à idade e a querer acreditar que se trata também de um pouco de cultura mal interpretada. Afinal, eu fui criada de uma maneira, ela foi criada noutra, noutros países, diferentes décadas.

Enquanto lhe dizia, com simpatia na voz, que preferia manter a garrafa de água comigo porque esta tende a..... 

Ela interrompe-me e sai-se com esta:
-"Não preciso de ouvir nenhuma explicação. Não me interessa". 

Rude para caraças. Mas, mais uma vez, achei que talvez fosse o "upbringing" - a educação quiçá rígida de outros tempos, que ela deve ter tido num país mais totalitário qualquer, mais opressor.     

DESCONTO para a sua atitude de arrogância, autoridade. 
Mas não é NADA agradável trabalhar com ela. 

Há medida que o trabalho desenrola, coloquei uma caixa em cima da outra, para lhe facilitar o transporte e, mais uma vez, lá vem a repreensão, a crítica e a ordem: 

- Nada de por uma caixa em cima da outra! 
- Grita, logo após puxar violentamente uma das caixas de volta de onde a tinha tirado. 

Que nazi! É muito difícil trabalhar com pessoas assim. MUITO. 

Já estou a revirar os olhos quando o gerente me diz que afinal vou trabalhar noutra area.

Para o meu lugar surge uma outra colega, que já havia reparado estar a saltitar de uma área para a outra, como se pouco qualificada para fazer grande coisa. Ela parece nunca saber bem o que há para fazer. Meteram-lhe na mão um scanner e ela atrapalhou-se. Então o gerente a mudou de lugar e ela tomou o meu. Nisto, quando se aproxima da idosa, as duas parecem se engajar muito bem. A idosa está até a conversar. Comigo deu-me o tratamento de silêncio, até mesmo quando a cumprimentei, ao chegar. 

Fiquei revoltada. Então é assim?? 

Agiu como uma nazi. Subitamente entendi que podia muito bem ter sido uma, ou filha de nazis. Os jovens nazis são hoje muito idosos... e não foi por isso que deixaram de ser nazis. Não só envelheceram, como geraram filhos. Que muito provavelmente foram injectados para pensar como os pais e educados para tratar os outros com arrogância, superioridade, prepotência, má educação, maus modos, altivez, recriminação e, se puderem sair ilesos aos olhos da sociedade, torturar e matar. 

 O que aprendi então foi uma LIÇÃO DE VIDA. 

Não se tem de tratar bem uma pessoa maldosa só porque é idosa.
Assumir que, só porque a pessoa é geriátrica, teve amplo tempo para se pacificar e encontrar o "nirvana" da vida é um erro. A pessoa geriátrica não é automaticamente atenciosa com os que os rodeiam. Tanto os nazis como os Charles Manson da vida envelheceram. Um leopardo nunca perde as pintas, não é assim? E se, enquanto criança, ficou "tatuado" em mim que se tem de se respeitar sempre os mais velhos, afinal existem excepções. 

Tratar alguém como te tratam a ti. Esse devia ser o lema. 

Tenho um outro colega também avançado na casa dos 70, o Jimmy, que sempre foi um raio de sol. Sempre com um sorriso aberto no rosto. Muitas vezes lhe perguntei porquê não vai para a reforma. Ele me diz: "Para quê? Para morrer em questão de meses? Conheci muitas pessoas que, depois de se reformarem, estavam mortas no espaço de poucos anos".

Ele é feliz a trabalhar. 
Acho louvável. Acho normal. É o que eu pretendo também sentir quando lá chegar. 
A vida e o que nos interessa não termina quando se chega aos 70 anos. Ou 80. Ou 90. 

E também não existe um milagre que torne uma pessoa desagradável em pessoa afável, só porque avança na idade.  

 Espero não esquecer esta lição de vida! 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Uma pequena consulta médica - algum enfermeiro por aí?

 Se uma pessoa está sempre a beber água mas está desidratada, o que pode significar?

Se uma pessoa mal engole algo já precisa de evacuar, o que quer dizer?

se uma pessoa sente imensa sede depois de evacuar ou sair do duche ou entrar num lugar aquecido, qual a causa?

se uma pessoa bebe água e logo sofre de refluxo gástrico onde só despeja essa água, o que quer dizer?

