quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

De volta


De regresso ao UK.
Cheguei feliz mas de momento estou menos feliz.


Na minha ausência algum colega de casa decidiu «servir-se» de coisas que estavam guardadas no meu armário na cozinha. Ora, que raio de casa partilhada é boa de se viver se alguém tira comida e  faz que não tirou? Que confiança pode-se depositar e o que impede alguém de temer que quem tira comida no armário particular de outra pessoa não se serve também de dinheiro deixado no quarto?

Quem o faz só se prejudica.

Já disse uma vez, à «nova» rapariga que me roubou bolachas da dispensa - estão lembrados? Foi em Julho. Eu virava as costas e assim que isso acontecia, um pacote de bolachas desaparecia da minha dispensa, que ninguém deveria abrir sem ser eu. Horas depois, outro pacote. Ambas em casa e ela sem me dizer nada, só se servindo. Quando a confrontei muito simpaticamente e sem me mostrar chateada, pedi-lhe que me avisasse se voltasse a precisar se servir de algo meu. Vindo ter comigo para me informar ou deixando um bilhete.

Divido casa com outras três pessoas. A mais recente já me disse que está de partida - ainda não pude apurar os factos mas ao que parece existiu um conflito entre esta e a rapariga «nova» e o uso de um palavrão (estamos no UK!) é capaz de ter sido o factor que influenciou que as «cartas» ditassem a partida dele. Isso e o facto do terceiro indivíduo estar, estranhamente e desde o início, sempre a tomar o partido da moça. A sua incapacidade para criticar algo que parta dela contrasta com a prática implacável e omnipresente que sempre demonstrou com os outros. 

Agora, quando lhe perguntei se sabia de alguma coisa sobre o desaparecimento daqueles artigos, assim que abri a boca para mencionar que havia pedido a ela que me avisasse se tirasse algo, ele corta-me a fala para dizer: "Porque não perguntas ao outro?". 

Foi só preciso eu a mencionar de leve. Não com leviandade mas dando um exemplo real e fundamentado. Nem sequer levantei suspeita ou a acusei. Só estava a mencionar um facto consumado que não lhe contei nem mais mencionei (mas certamente ele já saberia por meio da outra que deve ter contado a história de forma divertida). Ora, um tipo que tranca os seus pertences no quarto, que não gosta nem de imaginar que lhe tocam nas coisas... que por qualquer coisinha insinua coisas dizendo que "não está a dizer que foi fulano mas...", não faz sentido que, principalmente existindo antecedentes, um tipo destes não direcione suspeitas na direcção da moça «nova».

Por qualquer coisinha a rapariga que cá estava antes e saiu em agosto, estava sempre a ser criticada por ele. A pobre mal se podia movimentar, fosse para a esquerda ou para a direita, ele tinha algo a dizer sobre isso. Como quem não quer a coisa, manda umas tantas insinuações para o ar que estraga o dia de qualquer um. Comigo não tem resultado, porque com ele adotei uma estratégia de "está sempre bem". Mas topo-as todas. Comecei até a reparar na linguagem gestual, do significado de cada movimento que visa, de alguma forma, transmitir uma mensagem crítica a alguém da casa.  

Ele já me "convidou" a sair desta casa umas tantas vezes, desta forma «indireta». É o que cá vive há mais tempo, tem cumplicidade com a senhoria e sabe como «falar» com ela (manipular). Mas o seu maior defeito é achar que é o que manda e decide tudo. De uma forma ou de outra, todos acabam por se vergar à sua vontade. 

A forma como se dirige à «nova» rapariga desde o início não faz sentido algum, não corresponde ao que se mostra ser com todos os outros. Outra coisa que ele fez foi, assim que eu mencionei que me desapareceu algo, ele diz que também lhe tiraram algo que tinha guardado na sala. "Acho que foi o amigo do outro" - "mas não estou a dizer que foi ele" - diz-me. 

É que por uns dias esteve cá um amigo do «outro» a viver. Uma pessoa bem educada, simpática e todos pareceram querer conversa com ele. Principalmente este tipo mais velho, que o monopolizava. Mas BASTOU o facto de alguém que não ele trazer um desconhecido para dentro desta casa para agora ele insinuar que desapareceu uma coisa que lhe pertencia. "Não quis dizer" mas mencionou de imediato o «estranho». Não mencionou a rapariga, que deixa coisas ali na sala durante dias e é um tanto de tirar se lhe apetecer. Se calhar precisou daquilo para algo e simplesmente foi lá e se serviu. 

É só porque o "perfil", essa eventualidade, encaixaria mais na sua personalidade. E ela tem antecedentes. Mas não. Suspeitar dela? Jamais! Foi um estranho... E por causa disso, por causa dos "outros" colegas da casa não saberem escolher quem trazem cá para dentro, a regra silenciosa e ditadora vai permanecer, refortalecida: é proibido trazer pessoas para dentro desta casa.
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Eu gostaria muito que ela tivesse a atitude adulta de vir ter comigo e me contar que se serviu da minha dispensa e da louça do meu armário (que está em parte incerta, mas não está na cozinha). Quando ela me viu chegar falou-me só de passagem, como se não conseguisse encarar-me e logo virou as costas seguindo caminho como se a minha chegada após algum tempo não merecesse mais que um abafado "ah, estás de volta?". 

Mas tenho quase a certeza que vai manter-se TRANCADA no quarto, receosa que a confronte. De momento é o que quero fazer. Ou melhor: preciso.

Preciso de confrontá-la para reestabelecer a paz e a confiança nesta casa. Mas não deveria ter de ser eu a fazê-lo. Devia partir dela essa atitude. Ela é que não me deixa alternativa. Se eu quiser ficar de bem tenho de esclarecer as coisas e a confrontar. Se não o fizer, não vou ficar bem, nada ficará bem. Louça e comida não podem desaparecer de uma casa e "ninguém tirou".

Voltou a ser o tal fantasma??

Sei que pode ter sido o outro. E estou a aguardar por ele para entender se de facto foi. Mas digamos que quando se divide uma casa com estranhos, acaba-se por conhecer como são as pessoas em relação aos pertences dos outros bem no início. E digo: não suspeitaria de ninguém aqui dentro, excepção feita da «nova».


2 comentários:

  1. Viver com estranhos é sempre um problema, principalmente quando não se comportam como nós achamos que deviam comportar-se. Na dúvida é preciso mesmo perguntar para que não restem desconfianças!
    kiss

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  2. Dividir uma casa com outras pessoas tem destas "surpresas"...

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