Bebendo agua enquanto recuperava o fôlego na sala de espera do consultório médico a meio da tarde. Uma enfermeira chamou meu none, conduziu-me ate uma sala que me é familiar. Sentei-me na poltrona e estiquei o braço esquerdo para ser aquele onde espetam a agulha. Esta entra bem, mas o sangue nao escorre. 

A enfermeira pergunta-me:

Bebeu água?

Respondo-lhe que tinha acabado de beber mas que podia beber mais pois tinha a garrafa de água na mala.

Ela remove a agulha sem a tirar da pele e reajusta a posição. Não funciona. Tira a agulha novamente e espeta-a novamente. Não funciona. Nisto quando vai para a remover mais um vez antecipa: "vai fazer barulho".

Tira a agulha e pergunto-lhe o que quis dizer com "fazer barulho". Com o tubo conectado à seringa, ela explica que quando sangue "fica assim" - umas pequenas gotas separadas com espaço entre si podiam se observar no tubo que precede a entrada da agulha - quer dizer que a pessoa está desidratada

Ela afasta-se, talvez para preparar outra seringa e eu aproveito, saio da cadeira e agarro a minha garrafa de água, dizendo que ia beber para ajudar. 

Ela experimenta e espeta-me novamente a agulha no braço. Sai um pouquinho mas deixa de correr. Enfio mais água goela abaixo, incrédula que faça efeito imediato mas, tentar não custa. Ela desiste e pergunta-me se pode tentar no outro braço. Explico-lhe o que venho a dizer a todas as enfermeiras faz décadas: Pode. Mas geralmente, ninguém consegue encontrar as minhas veias no outro braço. Muitos tentaram, falhando. 

Ela tenta, e consegue. Volta a espetar uma agulha no meu braço, enquanto eu, com o outro que fora várias vezes espetado, pego na garrafa de água e volto a ingerir o líquido precioso, na esperança deste fazer fluir o meu sangue com facilidade para dentro dos dois tubinhos que ela anexa à seringa. 

Lá se consegue mas ela acha que tirou pouco. Explica que, cada tubo, permite fazer oito testes. Mas que se for chamada novamente para repetir, é porque a quantidade tirada não foi suficiente para todos os exames sanguíneos. 

O que quis saber foi o que iam testar. "Fígado, açúcar, tiróide" - foi o que conseguir reter. Perguntei se também faziam à vitamina D, pois há dois ou três anos deu que estava deficiente. Respondeu-me que o NHS não faz mais esse teste, pois ficou "provado" que cerca de 80% da população do Reino Unido sofre, a dada altura, de carência de vitamina D e preferem aconselhar as pessoas a tomarem uns suplementos no inverno. 

Desconhecia. Mais uma coisa que o NHS (Sistema Nacional de Saúde) deixa de providenciar. Aos poucos a tendência é, como em toda a parte do mundo, deixar de providenciar muita coisa. 

Ma fiquei "contente" que iam fazer 8 exames ao meu sangue. Tenho andado com muita pouca energia. Se tentar correr, não consigo dar mais que uns tantos passos, uma meia dúzia, até sentir muito cansaço e perder o fôlego. Sei que o tempo não volta atrás e não serei capaz de vencer corridas e correr muito e rápido, como quando criança. Nem pretendo. Mas sei que me mantenho uma pessoa ativa e que a falta de energia, a languidez, a incapacidade de caminhar uma hora na rua sem sentir exaustão deve ter uma causa num problema de saúde menor qualquer. 

É melhor continuar a rastrear a minha tiróide. 

E pronto. Saí de lá com duas bolas de algodão agarradas aos braços com adesivo branco, que chamaram a atenção dos olhares mais curiosos. Pelo caminho de volta a casa, regurgitei quatro vezes, mas só saiu a água que havia engolido. Chegando a casa, descolei as bolas de algodão, que revelaram pequenas pintas de sangue em cada uma e fui tomar um duche. 

A pesar de bastante espetada nos braços por ter veias "muito finas", nenhuma marca negra sequer parece querer surgir.   

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Queer Pride

 

Caminhava apressadamente ontem pela rua, saída do emprego até casa. Perto de um edifício que costumava ser de escritórios mas foi transformado em apartamentos, no qual já passei algumas vezes sem ver ninguém por perto, estava uma pessoa magrinha, sentada a fumar e agarrada ao telemóvel. O cabelo louro e comprido a esvoaçar com o vento. Mas as pernas, cruzadas e nuas sob o sol, mostravam veias grossas e músculos salientes, além de pêlos compridos louros que cintilavam com o sol. A cabelo tapava o rosto da pessoa mas tive curiosidade em colocar os olhos para olhar. Porque para mim, tratava-se de um homem de cabelo comprido, embora parecesse uma mulher de relance - que foi como avistei o vulto.  Vi um bigode farfalhudo louro numa semi barba e todo aquele cabelo louro, comprido e solto. 

Comprovado que as pernas estranhas para uma mulher eram de facto de um homem, desviei o olhar e este foi parar no olhar de outra pessoa. Um outro fumador, sentado mais dentro do pátio, que estava a mirar-me com intensidade. Assim, um olhar desafiador, que eu interpretei como: 
"Sim, somos queer. E daí? Tens algum problema com isso??".

O "orgulho gay" está por toda a parte. As cores do arco-íris, apropriadas sem permissão ou timidez da inocência das crianças e da infância para se tornar um símbolo para um grupo sexualmente ativo com preferências diferentes. 

Nas lojas, nas prateleiras dos supermercados, em cartazes nas ruas, em bancadas montadas nos centros comerciais, na cafetaria do meu emprego. Ontem quase tirei uma foto porque subitamente, pareceu-me desnecessário e até redutor todos aqueles enfeites. Mas depois deixei para lá. 

Já fui a duas paradas gay aqui no Reino Unido. Por casualidade, pela alegria e animação. Na primeira, anunciada com popa e circunstância por mais de uma hora por uma banda de música a desfilar pelas ruas da cidade tocando um ritmo de tambor semelhante ao samba até chegar ao parque onde se realizava o evento. Entrada a pagar embora eu, como moradora local, tivesse recebido um convite pelo correio. Acabei por o oferecer a um pai que estava com duas crianças e aguardava a chegada da mãe para entrar no evento. Que consiste em uma espécie de feira popular com barraquinhas de comes e bebes e animações mecânicas e um espetáculo musical ao vivo, tudo vedado.

O estranho nestas coisas é o excesso de arco-íris numa só pessoa e os excessos de indumentária. Parece que quando mais chocante, melhor. Não sei se isto é defender uma causa, uma preferência, mas não faz muito sentido. O queer é tão aceite hoje, está tudo tão sensibilizado para as suas "lutas" que se esquecem que todos nós, como seres humanos que somos, estamos sempre a travar as nossas lutas. Os que não pertencem a grupos específicos, que infelizmente a sociedade apelidou de minoria não o sendo - também travam lutas de descriminação, intolerância, desrespeito. 

Não percebo é que estas lutas, importantes que são, precisem de ter festas, de serem exuberantes, chocantes até e ai de uma voz que o questione. Passa a não ser um evento pela liberdade, mas um evento de repressão. 

Nada me choca e nada me incomoda. A não ser a malícia que encontro nas pessoas. Essa sempre me choca muito. Ainda que lide com ela tanta vez. São lutas diárias que todos nós travamos. Não tanto por uma banalidade como gostar de um ou de outro... Mas lutas que duram uma vida inteira... lutas por justiça, pelo que está correto, para o prevalecer do bem. Lutar não para tirar benefícios sociais e profissionais à custa de algum guilty feeling/guilt bashing - mas lutar pelo sentido de que é justo. Sem filiações partidárias, sociais, grupais. Lutar contra um dos males que mais prejudica a vivência humana: a difamação. A maldade e malícia. O gashlighting. A saúde mental e o bem estar das pessoas - cada vez mais alvo desta sociedade mais desenvolvida, mais digital. 

Andamos a ignorar estes males - que atingem todos nós desde que o mundo é mundo. 
Andamos a ignorar que estão a crescer e que pouco fazemos - até mesmo em termos de leis - para nos proteger-mos com dignidade e justiça. 

Estamos cada vez mais à mercê de intriguistas, de mentirosos, de manipuladores. Seja em círculos pequenos quer seja em massa - na comunicação em massa. 

Fake news, notícias falsas cada vez a proliferar mais - o controle total do que cada indivíduo faz no seu universo digital - desde o uso do telemóvel a um email, o reconhecimento facial que agora não é exclusivo de aeroportos, mas de qualquer loja ou supermercado que se frequente, a Inteligência Artificial, o espalhar de boatos em redes sociais que proliferam como um incêndio, a manipulação de imagens.. TANTA coisa. Pela qual temos de lutar para que possamos ter uma convivência o mais igualitária e justa possível. 

Enquanto isso, pessoas caem vítimas destes abusos e violências contra seu carácter. Acho isso a maior calamidade que se pode infligir a alguém. Despir a pessoa do que é e fazer com que todos acreditem que é outra coisa que nunca foi ou poderá ser. 

E contra isso, quem anda a lutar?? 

sábado, 14 de junho de 2025

Menstruar não é normal

 A curiosidade fez-me pegar neste livro. 


De seguida reparei nos dizeres no canto inferior esquerdo onde diz "ciclo masculino" e pensei, por esta referência, que o livro foi escrito por um homem visando os mesmos.

Depois abri uma página ao acaso e coloquei os olhos numa frase ao acaso. 

Logo senti que estava diante de um disparate autêntico, um livro cheio de parvoíces misóginas, fruto de uma mentalidade cultural de ignorância onde a mulher é inferiorizada e o homem aclamado em excesso. 

Só há uma maneira de impedir uma mulher de menstruar. E essa maneira é um homem estar sempre a usá-la para sexo e mantê-la grávida. Como se fazem com as vacas para estar sempre a produzia leite.

Achei por isso que este livro era capaz de estar a enviar sinais de misoginia, de perpetuação do papel da mulher apenas como um de subjugação ao poder masculino.

Virei então para a contra capa e lá estava o género da autoria: homem. 

Mas não um homem qualquer: auto intitula-se um "verdadeiro génio". Bem ao jeito de muitos africanos que precisam de se sentir  superiores aos restantes e fabricam currículos para o aparentar.


Olhei novamente para a capa, a procura do clichê "doutor fulano cicrano".

Sabem o estilo... Como aqueles bem conhecidos anúncios nos jornais e revistas de charlatões africanos que se auto proclamam doutores "pai se santo" africanos super poderosos e milagrosos que oferecem ajuda espiritual e resolve "qualquer problema".

Mas na capa, o nome do autor não é precedido de um título auto atribuído. Talvez por precaução. Já na contracapa surge  a palavra "doutor" bem antes de seu nome.


Tinha de estar!

Olhando melhor a capa também vem escrito em cima á esquerda o primeiro nome do autor seguido da designação "pai da medicina".

Estes pequenos truques de associação mental e auto valorização para enganar as pessoas são amplamente conhecidos na Europa.

E digo Europa, porque na contra capa do livro assim surge essa referência para designar tudo o que não vem de africa. "escrito do ponto de vista africano  APROPRIADAMENTE condena o comercialismo europeu, pessoas descendentes da Europa assim como as descendentes de África vão encontrar neste livro a CHAVE para tornar seus corpos mais saudáveis".

Engraçado que, para conquistar um mercado mais amplo e usufruir do "consumismo" europeu que diz condenar (é mais desejar se associar), as "pessoas descendentes da Europa" podem usufruir deste livro.

Este livro serve para todos. É escrito por um génio. Perito na Arte e Ciência africana holística, diagnóstico e remédios.

Mas diz que a Menstruação na mulher não é normal! Mas se foi assim que Deus nos fez... Vem ele dizer que a natureza desde que o mundo é mundo é anormal?

Parece-me venda da banha da cobra. Bem ao estilo africano.

Creio que o próprio nome do autor é também ele uma fabricação visando impressionar um grupo. Suspeito não ser de baptismo e aposto que foi construído a partir de um aglomerado de nomes bem escolhidos, com significado holístico e mítico visando impressionar pelo status e influenciar grupos africanos pelo seu significado no imaginário das pessoas. Para dar credibilidade automática ao autor.

Ainda assim vou dar uma olhada, pois diferentes pontos de vista me interessam, ainda que suspeite dos mesmos. 

Onde diz que a menstruação da mulher não é normal ou saudável, vem escrito:

A menstruação é uma hemorragia. Hemorragias, seja onde ocorrerem, não são normais. Holísticamente, mulheres africanas negras numa dieta natural não menstruam. Estudos Antropológicos revelam que mulheres africanas anciãs não menstruavam. 

Mulheres holísticas seguem um ciclo reprodutor natural (até aqui tudo o que está a ser afirmado carece de explicação e também de fundamento, como costuma ser  comum neste género de autoria) com regras rígidas. Mulheres africanas anciãs não praticam sexo enquanto grávidas (uma forma de validar o homem pular a cerca), a amamentar ou a menstruar.

A amamentação durava entre 3 a 5 anos. ( Tempo esse que o homem africano se privava de qualquer atividade sexual pela esposa holística? Claro que não).

Sexo durante a gravidez ou amamentação provoca uma alteração de nutrientes e no nível hormonal. O que altera a capacidade em criar células saudáveis no corpo do bebê, diminuindo a saúde da criança por nascer. 

(Todos nós amplamente sabemos como todo o povo africano é altamente saudável, vende saúde. Aqueles pedidos humanitários para os alimentar, tratar da saúde em risco de morte por desnutrição... Devem ter sido todos inventados pelos europeus).

Relações sexuais em excesso e fora do ciclo (??) faz a mulher MENSTRUAR. Sexo á noite é anormal e fora do ciclo (ah, a explicação, depois do fato dado como certo...) e enfraquece os órgãos sexuais e a saúde. Sexo durante o dia segue o ritmo Circadiano do corpo. Sexo durante a noite explora emocionalmente e espiritualmente a mulher e contribuí para a hemorragia a que chamam de menstruação. 
 
O fluído da descarga vaginal (não a lubrificação para o sexo) causa a menstruação. As descargas vaginais são altamente concentradas em hormonas, vitaminas e minerais. É uma mistura muito concentrada que equivale ao valor nutricional do sémen. Nutrição que se perde devido à leitosa descarga vaginal e é a causa para que o tecido endométrio (pele do útero) perca a vitalidade e deteore. Esta deteorização celular é conhecida como hemorragia e é comum chamá-la de menstruação. 

Nenhuma mulher tem um ciclo menstrual lunar. Mulheres esquimós mentruam num ciclo solar a cada três anos ou mais. A sua menstruação é muito leve e não este jorrar de sangue da hemorrogia  mentrual dos dias de hoje. 

Menstruação entre mulheres que seguem uma dieta natural mas não seguem práticas sexuais holíticas ocorrem sempre durante o período solar. Períodos lunares são novas ocorrências entre as mulheres. 

Menstruação lunar (o período) pode ser uma fabricação social geneticamente transmitida de geração a geração. O período lunar pode ter sido causado pelo habitual consistente e persistente sexo lunar, orgias e violação da mulher e da dieta nutricionalmente inadequada.

Bem, e vou parar por aqui. Acho que ficam com uma ideia. 









domingo, 8 de junho de 2025

Bloody finger: dedo ensanguentado

 


Há medida que ia retirando os molhos de envelopes da máquina reparei que em alguns ficava uma mancha vermelha sangue.

E era sangue mesmo. O meu. A sair da ponta de um dedo onde, desde que o meu turno começara, as 8.30, repousava um penso.

Mas com um trabalho como este não há luvas -,quanto mais pensos, que resistam.

E assim um monte de gente que não conheço espalhadas pelo reino unido inteiro irão receber amanhã cedo cartas com o meu ADN. A minha mancha de sangue.

Enquanto puxava os molhos de envelopes fila a fila para os passar pela máquina novamente, em alguns a mancha ficava, noutros não. Só depois percebi que eram todos envelopes do NHS. (Sistema nacional de saúde britânico).

Pus-me a pensar se a marca ficar ao acaso nuns e não pegar noutros - (mesmo quando passei o dedo para ver se ficava) significava que os manchados de sangue, apontavam para as pessoas com doença séria e se os que não se mancharam eram os das pessoas que iam ter boas notícias.